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26 de setembro de 2005

Usando as garrafas...fazendo novo Zulmarinho - XVIII

Hoje, mais uma vez, resolvo olhar para mim. Nem um sinal vem desde lá, do destino que lhe caiu em sorte.
A escuridão da solidão caiu sobre mim desde que resolvi atirar aquela garra para longe de mim, para dentro do zulmarinho, com a esperança, mesmo por mim negada, que ela chegue a algum destino e entregue a minha mensagem escrita em papel amarelado. Sei que ela foi bem rolhada por isso o sal desse zulmarinho não lhe desfez a alma, a essência, a existência.
Mas hoje, olhando para mim decido que queria estar com amigos, ver filmes em que eu não sou o artista principal, comer pipocas, beber cervejas geladas, rir e esquecer que parei com a vida num determinado momento. Pouco me importa se tenho ou não emprego, porque sei que estou a ficar velho e ainda não descobri se tenho uma depressão ou se é apenas o remoer da consciência de não ter tomado as medidas certas nas horas certas. Eu que um dia pensei em ser psicólogo estou aqui pregado nas minhas dúvidas e incertezas habituais. Não é possível continuar a pensar como penso.
Ainda hoje me torturo por não ter feito algumas escolhas, por ter seguido caminhos impensadamente, não ter pesado os prós e os contras. Tenho feito de tudo um pouco, mas pouco de tudo. Penso no bem estar alheio e esqueço-me do que eu gosto. Amigos? Todos ocupados. Assim como eu.
Preguiça ou inércia de sair à rua e ver a vida lá fora.
Descobri que não sou inteligente, nem burro. Só sou limitado pela dúvida. Limitado pelos excessos de sentimento, por uma cela invisível e forte como rocha. Carrego um fardo pequeno e não tenho a força que pensam que tenho ou então ele é demasiado pesado.
Já disse que não quero apaixonar-me novamente. Pois é a que tenho é uma paixão daquelas de tirar o fôlego. Intensa e devastadora, de tremer e suar. Arrepiar a pele e desencadear todas as fantasias desta vida.Sou invisível como a minha cela. Na verdade se estou dentro da minha cela ninguém me pode ver.
Acho que vou abrir uma outra garrafa de vinho. O vinho dá-me sono lá pela terceira ou quarta taça, ou far-me-á caminhar pelos sonhos da vida vivida. Pelo menos penso eu, já que não me lembro quando isso acontece. O aborrecido é que depois acordo e tudo continua na mesma. Acrescentando-se a dor de cabeça.
Quero voltar a dançar, mas a verdade é que tenho medo. Quando danço desligo do mundo, sou eu e a música. Já me disseram que flutuo quando danço. Eu sei levitar mas não vejo quando o faço pelo que não consigo dançar sobre as ondas do zulmarinho e deixa-me levar até perto da garrafa que um dia atirei ao mar e até hoje não a vi de volta, nem sei o rumo que tomou.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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