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31 de dezembro de 2009
dum ao outro ano
Me sento assim num sentar despreocupado a rever o que ficou para trás e só me sabe o sabor da palavra te perdoo. Na boca, no cérebro e nas lágrimas, tudo tem o sabor do perdão. Pode ser do medo de te perder, de não ter forças para te esperar mais por ti, mas o que me sabe é só o gosto dessa palavra chamada perdão.
Podes escrever nas linhas da tua memória que me doi muito não saber de ti, que o teu lugar em mim está ali gravado nas chamas da saudade dum amor que arde lentamente.
Me sento assim despreocupado porque o perdão, o medo e a esperança me dão forças para continuar na procura das palavras com sabor de ti, mesmo quando me fecho no silêncio dos ventos tristes da nostalgia.
Bom ano de 2010 para ti e todos nós!
29 de dezembro de 2009
Talvez amanhã
Me sento por aqui num nenhures qualquer e desato a ver que amanhã é hoje e que tu apenas me fizeste apaixonar para me veres de coração desfeito a cair aos pedaços num esquecimento raro de frequência moderada. Eu não sou apenas uma gajo raro, pois já tenho idade para saber se me entendo nos defeitos da dor de cabeça provocada pela privação do teu perfume, no arrepio da ausência do teu calor.
Estás em festa e não me tens ao lado, vais continuar em festa rumo á glória e eu ingloriamente aqui em nenhures vou ficando a ver-te com os olhos de ver ao longe, contando os pôr de sois que perdi, as trovoadas que não apanhei, sempre a pensar que é amanhã que me vens buscar para estar no teu mar, abraçado no teu luar.
Estás em festa e eu acho bem. Sou demasiado raro para receber o teu carinho ontem e hoje. Talvez amanhã!
28 de dezembro de 2009
Sonhar é facil
Passa um dia após outro. Uns entram na rotina dos excessos, outros nas simulações excessivas da rotina enfadonha. Mas passam o dia e, noutro que nascerá lá estará o lamento excessivo da rotina. Uma atrás da outra e quase sempre a mesma ladainha. Diariamente se afogam na melancólica rotina do lamento, nas ondas da tristeza que lhes puxa para mar alto.
Eu, aqui, neste canto de mim, lamento apenas que tenham fechado a barra, aquela por onde eu navego para os meus mares quentes do sul, ali ao pé do lá onde o perfume tem mais cheiro, onde o calor é mais quente e onde o sorriso é mais riso.
Não custa chorar porque é barato sonhar.
27 de dezembro de 2009
23 de dezembro de 2009
Mais um ano
Quase se finda mais um ano em que perdi a alma no vento dos entardeceres da vida, em que ela cavalgou por becos sem saída e por medos labirinticos dos pesadelos sonhados nos sorrisos das noites claras em que dormi acordado pensando nela. Mais um ano em que andei à deriva no rosto pálido da incerteza e no brilho das ilusões. Mais um ano de mãos vazias em que o volátil se me rendeu na incapacidade de voar no físico espaço da roda e me transportou nas nostalgias de ontem.
Mais um ano que se gastou nos pés descalços de calcorrear avenidas, ruas e vielas da imaginação que nos prega partidas, das realidades que sonhamos não nos acontecem. Mais um ano em que o vento gelou o horizonte na distância impossivel de lhe tocar.
Mais um ano que as noites são passadas sob estrelas estrangeiras, mas depois ouço uma voz amiga me cantar:
Não penses no passado porque não o podes mudar,
Não penses no futuro porque não o podes prever
E não penses no presente porque não o comprei!!
Boas Festas e nos Sonhos Também
21 de dezembro de 2009
Um suspiro por hoje
Tenho passado horas a pensar, damasiadas horas, entenda-se, a perguntar o que seria de mim se não fosses tu. Se não existisse o meu sonho como é que seria o verdadeiro outro eu que não olharia o zulmarinho? É evidente que tenho presentimentos e dúvidas secretas do que eu poderia ser. Mas os meus olhos castanhos não teriam brilho, o meu rosto não teria sorriso e a minha voz não teria sentimento.
Se não fosse o sonho, se não fosses tu o meu sonho, eu seria um fantasma de mim, um suspiro apagado no desespero de procurar-me em vão no vão dum abismo, um uivo silvado do vento norte que sopra para sul.
Tenho passado horas mortas, assassinadas pelo tédio, estranguladas pela inércia a pensar-te em como seria eu sem ti. É o sonho de cada um… sina dos vivos, memória dos mortos, presença dos ausentes momentos vagabundos.
Sonho-te porque eu apenas quero é sonhar-te.
20 de dezembro de 2009
14 de dezembro de 2009
A 7ª e última desde aqui
13 de dezembro de 2009
12 de dezembro de 2009
A 6ª desde aqui
11 de dezembro de 2009
A 5ª desde aqui
10 de dezembro de 2009
A 4ª desde aqui
9 de dezembro de 2009
A 3ª desde aqui
8 de dezembro de 2009
A 2ª desde aqui
7 de dezembro de 2009
A 1ª desde aqui
6 de dezembro de 2009
5 de dezembro de 2009
Instantes (21)
4 de dezembro de 2009
Instantes (20)
A realidade é que as nossas vidas se foram afastando. Primeiro geográficamente e, progressivamente, até ao ponto em que hoje eu não sei como és e quase tenho a ceteza que não sabes como sou.
As palavras que nos podiam ajudar a comunicar, encortar todas as nossas distâncias, se encontram nos espaços do silêncio, prisioneiras do passado, afundadas nos medos, caladas nas sepulturas dos fantasmas que inventámos, nos receios de sermos o que afinal sempre fomos, nascidos um para o outro.
Afinal de contas também este amor não passou de um instante nas nossas vidas.
3 de dezembro de 2009
Instantes (19)
Tantos instantes houve em que guardei a minha expressão do teu olhar. Não queria glotificar-te nem te envaidever por saberes que estaria ali alguém que amar-te-ia até à morte, por instantes ou eternamente só o tempo o poderia dizer. Mas eu guardei para mim muitas expressões, olhares, sorrisos, aparencias perfeitas, máscaras de felicidade ou olhares de tristeza para não reconheceres a minha identidade verdadeira. Escondi-te como se isso fosse o perfeito, o reconhecimento da tua superioridade, a tua linha aprumada dum rumo delineado a régua e esquadro.
