recomeça o futuro sem esquecer o passado

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31 de dezembro de 2009

Começou

2010


Sanzalando

dum ao outro ano

Me sento assim num sentar despreocupado a rever o que ficou para trás e só me sabe o sabor da palavra te perdoo. Na boca, no cérebro e nas lágrimas, tudo tem o sabor do perdão. Pode ser do medo de te perder, de não ter forças para te esperar mais por ti, mas o que me sabe é só o gosto dessa palavra chamada perdão.

Podes escrever nas linhas da tua memória que me doi muito não saber de ti, que o teu lugar em mim está ali gravado nas chamas da saudade dum amor que arde lentamente.

Me sento assim despreocupado porque o perdão, o medo e a esperança me dão forças para continuar na procura das palavras com sabor de ti, mesmo quando me fecho no silêncio dos ventos tristes da nostalgia.

Bom ano de 2010 para ti e todos nós!


Sanzalando

29 de dezembro de 2009

Talvez amanhã

Me sento por aqui num nenhures qualquer e desato a ver que amanhã é hoje e que tu apenas me fizeste apaixonar para me veres de coração desfeito a cair aos pedaços num esquecimento raro de frequência moderada. Eu não sou apenas uma gajo raro, pois já tenho idade para saber se me entendo nos defeitos da dor de cabeça provocada pela privação do teu perfume, no arrepio da ausência do teu calor.

Estás em festa e não me tens ao lado, vais continuar em festa rumo á glória e eu ingloriamente aqui em nenhures vou ficando a ver-te com os olhos de ver ao longe, contando os pôr de sois que perdi, as trovoadas que não apanhei, sempre a pensar que é amanhã que me vens buscar para estar no teu mar, abraçado no teu luar.

Estás em festa e eu acho bem. Sou demasiado raro para receber o teu carinho ontem e hoje. Talvez amanhã!


Sanzalando

28 de dezembro de 2009

Sonhar é facil

Passa um dia após outro. Uns entram na rotina dos excessos, outros nas simulações excessivas da rotina enfadonha. Mas passam o dia e, noutro que nascerá lá estará o lamento excessivo da rotina. Uma atrás da outra e quase sempre a mesma ladainha. Diariamente se afogam na melancólica rotina do lamento, nas ondas da tristeza que lhes puxa para mar alto.

Eu, aqui, neste canto de mim, lamento apenas que tenham fechado a barra, aquela por onde eu navego para os meus mares quentes do sul, ali ao pé do lá onde o perfume tem mais cheiro, onde o calor é mais quente e onde o sorriso é mais riso.

Não custa chorar porque é barato sonhar.


Sanzalando

23 de dezembro de 2009

Mais um ano

Quase se finda mais um ano em que perdi a alma no vento dos entardeceres da vida, em que ela cavalgou por becos sem saída e por medos labirinticos dos pesadelos sonhados nos sorrisos das noites claras em que dormi acordado pensando nela. Mais um ano em que andei à deriva no rosto pálido da incerteza e no brilho das ilusões. Mais um ano de mãos vazias em que o volátil se me rendeu na incapacidade de voar no físico espaço da roda e me transportou nas nostalgias de ontem.

Mais um ano que se gastou nos pés descalços de calcorrear avenidas, ruas e vielas da imaginação que nos prega partidas, das realidades que sonhamos não nos acontecem. Mais um ano em que o vento gelou o horizonte na distância impossivel de lhe tocar.

Mais um ano que as noites são passadas sob estrelas estrangeiras, mas depois ouço uma voz amiga me cantar:

Não penses no passado porque não o podes mudar,

Não penses no futuro porque não o podes prever

E não penses no presente porque não o comprei!!

Boas Festas e nos Sonhos Também

(a actualização deste blog tem sofrido de irregularidade por artroses da vida pessoal e irá sofrer mais uns por anquiloses do tempo)
Sanzalando

21 de dezembro de 2009

Um suspiro por hoje

Tenho passado horas a pensar, damasiadas horas, entenda-se, a perguntar o que seria de mim se não fosses tu. Se não existisse o meu sonho como é que seria o verdadeiro outro eu que não olharia o zulmarinho? É evidente que tenho presentimentos e dúvidas secretas do que eu poderia ser. Mas os meus olhos castanhos não teriam brilho, o meu rosto não teria sorriso e a minha voz não teria sentimento.

