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24 de setembro de 2005

Usando as garrafas...fazendo novo Zulmarinho - XVII

Enquanto revejo os filmes que vivi ou sonhei, um sentimento de incapacidade me acompanha, diante dos factos desta vida. E por mais que eu tente, não consigo ver uma luz no fim do túnel, uma garrafa reluzente gritando que está ali. Ouço as ondas do zulmarinho, conto as muitas birras geladas que verti, conto as vezes que olhei para lá da linha recta que é curva na tentativa de chegar bem mais longe.
Com a chegada do Outono não me apetece sentar na mesa da Esplanada, ouvir os mesmos lamentos das mesmas pessoas que não conseguem levantar voo. Ouço os meus porque os considero uma doença incurável. Frutos de amores proibidos, cicatrizam-me a alma em pequenos fragmentos fibróticos de raivas contidas.
A culpa deve ser destes óculos rectangulares nesta minha cara de palerma... Durante anos de pensamentos irregulares a minha luta é para que eu me leve menos a sério. Fracassei. Não me consigo libertar desta Sagrada Esperança de caminhar sobre pensamentos e ideias minhas, não consigo navegar por mares escolhidos por mim sem ter um sentimento de culpa sempre por trás.
Noites de cacimbo, frias, que gelaram-me até aos ossos, chuvas tropicais que me molharam até à alma. Mosquitos zunindo toda a noite em voos rasantes à espreita de um pouco de mim a descoberto. Sempre por tua causa, sempre por causa do teu perfume.
E agora que te mandei uma mensagem escrita em papel amarelado dentro de uma garrafa de cor de âmbar, aqui estou a tentar curar-me do arrependimento arrependido de tê-lo feito, numa mistura de alegria sem par.
Aqui estou eu a pensar, ao mesmo tempo que sou espectador do filme em que me projecto, as venturas e desventuras de um louco. É como louco, apenas como louco, que desejo ser conhecido por mim. Fracassei.
Nem o raio de uma garrafa cumpre o seu objectivo. Talvez a culpa não seja dela, talvez.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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