Tantos instantes houve em que tu poderias ter sido feliz, mas a tua arrogância, altivez, comportamentos fora de moda deitaram a perder sentimentos humanos. E eu, se calhar outros, fomos perdendo os instantes, um atrás do outro.
2 de dezembro de 2009
Instantes (18)
Apenas num instante e se escapam sentimentos por entre palavras abruptas que feram corações. Lembrei-me disto porque dei comigo a recordar-me dos teus silêncios que chegavam a ser insuportáveis. Cada dia que passava, cada dia em que eu te procurava como que se fosse o ultimo dia da minha vida, recebia a dor surda no peito do teu de desinteresse agoniado no meu olhar. Pensava eu que eu era o mais forte do mundo mas cada dia passado era uma prisão de raiva acumulada que explodia nas palavras que dizia no meu interno silêncio. Pelo menos assim não explodia à luz do dia nem seria motivo de chacota porque não me ligavas, porque me despresavas, porque nem sabias que eu existia ali ao teu lado.
Eram essas palavras ditas em surdina, misturadas com o teu silêncio, que faziam que cada instante fosse de raiva amalgamada de amor que eu não mostrava senão ao meu espelho.
1 de dezembro de 2009
Instantes (17)
Na verdade eu acordo diariamente com a necessidade de olhar-te e como não te vejo preciso dum abraço de silêncio.
Sanzalando
30 de novembro de 2009
Instantes (16)
Não sei em que instante me encontro mas na verdade tenho ganas de sair por aí a correr, correr contra o vento que trás a areia amarela e fina do deserto e que me pica as pernas nuas dos calções de caqui como se fossem afiadas agulhas dum qualquer vodoo. Tudo porque sei que nesse instante eu me ia esquecer do teu gelado modo de me tratar, a ortografia das palavras que não pronunciei iam ser esquecidas nas páginas do tempo e eu continuareia a ser o menino rebeldemente apaixonado na contra natura da classe. Nesse exacto instante eu não me iria preocupar com o que hoje estaria a dizer sobre ti, nem me iriam cair as lágrimas secas dum choro surdo que faz tempo choro na escuridão da solidão. Nesse instante, que eu não sei qual é, jámais me iria preocupar com os erros que posteriormente cometi, os sorrisos que fiquei por sorrir, a verdade que calei, os gostos que fingi não ter.
Nesse instante, ou noutro qualquer semelhante, eu não me lembraria de perguntar o que é feito de ti depois deste tanto tempo que durou o instante.
29 de novembro de 2009
28 de novembro de 2009
Instantes (15)
Pensando em ti peguei no carro e com a minha falta de experiencia o deixei ir abaixo uma ou duas vezes. Queria ir espairecer, esquecer-me de estar ali na varanda a ver se te via, porque isso não é vida. Depois de ter conseguido arrancar, de janela aberta, ouvindo o vento que soprava para dentro afoguei as palavras que ia me dizendo em surdina. Nessa altura, me lembro como se fosse hoje, fumava, conduzia e falava os meus discursos indirectos numa sintonia do rádio que dava a mesma música umas tantas vezes por dia porque estava na moda. Estacionei o carro na beira da praia e fiquei a admirar o azul celeste do céu em contraste com o azul mar do mar.
Parou o barulho do vento em turbilhão na janela e as minhas palavras eram audíveis pelo que me silenciei por estar farto de me ouvir lamentar dos amores que não me tinha e que eu apaixonadamente sofria. Era Sábado, Domingo ou Segunda, porque podia ser um dia qualquer, já que quem sofre de amor não escolhe nem a semana.
Ainda me parece ver reflectido no vidro a minha imagem de gente triste sem lágrimas, ouvir o choro que não se via e apanhar no chão as tristezas que soltava nos ais calados.
Peguei novamente no carro, abafei-me nos ventos laterais e segui sem rumo numa estrada que ainda percorro como se esse instante não fosse mais que a eternidade da paixão efémera.
Ainda hoje, quando olho nas estrelas eu vejo o céu azul celesta dessa adolescência glorificada.
27 de novembro de 2009
Instantes (14)
Foi apenas mais um dos erros que eu cometi: calar-me sob o teu olhar quando te podia dizer as coisas todas que afinal nunca te cheguei a dizer. Foi um erro eu ter dado conta que não eras o que eu queria que fosses mas apenas eras o que eu queria para mim. Foi um erro dar-te todos os meus instantes nas oportunidades que não me deste em troca, para eu te demonstrar a minha verdade, o meu querer e a importância que eu queria ter em tua conta. Foi um erro eu querer dar-te abraços e muitas palavras de amor sem ser o teu igual mas o teu paralelo assimetrico que te via nas esquinas dos passeios com ganas de ser gente antes de tempo.
Foi um instante errado que me fez tremer de medo ou de frio. Ainda espero ter respostas para os instantes em que dei conta que pensava que podia ser feliz contigo.
26 de novembro de 2009
Instantes (13)
De instante a instante o tempo passou. Voltaram os medos, as dúvidas e me fui esquecendo do som das suas palavras. Não me esqueci de ver o porte altivo como às vezes me olhava. Não era para me ver nem para perceber o que eu fazia ali. Era mesmo só para dizer que eu não devia estar ali. Nem era preciso dizer uma só palavra. Bastava ouvir o seu olhar.
E eu, sempre fixado na mesma ideia, sentia no ar uma promessa de encontro. Reenconro afinal, porque eu já tinha tido um olá. Eu sabia de cor e salteado todas as palavras que lhe ia dizer. Ia ser um regalo. Mas afinal foi apenas galo. Nunca houve esse encontro que eu pensava ia ser reencontro. Foi um instante que se evaporou por falta de tempo para ele acontecer.
25 de novembro de 2009
Instantes (12)
É hoje, me disse eu para me encher de coragem. Ninguém imagina, ninguém espera, por isso hoje é um bom dia para eu lhe dizer tudo o que lhe sinto. Desde madrugada que eu decoro as palavras, o calor que lhes ponho, a entoação que lhes devo dar. Ensaiei tantas vezes que até de olhos fechados eu vejo o lugar, as testemunhas e o ar do sítio que eu escolhi. Bastar-me-á uns segundos para uma nova era da minha vida começar.