Se não fosse o sonho, se não fosses tu o meu sonho, eu seria um fantasma de mim, um suspiro apagado no desespero de procurar-me em vão no vão dum abismo, um uivo silvado do vento norte que sopra para sul.

Tenho passado horas mortas, assassinadas pelo tédio, estranguladas pela inércia a pensar-te em como seria eu sem ti. É o sonho de cada um… sina dos vivos, memória dos mortos, presença dos ausentes momentos vagabundos.

Sonho-te porque eu apenas quero é sonhar-te.


Sanzalando

14 de dezembro de 2009

A 7ª e última desde aqui

O sol nasceu cinzento como nasce cinzento todos os dias por aqui. Deixei o dia acordar num bem acordado e lá fui eu para mais um verde onde as ideias brotam - deve ser da humidade - como brotam os verdes campos daqui. A estória vai crescendo, desta vez no papel, as personagens, algumas parecidas com personagens reais, vão tomando corpo e vida própria me obrigando a travar-lhes os ímpetos. Letra redonda para mais tarde conseguir reler antes de fazer como que nem fiz nas outras - desaparece para todo o sempre a Sebenta de capa vermelha. Mas por enquanto ela vai ficando travestida de letras em azul marinho, letra legível, parágrafos definidos num mais que perfeito saber por mim apresentado.
Pior mesmo é o frio que regela os dedos, o corpo que empacotado em muitas folhas como se fosse um bolo, fica de movimentos agarrados aos mais elementares.
Agora, num misto de tristeza e alegria, é hora de arrumar a mochila porque está quase na hora de pôr o ar serio de outras tarefas, guardar a sebenta vermelha, rever o que pode ficar para trás e amanhã poderá fazer falta, imaginar mais um ou dois parágrafos da estória que afinal vai passar aqui mesmo porque foi assim que ela quis.
Amanhã será outro dia noutro lado que ainda não vai ser o lado de lá onde o sol aquece, onde a minha alma renasce junto ao espírito da placenta se vê se a viagem tem continuação para além da memória.


Sanzalando

12 de dezembro de 2009

A 6ª desde aqui

Altas horas da tarde, noite dentro. As pernas tremem de cansaço, os pulmões parecem não caber na caixa. Já nem me lembrava que o ombro direito está emperrado. A polícia também não perguntou nada, arriou em quem estava e em quem por acaso estava no acaso daquele instante, que era o meu caso. Eles gritavam com tanta quanta força eram capazes, na língua que nem com esforço entendo quanto mais no meu esforço de sair dali. Foi sábado, eles se manifestaram e eu corri. Coisas que fazia noutros tempos com alegria, agora mesmo cansado mas ainda com capacidade de sorrir e de saber que afinal eu também estava lá a apelar pela Terra.
Foi um Sábado diferente

Sanzalando

11 de dezembro de 2009

A 5ª desde aqui

O Sol nasceu parece brilho de diamante.
Hoje está um dia que eu vou gastar o cartão da máquina fotográfica. Se fosse no antes eu nem metade ia tirar só para não pagar a revelação. Agora tem esse de cartão, descarrega num PC perto de si e já tá andar para outra. Mas hoje essa luz vai me ajudar, eu sei. Pena mesmo é que eu tenha de andar parece é daquelas bonecas russas que tira uma e tá outra e assim sucessivamente. Mas frio eu nem gosto nem de pensar quanto mais de sentir. Tambem se eu escorregar numa pedra mais geladinha eu não vou nem me magoar de tão almofadado eu estou. Ai como eu gostava de estar no outro ponto onde mesmo que chove está uns 29. Mas não estou e não vou nem mais lembrar hoje essa tristeza que me acompanha. Vou ver os carcamanos daqui e quando estiverem distraídos lhes arranco uma fotografia, porque teimoso sou eu e mais nada.
Até breve, de algures no mato gelado do norte da Europa que me enganaram a dizer que aqui é que é bom e coisa a tal, uma ova.

