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23 de setembro de 2005

Usando as garrafas...fazendo novo Zulmarinho - XVI

Eu sei que a vida não foi feita para ser fácil, isso é facto. O motivo de estar aqui, vivendo a minha vida, chorando sobre o leite derramado, lastimando ter perdido o vinho que não bebi, não ter dado os abraços que não dei, ter deixado para trás sonhos que podiam ter sido realidade e por causa de fantasmas pintados a carvão na minha alma foram simplesmente abandonados ou apagados, está num nível bem mais elevado do que eu possa imaginar. A nossa passagem por esta vida serve para, entre outras coisas, que se aprenda algo de valor. Quando nos damos conta disso, começamos a reflectir sobre um sentido maior que existe por trás de tudo que está ao alcance dos olhos, paramos para observar e tentar entender a razão de cada pequeno elemento que encontramos à nossa frente. E muitas vezes fracassamos, porque isso escapa ao nosso entendimento. Mas não temos que entender, a ideia não é essa. Estamos aqui para viver e pronto. Por isso muitas vezes me ponho a pensar se tudo o que acontece, ou deixa de acontecer, na minha vida tem um propósito. Será que eu realmente tenho que passar por situações que me deixam infeliz por vários momentos? Será que tudo poderia ser diferente se as atitudes, a minha e a de outros, fossem diferentes? Ou tudo está programado para ser assim e eu não tenho o poder para mudar?
Será que vou ter de deixar de dar as minhas corridinhas na espuma do zulmarinho, de estar sempre a olhar para um bombordo qualquer na vã esperança de encontrar a resposta que anseio e que digo que pouco me importa? Pois sempre que acabo de correr, de olhar para a Esplanada vazia, me dá para ver os filmes da vida, umas vezes a cores, outras a preto e branco, umas vezes com som sofisticado, outras mudo.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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