Basta um instante e a normalidade feliz voltará a mim.
Todo o caminho repeti vezes sem conta. Cheguei e talvez por ser feriado não havia ninguém. Era feriado e estava frio. Querem-me ver que hoje não abre a praia? Voltei para casa e me esqueci de mim porque mais uma vez eu tinha perdido por outras causas o meu instante.
24 de novembro de 2009
Instantes (11)
Naquela noite fui ao cinema. Queria sair da rotina e como sempre impontual cheguei estava no intervalo. Mas foi no cinema que ela me tinha dito a primeira palavra. Um longo e eterno olá. Três letras que me marcaram como um discurso de horas doces. Como eu queria ser feliz, voltei ao mesmo lugar e tentei ali reouvir o olá como se ele tivesse ficado estático ali para eu lhe ouvir tantas vezes eu me tivesse vontade. Cheguei e ouvi o silêncio do ruído circundadnte e nem uma letra saída da voz que eu reconhecesse ser a dela. Devia de ser por eu ter chegado tarde ou ter escolhido erradamente o momento.
Foi um equívoco meu. Afinal de contas eu só queria ser feliz e reviver o momento e não tinha esse direito. Só podia ser castigo da minha impontualidade e de ter perdido o instante real.
23 de novembro de 2009
Instantes (10)
Recordo-me daquele instante como se ele tivesse sido agora. Já o vivi tantas vezes de memória que basta clicar aqui num pay mental e ele se projecta que até parece um filme.
Naquela tarde em que chovia, como só chovia na minha terra, uma gota a cada 10 minutos ou coisa parecida e a gente ficava desolada com tamanha chuva, ela me olhou, sorriu e me disse olá. Era para mim porque ali só estava mesmo era só eu. Aceitei aquele olá como se ela o tivesse dito com todos os amores do mundo e sorri num engasgar de sons que tentavam dizer um olá de retribuição. Era de todo inesperado aquele momento que seria igual a tantos outros se não houvesse no ar o som estático dum olá que me foi dito.
Aquele lugar ficou marcado para sempre como o lugar do primeiro encontro. Pena mesmo é que a chuva não deixava ouvir uma música dum carro ou de outro lugar qualquer para eu dizer que a música tal era a nossa primeira música e ainda hoje eu lhe ia cantarolar.
Aquele instante ficou marcado. Era o primeiro encontro.
Aquele instante também ficaria marcado como o último.
22 de novembro de 2009
21 de novembro de 2009
Instantes (9)
Hoje me deu para ver uma manhã de praia, quando lhe ia de noncakus, tronco nú, mostranto meu corpo de Tarzan, após rigorosa dieta e esqueleto bem desenhado sobre a pele bronzeada. Quando lá cheguei, a vi esbelta no seu biquini, que tenho uma vaga ideia de ser um azul certeza, se é que essa côr existe. Olhando-a, deu para ver que ela antes de sair de casa pergunta ao espelho quem é a mais bela da cidade. A ideia não foi porque lhe achei mais bonita que nunca, isso já me havia passado com o tempo, foi apenas porque me recordei que as bruxas devem ter espelho em casa e eu agora tento lhe arranjar defeitos para mais rápido lhe esquecer.
Me sentei no ecran de cinema e fiquei ali a lhe olhar para ver que o nariz assim, o peito assado, as pernas eram pernas. Vulgarmente diria que fiquei ali a arrajar defeitos que não consegui ver.
Olhei-a de alto a baixo e raios me partam que perdi a vontade de sair daquele poiso onde tinha amplo campo de visão.
Ela foi dar um mergulho e naquele instante acabei por ficar sozinho a pensar-me.
20 de novembro de 2009
Instantes (8)
Sempre me disseram que a aventura da vida era bonita e merecia a pena ser vivida. Só que nunca me disseram que às vezes doi. Doi quando sofremos desgraças mesmo que essas sejam a felicidade de outras. Na verdade ela não olhava para mim e via outros. Eu dorido odiáva-os silenciosamente nesses instantes.
Doi quando nos deixam no silêncio dos sentimentos vazios, recolocados num lugar secundário, na insignificancia da quase inexistência. Afinal de contas eu era tão transparente que ninguém me via.
Mas eu tinha de ter força para ultrapassar todas essas dores e esperar que um dia o dia ia sorrir para mim, eu ia ver o que eu sempre quis ver, eu ia sentir o que sempre desejei sentir. Mas um dia, assim num instante, mudei de ideias e as dores passaram a ser outras, os olhos passaram a ver doutra forma.
Enfim, doi por instantes ter instantes.
19 de novembro de 2009
Instantes (7)
Era de manhã, uma manhã de cacimbo, daquelas manhãs em que apetece é ficar na cama e deixar o corpo ir embora no repouso, na falcidez da descontracção e se tiver tempo sonhar com coisa nenhuma de importância. Mas nessa manhã isso não pode acontecer e lá fui eu na rotina de aluno de liceu. Como sempre me cruzei com ela e lhe disse olá com todos os meus orgãos e ela mais uma vez ensurdeceu selectivamente para mim. Me disse para mim num grito gritado para dentro que acabou, me fui desse amor donde nunca devia ter entrado. Era tão tarde que a lágrima correu pela cara como naquele quadro replicado mais que as casas todas deste e doutro mundo. Doia dentro do corpo e fora dele uma dor surda como os ouvidos dela e cega como quem vê apenas com o coração e se esquece da razão.
O cacimbo mais se cerrou ao ponto de eu me ter escondido atrás dele num ninguém me vai ver sofrer de amor mais vez alguma na vida.
Como sempre, também esse instante passou.