Sanzalando

10 de dezembro de 2009

A 4ª desde aqui

Enjaulado numa jaula de frio percorro a cidade e o campo. Chamar cidade a este lugar é o mesmo que a antiga estória da cidade e o mato, mas isso não é para aqui chamado a não ser para aquecer o ambiente.
Hoje metendo as pernas ao caminho fui ver verde, muito verde, aqui e ali interrompido por um casarão que só de pensar em limpar um dia eu fico logo a transpirar e por isso sigo caminho. Mas se me falam do lugar onde eu devia estar e que não é este onde estou a dizer cobras e lagartos então deviam conhecer este canto do mundo que é conhecido quer por Gram Bertanha, Inglaterra, Reino Unido, Velha Albion e sei lá mais o quê... vê-se logo que eles não se entendem. Mas a educação ficou na esquina ao sair de casa. Só pode... Se tem possa de água da muita chuva que aqui está sempre a cair, só para para refrescares os olhos num brilho solar por segundos, eles passam todas as rodas do carro para te darem um monumental banho. E é de propósito que eu bem vejo. Se estás na passadeira e queres atravessar... melhor mesmo é esperar que não venha nenhum pois te passam a ferro sem cerimónia. E se estás a tirar fotografia... ISSO É PARA QUÊ perguntam eles na língua deles e com ar de quem te vai arrancar o coração mesmo através da roupa toda que trazes vestido. Como a gente não se entende, eu finjo lhes desconhecer a língua, lá vou eu para a praia mais umas tantas vezes e até apaguei uma foto que apenas tinha um sinal de trânsito que a casa atrás nem se percebia... Outro mundo, dizem-me sem me conseguir convencer.
Mas na verdade lá vou andando à procura da inspiração para uma ideia que me surgiu faz tempo e a preguiça tem impedido...
Verdade verdade é que eu prefiro o campo à cidade, seja aqui seja lá.

Sanzalando

9 de dezembro de 2009

A 3ª desde aqui

Faz agora são meio dia mas parece ainda é madrugada. Acho hoje alguém se esqueceu de pôr despertador e o tal de astro rei hoje não veio trabalhar. Chove parece vai acabar agora a água do céu e amanhã o dia vai ser igual ao dia que eu estava a imaginar que eu merecia estar agora a usufruir. Assim como assim e como os músculos não aguentam mais fazer as caminhadas da guerrilha do conhecimento por entre ruas estreitas e húmidas, braços segurando capas, chapéus e gorros optei por ficar da janela a ver o mundo circular por ali em baixo faz conta eu sou o senhor central.
Olha aquele ali vai de manga curta pensa deve ser o Tarzan dos tempos de agora, ou então desregulou o central computador da tola dele mesmo e nem sente está frio de rachar que gente humana que nem eu não consegue nem aguentar só de pensar.
Meninas, aquecedores ao máximo que o vosso lord, your sweet lord, vos ordena. De facto ninguém me ouve e estou eu aqui de sobretudo vestido em quase impossibilitado de esticar os dedos para te falar as coisas que eu te queria dizer. Como é que eu logo à noite posso ir ver o Peter Pan no teatro se nem consigo respirar o ar frio que não me entra na casa?

