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19 de setembro de 2005

Usando as garrafas...fazendo novo Zulmarinho - XII

"Fio": Um café na Esplanada

carranca
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Usando as garrafas...fazendo novo o Zulmarinho XII Hoje, 19:48
Forum: Conversas de Café

Eu gostava mesmo era de saber onde pára a garrafa neste instante.
Passaram-se uns dias e não há notícias dela. Terá ela já ultrapassado a linha do Equador? Terá ela conseguido suportar o calor?
Em boa verdade digo que todos os dias vou fazer a minha corridinha na areia molhada beijada pelas ondas do zulmarinho, sempre com os olhos postos na imensidão azul na esperança de ver, ou devolvido ou uma nova, com a resposta do outro lado da linha. Todos os dias têm sido corridas em vão. E todos os dias digo que isso não me interessa, penso que eu não conto com uma resposta.
Olho para a Esplanada, janelas fechadas, algum ruído, pouca gente, sinais de que o Verão acabou. Só gente sentada a ler o periódico ou o último romance saído numa livraria perto dali. Ninguém sabe que passei horas escrevendo uma mensagem em papel amarelado e que a atirei numa garrafa para o âmago desse zulmarinho. Porque agora são novas gentes. Agora são pessoas que fugiram da mistura de povos que para aqui vêem em busca da tosta corporal, do bronzeado que mais não é que o betume de camuflagem do passar dos tempos, carregando baterias para mais uns meses de rotinas e correrias para lado nenhum.
Depois venho para casa, onde solitariamente revejo todos os segundos da vida vivida, sempre na esperança de ter um sinal.
Os CDs estão intocáveis. Quero o silêncio absoluto, quero ouvir-me pensar.
Como estará ela, passado todo este tempo? Será que ela guarda alguma memória, alguma recordação, mesmo que seja vaga?
Os meus cabelos vão lentamente branqueando, as pregas da cara vão-se acentuando, os olhos já não brilham como brilharam. E ela? O perfume dela ainda será o mesmo?
Projecto na parede do pensamento os filmes que penso ter vivido.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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