18 de novembro de 2009
Instantes (6)
Lembro-me que um dia acordei, sem me lembrar de ter dormido, com um deslumbrante sorriso na cara. Acho que me deitei com ele, ou sonhei e ele se me colou na cara. O amanhecer se me entrou no quarto e me fez erguer como nunca havia conhecido. Sai correndo. Me cruzei contigo e nem me parei para te admirar o que me admirou ainda mais. Corri sem parar até chegar ao liceu. Entrei nele como nunca tinha acontecido. Dei-me a pensar se quem estava ali no meu corpo era mesmo eu ou estava possuido. Era estranho e nem o sorriso se me descolava e o amanhecer não parava de acontecer. Deu para ver que no liceu estava mais gente. Afinal de contas o meu mundo não era só ela. Eu ri, eu gargalhei e eles outros muitos me olhavam com ar de espanto e me retribuiam sorrisos e abraços. O sol estava lindo como que a tirar todo o sobreado que podia restar na minha cara.
Ela chegou e me disse olá. Olá retribui e o instante se acabou ali.
17 de novembro de 2009
Instantes (5)
Já não me lembro a que horas anoitecia porque era no tempo em que o tempo não me fazia falta. Mas era no tempo em que eu esperava sentado na cadeira de baloiço, que era do meu avô e estava na sua varanda, que tu chegasses e fosses à tua varanda receber o entardecer. Eu olhava-te sabendo que tu nem sabias que eu estava ali. Mesmo que virasses o teu olhar para mim tu não me vias, porque tu não querias ver pequeno. Eu odiava-me e acho que o fazia por ti. Mas todos os dias eu fazia o mesmo ritual porque sabia de cor o teu. Adivinhava-te.
Quantas vezes me entreguei à tua presença e tu nem notaste, nem reparaste.
E depois do anoitecer, recolhia-me e sonhava naquele instante em que altivamente respiraste o entardecer que te entrou na varanda.
16 de novembro de 2009
Instantes (4)
Às vezes apetece viver rápido para não ter tempo para pensar. É um sentir frágil, assim tipo bolinha de sabão que voa num até rebentar. Tu fizeste-me ser essa bolinha de sabão porque cada vez que as minhas pernas tremulamente me levavam para ti, eu tinha uma fracção de segundo para ver o teu perfil e a eternidade para ver as tuas costas.
Ainda hoje penso porque é que elas teimavam em caminhar na tua direcção. Certo é que até as minhas pernas queriam ver as lágrimas choradas para dentro. Assim foi um dia, um mês, um tempo que me esqueci faz tempo. Mas a fragilidade de te olhar ficou, a instabilidade da bolinha de sabão, cá está.
Hoje, não me tremem as pernas, treme-me a voz quando te penso. Esse instante, quando acabará?
15 de novembro de 2009
14 de novembro de 2009
Instantes (3)
Ela gostava de ouvir as minhas estórias e eu contava-as todos os dias. Acrescentava todos os dias uma nova especiaria como querer dar um gosto especial. Tentava sempre ser o protagonista principal, mesmo quendo a estória só tinha passdo ao lado ou na imaginação. Eram as minhas estórias que ela ouvia. Eram estórias cadentes de sentimento, constelações de argumentos, nublosas de paixão. Cada palavra era composta por letras escolhidas com ternura para dar colorido ao enredo. Algumas vezes as estórias eram escritas numa sebenta de capa vermelha para mais tarde serem relidas, mas não tinham o mesmo sabor porque estavam arrefecidas de sentimento. Tinha sido esse o caminho que eu tinha escolhido para lhe conquistar o coração. Não queria espadas nem outras armas, violências apenas de carinho nas corres berrantes de cada letra pintada na minha voz sentida da estória contada.
Como qualquer instante, este também passou.
13 de novembro de 2009
Instantes (2)
Sentia felicidade em pensar nela, imaginava o seu corpo sedoso ser percorrido pela minha mão, trentava trasportar-me para além do desejo, ultrapassar a fronteira da resistência do espirito e ter capacidade de lhe dizer tudo o que sentia por ela. Sentia-lhe o perfume, ouvia-a respirar e ainda não lhe via. Diziam-me era química. Todos os dias era química e todos dias viajava na imaginação a caminho da felicidade. Quantas e quantas vezes desejava ter ar para respirar, afogado que estava em tanta paixão. Platónica, claro. Tantas e tantas vezes a minha mente rebolava para instantes de loucura, actos imaginados de verdadeiro prazer.
Foram instantes que passaram na minha vida.
12 de novembro de 2009
Instantes (1)
A vida mais não é que a soma de uns instantes de ternura, amor, desejo, paixão, felicidade, tristeza, dor, loucura, desespero e sofrimento. Estes instantes podem ser fugazes ou duradouros, estão na memória ou num qualquer baú do esquecimento. Fazem-nos parte mesmo que não estejam presentes neste instante.
Hoje dei-me a sonhar com as fotos dos meus 13 anos, da altura em que não imaginava o que eu queria ser quando fosse grande, interessava-me apenas em ser feliz naquele instante. E era-o. Se eu pidesse recuar no tempo tenho a certeza que não retocava em nenhum instante desse tempo.
Enfim, foi apenas mais um pequeno instante da minha vida.
11 de novembro de 2009
tenho um coração
Tenho um coração que bate ao ritmo dum relógio, às vezes parece-me que bate acelerado, mais depressa que outras que bate lentamente como que a poupar-se. Mas ele bate no meu interior e na maior parte das vezes nem me lembro que ele está por lá, no meio dos meus medos e sentimentos, na amalgama das minhas dúvidas e emaranhados de certezas. Algumas vezes eu penso mesmo que ele está ausente em parte incerta, vagueando demente por esse mundo louco e deixa-me pensamentos que eu chamo de sonhos, labirintos de incertezas, lágrimas de muitas cores e causas. Outras vezes dá-me um deserto de palavras para eu compor um puzle que compreenda a minha existência, pese o valor dum amor impossivel, observe um sorriso inexistente.
Tenho um coração que me deixa enfrentar o futuro, que me atira para um mar desconhecido em que suspiro em cada braçada, que me eleva às nuvens num apara quedas irrecuperáveis, que me desperta melancolias e gemidos de saudade.
Tenho um coração que hoje faz anos, lentamente num ritmo acelerado.