Sanzalando

8 de dezembro de 2009

A 2ª desde aqui

Olhei pela janela e estava sol. Afinal aqui deve ser o lá, pensei eu com os meus botões, quando reparei que eu estava de t-shirt e por isso eu estava mais que enganado. É certo que ainda não tinham batido as oito no relógio da Lageosa que é a mesma hora que aqui e deve estar frio como está frio aqui. Experimentei ir sentir o sol brilhante e logo me arrependi pois tudo congelou que se fosse necessário só de lupa eu me ia encontrar. Salsichei-me com mais roupa e gorro e luvas e ainda mais um outro casaco. Não sou esquimó nem pinguim mesmo que assim vestido o meu andar lhe pareça. Como é necessário manter a moleirinha arejada, esquecer as luzes amarelas e pretas da vida vivida, há que fazer caminhadas. Não posso ficar enlatado dentro do meu quarto a ver o tempos se solidificar no gelo conservador de memórias. Lá fui salsichado pelos caminhos desta terra que tem língua que nem sei como eles se entendem neles mesmo. Tank you disse eu num quase soletrado a quem me deixou atravessar a estrada como que tivesse adivinhado que eu ia olhar primeiro para o lado errado. Andei e andei horas por subidas que aqui são assim ladeirinhas de trazer por casa. Cansado eu precisa dum poiso para pousar a bunda e retirar os tantos kilos destes pobres pequenos pés.
Encontrei o Royal Bowls Club, Pareceu um sítio bom e num envergonhadamente passo lá fui entrando. Estava quente e tinha uns sofás que me convidaram a sentar. Olhei e não estava ninguém a quem pedir licença pelo que sentei mesmo sem estar com licença. um grande tapeie verde feito de alcatifa de pelo curto estava bem esticada por aquele chão. Duas dúzias que eu não contei mas calculei ali estavam a tirar bolas que parecem queijos contra um bola verdadeiramente redonda e mais pequena que atiravam primeiro. Das duas dúzias eu quase dizia que dúzia e meia joga aqueles queijos há mais de um século. Se estiver errado não é por muito. Só estou a imaginar se não inventassem uns ferros para os apanhar do chão alguns deles iam lá em baixo lhes buscar e depois tinha de vir a ambulância lhes levar para um esticar de corpo.
Retemperada a força e recuperada a energia dum nescafé quente lá voltei a pôr as pernas ao caminho.

Sanzalando

7 de dezembro de 2009

A 1ª desde aqui

É, mesmo daqui que eu te falo as coisas que vão me apetecer te dizer. Este aqui é um aqui que é ao contrário do aqui que eu queria estar mas é neste momento o possível. Se eu tivesse aqui um mapa eu te dava as coordenadas e coisas similares para saberes onde é este aqui. Mas como o não tenho, eu te digo apenas que é aqui, do outro lado do tu estás, do teu calor eu aqui recebo o gelo do ar que dói só de lhe respirar, aqui olho primeiro na esquerda e depois na direita se quero atravessar a estrada. Só por me esquecer disso já ouvi trinta e uma buzinadelas e acho a minha mãe mudou de nome outras tantas. Acho até eles já me mandaram na praia pois acho que já ouvi na beach umas quantas vezes e eles não vêem que está frio de rachar até a rocha mais dura?
Mas hoje é daqui que eu te falo até os meus silêncios que as palavras podem sair congeladas da minha boca.
Eu te estou a ouvir perguntar nos teus pensamentos porque é que eu estou aqui.. Me enganei? Afinal só estou mesmo para estar no cinzento escuro do dia de inverno a pensar no dia claro do teu verão e sentir que me fazes falta, ou não.
Hoje ainda estou a aprender alguns sons que eles dizem é a língua deles, a ver como vou sair daqui sem levar com um carro em cima do meu corpo frágil e aprender a comer comida que eu nem sei mais é o quê. Só a fome me faz eu lhes comer.
Até já, my lord, me sweet lord.


Sanzalando

5 de dezembro de 2009

Instantes (21)

Sinto muito mas parti. Já me fui. Desculpa-me.
Entendes, não é verdade?
Até acho que já fui tarde, a vida não me tem sido boa e eu já cansado de lacrimejar, fujo em direcção ao sol, palmilho milhas de água salgada, e levo como bagagem a lembrança dos instantes que passei a olhar-te com olhos de amor. Gostava de poder me reinventar, recordar sempre o teu rosto de olhar distante, mas já não posso mais. Já não tenho mais instantes para te dar, já não consigo olhar-me como se eu fosse o único dos dois a possuir amor.
Sinto muito, mas parti. Já me fui.
Deixei-te a minha verdade que pode ser mentira, a minha ficção que pode ser verdadeira, o meu amor que pode ser um brilho duma estrela do céu.
Que sejas feliz depois deste instante!

Sanzalando

4 de dezembro de 2009

Instantes (20)

A realidade é que as nossas vidas se foram afastando. Primeiro geográficamente e, progressivamente, até ao ponto em que hoje eu não sei como és e quase tenho a ceteza que não sabes como sou.

As palavras que nos podiam ajudar a comunicar, encortar todas as nossas distâncias, se encontram nos espaços do silêncio, prisioneiras do passado, afundadas nos medos, caladas nas sepulturas dos fantasmas que inventámos, nos receios de sermos o que afinal sempre fomos, nascidos um para o outro.

