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15 de setembro de 2005

Usando as Garrafas...fazendo um novo Zulmarinho IX

Passos firmes, seguros, mostrando uma serenidade que há muito não mostrava, mesmo um certo ar de felicidade, levam-me até à areia beijada pelas ondas do zulmarinho. Corpo desnudado, aproveito para refrescar-me com as lágrimas que ele teima em deitar para o ar e que o vento faz com que cheguem a mim.
Numa mão a garrafa escolhida com a mensagem escrita no papel amarelado, hermeticamente fechada, noutra a taça de vinho, previamente cheia. Um discurso dito em silêncio, um erguer da taça aos céus como que a desejar boas correntes e bons ventos, o levar desta à boca e beber tudo de uma forma entendida e, numa sequência sem intervalos, atirar a garrafa, com toda a força que tinha, para a alma, para o mais próximo possível da linha do horizonte, que parece delimitar este mar que vai fazer a fineza de a levar até a um destino.
Já de costas para o zulmarinho, terminado todo o ritual, penso se algum dia receberei uma mensagem em resposta ao meu arrependimento.
Não é que conte com isso. Não espero por isso, com ansiedade doentia. Mas porque então fui à beira mar, sentei-me na areia e esperei que a maré baixasse e atirei com toda a força a garrafa âmbar em direcção ao alto mar? A resposta é simples: porque ninguém em sã consciência ousa duvidar do poder do acaso. Volto para a minha cadeira junto à mesa de madeira queimada pelo Sol, o CD continua a repetir-se. Enumeráveis as vezes que ele rodou, atirando-me para uma forma solitária de estar acompanhado. Desligo-o. À minha frente duas garrafas vazias e uma com um pouco de vinho, desrolhada, que verto para dentro de mim sem a intermediária taça. Papeis desarrumados, muitos deles amarfanhados como que a mostrar alguma raiva, algum descontrolo momentâneo, algum vazio neuronal.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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