10 de novembro de 2009
49 - Estórias no Sofá - O Príncipe e a Princesa
Era uma vez um conto de fadas. Ao contrário, é claro. Um conto de pessoas imperfeitas e em que as acções não têm nem valentia e nem aparecem heróis lendários. Até o próprio lugar é um lugar comum, poluído pelos gases dos muitos carros que engarrafam todas as ruas da cidade. Cidade repleta de prédios, onde num por aqui ou por ali se encontra ainda um que tenha uma história do tamanho da memória. Não muito grande, é claro! Uma cidade cheia de obras, que não são de arte, embora muitos sejam os artistas que nela circulam.
Mas dizia eu que era uma vez um príncipe e uma princesa, sem reino próprio qualquer deles, que viviam felizes nessa cidade, ou pelo menos viviam tranquilos, transparecendo um mar de calma que era interrompido de quando em vez por banquetes faustosos ou viagens luxuriantes por estrangeiros fora de portas. Mas eram felizes estes príncipes amantes. Tudo lhes parecia perfeito e o futuro não lhes incomodava.
Mas na verdade, um dia, sempre há um dia nestas coisas da vida, a princesa desconseguia de ver o horizonte e agarrada à escuridão da vida se deixou levar pela letargia. Todas as noites gritava, sonhava que a morte lhe beijava os lábios e perdida de medo foi-se fechando cada vez mais, putrefacta em ansiedades irreais.
O príncipe, angustiado, lutou contra fantasmas e foi desferindo golpes carregados de irracionalidade e de indiferença. Mas toda a sua luta caia num vão sem fundo e a princesa cada vez falava menos enquanto construía um muro de incompreensões.
O reino inexistente, aos poucos, se foi consumindo e os meses passavam mortos num cinzento calendário enquanto a cidade se engalanava para grandes festas que em breve iam acontecer.
Um dia, ao acordar numa qualquer manhã, a princesa deu conta que nessa noite não tinha sonhado com a morte. Esboçou um sorriso, curto, rápido que ninguém teve tempo para dar conta. Aquela pessoa que havia sido um complemento perfeito da felicidade tinha para sempre desaparecido dando lugar a um ser vivo quase morto, vazio e carente de alma.
O príncipe tentando manter a mente sã rodeou-se de gordura e deixou-se perder na floresta de cimento, todos os santos e diabólicos dias e noites. Cada vez com mais frequência voltava ao seu palácio, madrugada alta, descalço, desorientado no andar e carregado de falsos pôr de sois que lhe queimavam os poucos pensamentos de outrora.
Na cidade passou a reinar o silêncio, o sorriso era pálido para não dizer incolor e já ninguém se lembrava do príncipe e princesa que embelezavam as festas faustosas e badaladas. Dela nem um rumor se ouvia. Dele, contavam-se estórias, quase sempre nocturnas, carregadas de vinhos e fumos de fazer rir, mulheres bonitas e paixões de faca e alguidar.
E a cidade crescia, para os lados e para cima numa similitude ao príncipe que se afundava no pântano da divida, traição, vingança, bruxaria, feitiçaria e onde mais iria parar se esta estória não acabasse aqui?
9 de novembro de 2009
Novembro, mais um
Suspiro como se o oxigénio estivesse a acabar e me recolho no meu passado como se tivesse medo de olhar para amanhã. Me abraço, num apertado abraço, como se estivesse a segurar-me para não fugir, muito embora nunca me tivese prometido que ficava.
Se eu pudesse prometer estar eternamente a teu lado… mas nada é eterno e é possivel que o estarmos de mãos dadas num espaço não seja mais que um pequeno esquecimento, um vício de forma e que os maus momentos acabem por esconder todos os bons momentos que juntos tivemos.
Amanhã já é o futuro?
Como é que me sinto?
Pergunto-me coisas sem nexo, apenas para não me lastimar as horas que perdi sem brincar.
É um Novembro quente. Mais um.
8 de novembro de 2009
Aniversário do BLOG
7 de novembro de 2009
BLOG INSTIGANTE
Nothingandall é um blog instigante
Quero agradecer esta nomeação.
6 de novembro de 2009
Hoje doi
Esta manhã, quando acordei, tentei, de olhos fechados saber de ti. Procurei, estendendo os braços, algo que dissesse que estavas ali ou que eu estava em ti. Por não te ter conseguido acariciar abri os olhos para te ver ainda em sono profundo. Apaixonadamente procurei-te como quem levita numa nuvem de paixão. Infelizmente, mais uma vez, não estavas ali nem eu estava em ti. Gargalhei num gargalhar nervoso, transpirei suor de ansiedade, iludi-me no perfume que imaginei cheirar. Tentei imaginar a causa desta paixão, rebusquei memórias, fui buscar todos os sonhos sonhados e por sonhar, revi imagens, retratos, pinturas e um cento de outras coisas. Desde o mais antigo ao meis recente artigo encontrado no aquivo da memória vejo apenas paixão e desconsigo encontrar a causa, dessei o porquê desta doença que me mina a saúde e me leva o sorriso até se afogar nas lágrimas de dor que não se sente. Só sei que deixo sempre a porta entreaberta na esperança que tu um dia por ela adentro entres.
Hoje doi, porque doi sempre a transição, o medo de não ter capacidade de sonhar mais sonhos, de mudar o rumo do futuro na incerteza do que pode vir a sê-lo, o fim do planeamento e o recomeçar de cada instante como se fosse o primeiro de sei lá o porquê. Hoje doi, porque não sei se sei contar um conto, uma estória, que me deixe docemente adormecer sem saber se cheguei à perfeição, ao ponto final do meu desejo. Hoje doi, porque não sei se te inventei ou se existes mesmo. Hoje doi, porque não sei se o sonho chegou ao fim ou não.
5 de novembro de 2009
dourados sonhos sem côr
Sanzalando
3 de novembro de 2009
sonho que sonharei ainda
Vou a passo lento até a um qualquer café ou bar, onde me possa sentar à sombra, saborear mentalmente um cigarro, que assim não me faz mal nem me polui o ar à volta, ler umas páginas dum jornal recente ou antigo que as notícias faz tempo são iguais, beber uma ou outra cerveja gelada, degustando-a como se fosse a última e esperar que a barba se me cresça num grisalho aspecto vagabundo.
Já sei que me sentarei de perna cruzada, dispararei os olhos para além do alcance visual até conseguir ver as coisas que desejo num desejo quase pesadílico.