Afinal de contas também este amor não passou de um instante nas nossas vidas.


Sanzalando

3 de dezembro de 2009

Instantes (19)

Tantos instantes houve em que guardei a minha expressão do teu olhar. Não queria glotificar-te nem te envaidever por saberes que estaria ali alguém que amar-te-ia até à morte, por instantes ou eternamente só o tempo o poderia dizer. Mas eu guardei para mim muitas expressões, olhares, sorrisos, aparencias perfeitas, máscaras de felicidade ou olhares de tristeza para não reconheceres a minha identidade verdadeira. Escondi-te como se isso fosse o perfeito, o reconhecimento da tua superioridade, a tua linha aprumada dum rumo delineado a régua e esquadro.

Tantos instantes houve em que tu poderias ter sido feliz, mas a tua arrogância, altivez, comportamentos fora de moda deitaram a perder sentimentos humanos. E eu, se calhar outros, fomos perdendo os instantes, um atrás do outro.


Sanzalando

2 de dezembro de 2009

Instantes (18)

Apenas num instante e se escapam sentimentos por entre palavras abruptas que feram corações. Lembrei-me disto porque dei comigo a recordar-me dos teus silêncios que chegavam a ser insuportáveis. Cada dia que passava, cada dia em que eu te procurava como que se fosse o ultimo dia da minha vida, recebia a dor surda no peito do teu de desinteresse agoniado no meu olhar. Pensava eu que eu era o mais forte do mundo mas cada dia passado era uma prisão de raiva acumulada que explodia nas palavras que dizia no meu interno silêncio. Pelo menos assim não explodia à luz do dia nem seria motivo de chacota porque não me ligavas, porque me despresavas, porque nem sabias que eu existia ali ao teu lado.

Eram essas palavras ditas em surdina, misturadas com o teu silêncio, que faziam que cada instante fosse de raiva amalgamada de amor que eu não mostrava senão ao meu espelho.



Sanzalando

1 de dezembro de 2009

Instantes (17)

Por um instante senti que me abraçavas e logo comecei a sentir saudades dos teus abraços. Curiosamente comecei a sentir as saudades dos teus abraços e não de ti. Que estranha sensação a de sentir necessidade da tua protecção. Mas eu nunca tive um abraço teu… e já quero outro? Será que deixaste por aí abraços perdidos que eu um dia encontrarei e este meu sentido de prever futuros irreais me alerta já?
Na verdade eu acordo diariamente com a necessidade de olhar-te e como não te vejo preciso dum abraço de silêncio.


Sanzalando

30 de novembro de 2009

Instantes (16)

Não sei em que instante me encontro mas na verdade tenho ganas de sair por aí a correr, correr contra o vento que trás a areia amarela e fina do deserto e que me pica as pernas nuas dos calções de caqui como se fossem afiadas agulhas dum qualquer vodoo. Tudo porque sei que nesse instante eu me ia esquecer do teu gelado modo de me tratar, a ortografia das palavras que não pronunciei iam ser esquecidas nas páginas do tempo e eu continuareia a ser o menino rebeldemente apaixonado na contra natura da classe. Nesse exacto instante eu não me iria preocupar com o que hoje estaria a dizer sobre ti, nem me iriam cair as lágrimas secas dum choro surdo que faz tempo choro na escuridão da solidão. Nesse instante, que eu não sei qual é, jámais me iria preocupar com os erros que posteriormente cometi, os sorrisos que fiquei por sorrir, a verdade que calei, os gostos que fingi não ter.

Nesse instante, ou noutro qualquer semelhante, eu não me lembraria de perguntar o que é feito de ti depois deste tanto tempo que durou o instante.


Sanzalando

28 de novembro de 2009

Instantes (15)

Pensando em ti peguei no carro e com a minha falta de experiencia o deixei ir abaixo uma ou duas vezes. Queria ir espairecer, esquecer-me de estar ali na varanda a ver se te via, porque isso não é vida. Depois de ter conseguido arrancar, de janela aberta, ouvindo o vento que soprava para dentro afoguei as palavras que ia me dizendo em surdina. Nessa altura, me lembro como se fosse hoje, fumava, conduzia e falava os meus discursos indirectos numa sintonia do rádio que dava a mesma música umas tantas vezes por dia porque estava na moda. Estacionei o carro na beira da praia e fiquei a admirar o azul celeste do céu em contraste com o azul mar do mar.

