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12 de setembro de 2005

Usando as garrafas...fazendo novo Zulmarinho - VI

Este vinho sabe-me mesmo bem. É de facto bom. Caro mas presumivelmente bom.
Pela janela exageradamente aberta entra a brisa que vem do zulmarinho trazendo os sons impuros que desligo quando deles me apercebo, ficando-me pela solitária solidão de ter uma missão entre mãos: escrever-te a mensagem que irá ao sabor das ondas, das correntes e do vento na minha vontade de chegar onde eu gostaria que chegasse. Ao sabor da sorte para um destino, que embora desejado não será de todo possível controlar.
A caneta não falha. Eu posso ter dúvidas na escolha das palavras, nas frases que te quero dirigir, mas tudo o resto tem de estar na perfeição, não só porque mereces mas também porque muita coisa está aqui em jogo. Quero que entre nós permaneça a transparência, a claridade de sermos nós. Quero que saibas da pureza dos meus sentimentos, das formas dos meus fantasmas, das cores dos meus pesadelos e, fundamental, quem eu te sou.
Ainda me resta um pouco de juventude, que me impulsiona a levantar a cabeça e andar em frente, que me faz querer-te mais do que nunca, devorar-te compensando todo o tempo perdido. No mais, tudo se foi e apenas ficou a pergunta se a felicidade realmente existe. O que eu sei é que não vou passar o resto dos meus dias amaldiçoando o momento em que olhei os teus olhos pela última vez e cometi a loucura de me guiar pelo instinto, pela incapacidade de ser racional, por ter optado pela opção do mais fácil em detrimento do que devia ter sido uma decisão realmente calculada, amadurecida. Foi um fazer contas de cabeça sem usar a prova dos nove, sem cantar pelos dedos. Foi um impulso selvagem da irreverência da idade. Momento irreflectido que me está a ser muito caro.
O Zulmarinho hoje está assim como que revoltado, salpicando as suas lágrimas para a minha cara, empurrando a sua aragem contra o meu rosto fazendo-o arrepiar. Meio copo de vinho e logo aqueço.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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