Já sei que quem me olhar vai ver o mar da tranquilidade reflectido na minha cara como que esboçado sorriso dum estar tudo bem para além dos sonhos.
De vez em quando regressarei ao meu físico poiso, olharei à volta e verei o temperado tempo que passou desde a última vez que me interessou ver o que me rodeava. Encontrarei os nobres, fidalgos de outras eras, os novos e velhos ricos, os pobres que o continuam sendo, as mulheres que tiveram os seu tempo e os homens que se esqueceram de ter tempo, as crianças barulhentas deixaram de brincar na rua que passou a ser imperturbável caminho para lado nenhum, o passeio leva ao passado gravado nas fotos trabalhadas dos novos retratos, os apaixonados seguirão as lágrimas como se fossem papagaios de papel, presos numa guita já não visível pelos meus cansados olhos.
2 de novembro de 2009
como gostava de ter sido um sonhador
É de tarde duma tarde que avança rápido fazendo com que a minha intranquilidade se instale a uma velocidade inesperada. Com isto vou esquecendo pequenas coisas da minha estória, regresso à vida sabendo que há sonhos que ainda não sonhei, que a minha bela estampa se ofusca nas rugas do tempo. A cada tarde segue-se uma noite veloz, escura, que me apaga a silhueta antes esguia e me leva a sonhos pesados de esforço.
É o tempo que viaja sem se deter no presente e deixando-me o passado como um fardo pesado. Valem-me os sonhos que sonhei no tempo de ter tempo para os sonhar. O tempo não é magnânimo e não me dá alternativa ao túnel que atravessa a tarde até ao chegar da noite. Quando ele era lento eu não tinha medo dos sonhos que um dia o iam deixar de ser. Agora… muitos sê-lo-ão para sempre apenas sonhos. Antes, de chapéu sobre a farta cabeleira e cigarro no canto da boca eu sonhava nos períodos incertos nas certezas que ia tendo, agora, cabeça queimada do sol que os brancos cabelos já não têm força de proteger e respirar ofegante dum cansaço inato, mal consigo chegar ao zulmarinho onde possa estar de olhos postos no amanhã sorridente dum dia de outono pensado em cacimbo que se vai levantar não tarda.
Foi o tempo que passou, às vezes a passo lento, outras em veloz correria, umas vezes sem deixar marca, outras marcando-me com indeléveis riscos o corpo.
Bebo uma água mineral fresca, recordo a arrumação dos sonhos por capítulos, cruzo as pernas, enquanto olho com olhar tranquilo, para os casos das coisas que ainda me falta catalogar.
Como eu gostava de ter sido um sonhador.
1 de novembro de 2009
31 de outubro de 2009
viagens
Parti em viagem, de sonho em sonho, engarrafado no trânsito, em busca de mim. Aportei em portos que nem eu sabia que os havia, corri sem respirar para não perder a minha memória de dúvidas. Tantas vezes caí que se as fosse contar não teria nunca feito outra coisa. Viagei alegre umas vezes, carregado de tristezas outras tantas, umas vezes com a alma feita em fanicos e outras sem ela mesmo, umas vezes em espirito outras de corpo apenas.
Nunca, mas nunca mesmo, viagei para fora do meu mundo de sonhos.
Percorri mundos sem fundo e fundos sem fim, tatuei pensamentos, bordei palavras em recantos da memória, caminhei ao sol ou à sombra, na estrada e por ar, no mar e no sofá, parei em sinais e sem sinal curvei-me, vi fantasmas, tive alucianções, morei em assombradas casas.
Nunca, mas nunca mesmo, sai dos meus sonhos porque procuro a ilha onde eu tenha o meu lugar de ermita sem tempo.
30 de outubro de 2009
minha rua
Posso subir e descer a minha rua umas mil vezes que esta nunca será a minha rua. Jamais saberei de cor todas as pedras desta rua como imagino que sei as da minha rua. Aquelas pedras tinham brilho mesmo nunca tendo sido polidas senão com os calções cardados do meu tempo de criança, tinham um nome que só eu os sabia. Se calhar o Zé lhes tinha dado um nome também que não eram igual ao meu. Mas aquelas eram as pedras da minha rua mesmo que a rua fosse de mais outros alguéns.
Posso sair da mão dada, ouvir a música já gasta e riscada, que esta não é a minha rua. Posso dançar contigo na minha memória, fazer ridículas figuras de brilhantes olhos castanhos que ela continua a não ser a minha rua, aquela rua que me viu tantas vezes na esquina à espera de te ver passar, mesmo sabendo que não me ias ligar nenhum.
Eu sei que louquei por sonhar ver a minha rua onde passearia contigo de mão dada.
Será que alguma vez pensaste se eu teria mão para te dar? Eu pensei tantas vezes na sedosa mão que seria a tua…
Mais um sonho vão que se perde num qualquer vão de escada numa rua que não é nem nunca será mais a minha rua, nem nunca terá as minhas pedras que eu sabia de cor.
Assim, não sei quando sentirei o delírio de ser feliz, numa rua que um dia eu possa dizer que é a minha rua.
29 de outubro de 2009
sonho-te
Sonho-te com algo novo e que me perdure, na memória e na alma. Eu sei que podia ter escolhido outra razão para os meus sonhos, mas tu foste-me imposta pelos subconscientes da vida. Podias ser mais linda, mais jovem, mais interessante, mais tanta coisa e eu se calhar nem te conheceria e jamais te sonharia como te sonho até que um dia ele se torne realidade dum novo sonho.
Na verdade tu não sabes o que gosto ou não, na realidade nada sabes dos meus sonhos nem das minhas forças e fraquezas. Nem sabes que o meu sonho é ver-te feliz. Nem sabes que eu existo, quanto mais estas tantas coisas que eu te digo nos meus silêncios.
Um dia, sem hora marcada, saberás da minha existência, conhecerás a minha estória, saberás de tudo o pouco que há de saber de mim e dar-me-ás o que eu nestas palavras caladas tanto te tenho pedido.
Guardo na minha intimidade o teu nome, o teu rosto, perfume de mulher tropicalizada na geografia da memória porque eu sei que um dia me darás o olhar e atrás deste virá o sorriso e depois o brilhozinho nos olhos.
