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21 de setembro de 2005

Usando as garrafas...fazendo novo Zulmarinho - XIV

"Fio": Um café na Esplanada

carranca
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Usando as garrafas...fazendo novo o Zulmarinho - XIV Hoje, 18:52
Forum: Conversas de Café

Mais uma corridinha na areia molhada pelo zulmarinho e nada. Não tenho novidades. Se eu tivesse posto uma WebCam, ligada a um satélite qualquer eu saberia onde ela estava neste momento. Mas… pouco importa. Ela deve estar a seguir o seu rumo, sem atropelos, sem interferências. Deve ser esta a vida de uma garrafa em alto mar.
De regresso a casa, ao meu cantinho, ao único lugar do mundo onde tenho a solidão por companheira e conselheira, onde posso rever todos os filmes que vivi, gargalhar ou chorar, sem reprovações ou aplausos, continuo a rever o filme da minha paixão. De quando a vi, de quando lhe senti.
Pior do que magoar o coração de alguém é magoar o nosso próprio coração. Eu queria ter-me apaixonado pelas coisas certas. No meu conceito, coisas certas são aquelas coisas com vida que nós amamos e que estão dispostas a amar-nos ou, pelo menos, a não ignorar-nos. São aquelas coisas que desejamos com ardor, que queremos agarrar e jamais largar, aquelas coisas pelas quais às vezes sentimos uma febre inexplicável, arrepios de frio em dia de calor e pelas quais fazemos coisas que jamais pensaríamos ser capazes de fazer.
Mas eu, se tiver que escolher, num universo de umas cem coisas, 99 das quais eu sei que são coisas certas, eu opto sempre pela única coisa errada do cardápio. É sistemático, infalível e indomável.
Paixão, diga-se de passagem, é impassível de controlo. Eu não consigo simplesmente entregar-me a um relacionamento se não me deu aquele frio característico na barriga, se não senti aquele pulsar, se... não me entregar de corpo e alma. Se eu fizesse isso, jamais chamaria de relacionamento. Entendo isso, no máximo, como uma boa maneira de fazer o tempo passar. Não quero parecer frio e menos ainda pretensioso, mas a verdade é que eu já amei muito e não aceito qualquer coisa para disparar o meu coração. Nunca aceitaria outra coisa no meu coração para ocupar o lugar dela, somente para o ter preenchido. Tudo culpa da vida, que me fez assim.
Porque ontem fiquei arrasado por ter visto uma criança a chorar e não ter podido fazer nada? Ela apenas queria o colo da mãe, o carinho da mãe, sentir o perfume da mãe.
Eu ainda estou tatuado por dentro.
Porque afinal eu pareço ser um perfeccionista, quando para escolher uma simples garrafa para levar uma mensagem até ao início do zulmarinho, esperança minha, tive que a escolher pelo método da comparação?
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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