Sonho-te sempre e um dia atrevirarei-me a ver-te ser feliz comigo num delírio de tontarias.
28 de outubro de 2009
27 de outubro de 2009
Não sei se sonhei
Sanzalando
26 de outubro de 2009
tarde de outono
Não sei o que se passa comigo. Num repente tenho a estranha sensação de ter acordado a meio da noite, mesmo ainda sendo de tarde num entardecer de outono, e sinto no ar o perfume das acácias floridas duma avenida que já foi Barroso. Mas sinto dum real sentido perfeito que a noite calada que ainda não chegou aparece-me carregada de sombras como se fossem memórias vagueando em mim. Sinto ao mesmo tempo o ruido da terra que não tarda vai aguentar o peso da noite. Mas ainda é de tarde num entardecer de outono e não uma manhã de cacimbo que perfuma as acáciads deste meu sonho de sonhar acordado. Deve ser um acidente de percurso, uma explosão do céu que se abate por mim numa ferida de saudade.
Ao longe, muito longe parece-me ouvir o uivo dum cão. Perto, muito perto, ouço o choro duma criança. Eu sou o centro, ponto médio da incógnita, num entardecer de outono que sonho noite dentro.
Na verdade não me lembro como acaba, o sonho, o entardecer ou a noite. Por esta ou outra ordem qualquer.
Me lembro apenas os barcos que sem passageiros ou tripulantes ondulam ancorados na minha baía de memórias.
Afinal os sonhos são sonhos e pouco mais que isso podem desejar ser, mesmo num fim de tarde de outono cuja noite promete ser de silêncios, mas perfumada com o perfume das acácias floridas desta ou doutra qualquer avenida porque o sonho ainda é livre.
25 de outubro de 2009
24 de outubro de 2009
ainda olhar
Os meus olhos não me enganam, mesmo quando estão fechados a olhar-te por dentro, num ver-me de sentido futuro arrastado por brisas, ventos ou tempestades.
Prontos, dizia a criança que passava ao pé de mim enquanto eu distraidamente delirava com a tua beleza que faz tempo não saboreio, ao mesmo tempo que me olhava com ar de quem quer perdoar-me algo que não lembro de ter feito ou dito. Se calhar queria dizer-me que sou nada, um perdido neste lugar que através das palavras que soletra com os olhos de lágrimas se quer encontrar. Não sei e olhando para os seus olhos de inocência ternura não me apeteceu perguntar. Fiquei-me pelo prontos num pronto de olhar fixo.
Afinal de contas, as minhas recordações estão memorizadas na retina.
Sanzalando
23 de outubro de 2009
com os meus olhos
Abro os olhos e nem sei o que vejo. É o desassossego da curiosidade, o nervoso da calma numa mistura de desejo pesado sobre as costas, fardo compartido num boca a boca do diz que disse. É tudo uma salada. Eu quero, logo penso que posso e sonho. Mas a realidade abraça-me, abana-me e mostra que afinal não é assim. O querer já é um começo da viagem. Do mal o menos. Aos poucos vou diluindo os meus tormentos, vou descarregando as costas do fardo de palavras, a memória esvazia-se de recordações sonhadas que não passaram disso mesmo, o que acaba por dar lugar a novos sonhos e açucarando novos desejos ardentes. Um dia, eu sei, vou-te abraçar, sentir-te o perfume, ver-te ao pôr do sol, navegar nas tuas lágrimas de alegria. É um sonho fácil. É pena que os meus olhos já não vejam com o brilhozinho nítido de outros dias. Mas o sonho continua a ter o mesmo colorido, a mesma intensidade. O sonho não é volátil, pode mudar como muda a areia do deserto, mas muda a forma, apenasmente. O sonho não é inflamável, não queima amarguras, tristezas nem se torna mais leve por fazer cinza.
Abro os olhos e já não vejo com a nitidez doutras eras, quando tinha todo o tempo do mundo.
Mas os meus olhos ainda conseguem ver um oásis, o desfazer de muralhas, algumas mentais e outras reais. Afinal de contas ainda consigo ver o meu umbigo. Sou um afortunado, sortudo.
22 de outubro de 2009
Silencio no intervalo
Às vezes se nos escapam palavras abruptas por entre doces sonhos, outras, palavras sem sentido, são ditas no calor da alma encadescente duma raiva escondida. Mas todas as palavras mostram apenas a alma, o estado de alma ou a alma dum estado. Às vezes as palavras são ruidos, insuportáveis, o mesmo se passa com a insuportabilidade da nossa alma. Enfim, às vezes as palavras são como a dor no peito, surda, assustadora, mesmo sabendo que estamos em plena saúde. As palavras fazem-nos sair das nossas prisões, transformam um infernal dia num resplandecente dia de sol, transformam calados silêncios em imagens reflectidas num qualquer espelho de expressão. As palavras traduzem os meus sonhos, contam-te na aparencia perfeita, na rima incompleta, na máscara ou na realidade dum qualquer photoshop aquilo que me sai desses sonhos que tu sabes que eu te sonho.
Às vezes me apetece modificar uma ou outra, transformar um sonho noutro, mas falta-me tempo, inteligência, paciência, capacidade ou mesmo um somho plausível.
As palavras, meio de comunicação, de confusão, aglutinação ou afastamento, são como os sonhos que sonho-te com as palavras como uma salada de frutas, um estado de alma.
Mas são os sonhos que te sonho e como posso eu modificar este sonho de te poder sonhar em cada segundo? Com outras palavras? Não as sei! E os silêncios são apenas pedaços de tempo que uso para respirar no intervalo dos sonhos.
21 de outubro de 2009
não sei
Caminho por caminhos tantas vezes já caminhados, revejo passos que dei, identifico marcas nos meus velhos passos e vou revendo os galhos que se me vão aparecendo no caminho, sempre como se fossem a primeira vez que os vejo. Donde vem isto tudo? Em que é que me converti? Será que eu sou apenas fruto da ilusão, filho do sonho? Pergunto-me o porquê de tantos passos pelos mesmos caminhos se eu já perdi a confiança de ser boa pessoa, de receber o que mereço, ou acho que sim, dependendo da perspectiva. Questões menores para grandes sonhos que perdi numa qualquer praia deserta, num amanhecer de verão em que sorria com a vontade estampada na cara por ter esperança de que um dia, mais cedo ou mais tarde, eu te abraçaria como se abraça uma amante que se ama de verdade. Quem sabe me perdi no labirinto dum qualquer sonho mal sonhado, numa lágrima de sangue que não derramei. Os meus olhos me vêem e o meu cérebro não me reconhce. Me convenço cada vez mais que eu sou fruto dum sonho, dum encontro casual duma ideia com o desejo, dum riso aberto com uma lágrima de dor, da consciencia com o subconsciente, da ilusão com o sofrimento apagado dum caminho sem fim.
Não sei se ganho, se perco, se choro ou gargalho, sei que sou feliz assim neste sonho. E um dia, cedo ou tarde, deixará de ser sonho e será realidade.
20 de outubro de 2009
Coincidências do caraças
19 de outubro de 2009
sonhos...
Um dia, eu sei, vou olhar para trás e vou ver uma multidão assim a caminhar como que a me seguir. Eu sei que também pode ser apenas um sonho como os outros sonhos, só não sei se vai cair na estante dos realizados ou no porão dos não. Mas isso o tempo é quem vai me dizer e não estou para competir com ele. Essa multidão gritará o meu nome. Espero eu não estar à frente a correr com ar de quem foge, mas estar com ar sereno de algum profeta da esperança.
Sonhos frenéticos sonhados fora da cama, ilusões sorridentes dum futuro carregado no presente e alicerçado num poderoso passado.
Afinal de contas eu continuo com o SONHO!
Sanzalando
18 de outubro de 2009
16 de outubro de 2009
palavras
Passo a palavra pelos meus lábios, que os sinto secos. Quase apetecia dizer que não servem para nada, nem para afogar mágoas, nem clarear trevas, nem para apagar dúvidas. São as mesmas palavras que descrevem as mesmas dores, angústias e que me atravessam o espaço como lanças directas a uma qualquer parte de mim. Há palavras que me vhegam ao coração, outras que dele partem, palavras soltas e acompanhadas, salgadas e doce, para todos os gostos e muitos desgostos. São estas as que uso para te mostrar o que me sonho para ti, as que me aquecem a alma e refrescam o coração. São palavras tantas vezes feitas lágrimas, outras tantas feitas gargalhadas de esperança num soluçar interior. Por vezes te digo as palavras que caminham descalças no meu interior deserto, escaldante, não só árido como também poeirento/nublado e sempre pouco claro. Te digo palavras sem sombra, vazias, inexistentes, carregadas de dor afogadas de riso. Apenas uso as palavras com que te quero acariciar, mostra-te o que de mim resta quando não me estás, o que amargamente choro e alegremente vivo. São palavras vulgares que se gastam no tempo até desaparecerem na memória do esquecimento.
São estas as palavras que a minha voz rouca te querem dizer, todas as coisas que te tenho para te dizer, todos os sentimentos que te tenho sentido.
Faz tempo que não tenho tempo para te dizer palavras de chuva, cheiro de terra molhada. Enfim, hoje não encontrei a palavras certa para te dizer.
15 de outubro de 2009
me disseram ao ouvido e eu acreditei
Assobio alegre nuns olhos que riem sem mentir. Me disseram assim num pertinho do ouvido que as minhas palavras quando lhes digo saem assim como que bonitas que até metem raiva. Corei na altura ao mesmo tempo que dava pulos de contente sem mexer um único músculo. Faz conta não percebi, não entendi ou não ouvi. Mas lá dentro de mim tudo foi no céu e desceu num rapidamente para manter a compostura. Algumas palavras eu queria dizer mas até a garganta ardia. Foi inesperado. Caminhei para me recompor e entrar novamente nos meus mundos, no real e nestes sonhos que sonho com a vontade que seja real. Complicado.
Já sei, sigo o conselho, me meto aí no meu mato, lá em cima nesse planalto que o Arquitecto fez como o mais lindo do mundo e donde eu posso ver até o deserto se desaguar no mar como se fosse um rio de águas douradas. Aí, eu vou falar num não calar mais e contar todos os sonhos, todas as curvas da vida, todos os olhares que olhei e os que me olharam, as lágrimas que chorei e as que guardei para mais tarde chorar. Aí, nesse meu planalto, eu não vou sentir mais a tristeza da solidão, a impotência na tristeza e a solidão impotente, porque vou ter como companhia as minhas palavras, alegres gargalhadas de sonhos que um dia eu gostava de ter vivido e por isto e por aquilo ficaram para amanhã eu poder apenas contar. Aí, no meu planalto, os meus ouvidos vão ficar atentos para te ouvir mesmo quando choras para dentro para não me incomodar, os meus olhos vão fixar os teus e as minhas mãos vão acariciar as tuas até não poder mais olhar porque alguém te vai dizer ele morreu.
Porque me falaram assim pertinho do ouvido coisas doces que eu não devia ter ouvido?
Quando mesmo é que eu vou acordar? Assim nem que apeteça eu vou despertar.
14 de outubro de 2009
faz de conta
Faz conta estou a sonhar que sou um anjo, assim de verde florescente, pairando como que estivesse a voar sobre os campos, sobre os rios e parando sobre o mar. Faz conta canto uma canção de amor, acompanhado por uma arpa, que um piano é mais difícil de transportar, mesmo para um anjo. Faz conta consigo fazer esboçar um brilho nos olhos, uma constelação de sorrisos uma troca de ternuras. Faz conta consigo fazer soprar uma brisa, de sabor a mar, que faz com que as árvores dancem suave e melodiosamente. Faz conta consigo criar paz, transformar o outono no calor tórrido dum trópico. Faz conta sou acompanhado por um coro de pássaros e em orquestra cantamos as nossas canções de amor.
Faz conta que esse anjo que sou, de verde florescente, cantando canções de amor não é mesmo de faz de conta, mas puramente de ficção.
Anjo complicado este, que para além de verde florescente e cantando coisas de amor é um fingido de faz de conta que te amou, te ama e te amará, mesmo quando tu nem olhas mais para ele como nunca olhaste na vida.