Parou o barulho do vento em turbilhão na janela e as minhas palavras eram audíveis pelo que me silenciei por estar farto de me ouvir lamentar dos amores que não me tinha e que eu apaixonadamente sofria. Era Sábado, Domingo ou Segunda, porque podia ser um dia qualquer, já que quem sofre de amor não escolhe nem a semana.

Ainda me parece ver reflectido no vidro a minha imagem de gente triste sem lágrimas, ouvir o choro que não se via e apanhar no chão as tristezas que soltava nos ais calados.

Peguei novamente no carro, abafei-me nos ventos laterais e segui sem rumo numa estrada que ainda percorro como se esse instante não fosse mais que a eternidade da paixão efémera.

Ainda hoje, quando olho nas estrelas eu vejo o céu azul celesta dessa adolescência glorificada.


Sanzalando

27 de novembro de 2009

Instantes (14)

Foi apenas mais um dos erros que eu cometi: calar-me sob o teu olhar quando te podia dizer as coisas todas que afinal nunca te cheguei a dizer. Foi um erro eu ter dado conta que não eras o que eu queria que fosses mas apenas eras o que eu queria para mim. Foi um erro dar-te todos os meus instantes nas oportunidades que não me deste em troca, para eu te demonstrar a minha verdade, o meu querer e a importância que eu queria ter em tua conta. Foi um erro eu querer dar-te abraços e muitas palavras de amor sem ser o teu igual mas o teu paralelo assimetrico que te via nas esquinas dos passeios com ganas de ser gente antes de tempo.

Foi um instante errado que me fez tremer de medo ou de frio. Ainda espero ter respostas para os instantes em que dei conta que pensava que podia ser feliz contigo.



Sanzalando

26 de novembro de 2009

Instantes (13)

De instante a instante o tempo passou. Voltaram os medos, as dúvidas e me fui esquecendo do som das suas palavras. Não me esqueci de ver o porte altivo como às vezes me olhava. Não era para me ver nem para perceber o que eu fazia ali. Era mesmo só para dizer que eu não devia estar ali. Nem era preciso dizer uma só palavra. Bastava ouvir o seu olhar.

E eu, sempre fixado na mesma ideia, sentia no ar uma promessa de encontro. Reenconro afinal, porque eu já tinha tido um olá. Eu sabia de cor e salteado todas as palavras que lhe ia dizer. Ia ser um regalo. Mas afinal foi apenas galo. Nunca houve esse encontro que eu pensava ia ser reencontro. Foi um instante que se evaporou por falta de tempo para ele acontecer.


Sanzalando

25 de novembro de 2009

Instantes (12)

É hoje, me disse eu para me encher de coragem. Ninguém imagina, ninguém espera, por isso hoje é um bom dia para eu lhe dizer tudo o que lhe sinto. Desde madrugada que eu decoro as palavras, o calor que lhes ponho, a entoação que lhes devo dar. Ensaiei tantas vezes que até de olhos fechados eu vejo o lugar, as testemunhas e o ar do sítio que eu escolhi. Bastar-me-á uns segundos para uma nova era da minha vida começar.

Basta um instante e a normalidade feliz voltará a mim.

Todo o caminho repeti vezes sem conta. Cheguei e talvez por ser feriado não havia ninguém. Era feriado e estava frio. Querem-me ver que hoje não abre a praia? Voltei para casa e me esqueci de mim porque mais uma vez eu tinha perdido por outras causas o meu instante.


Sanzalando

24 de novembro de 2009

Instantes (11)

Naquela noite fui ao cinema. Queria sair da rotina e como sempre impontual cheguei estava no intervalo. Mas foi no cinema que ela me tinha dito a primeira palavra. Um longo e eterno olá. Três letras que me marcaram como um discurso de horas doces. Como eu queria ser feliz, voltei ao mesmo lugar e tentei ali reouvir o olá como se ele tivesse ficado estático ali para eu lhe ouvir tantas vezes eu me tivesse vontade. Cheguei e ouvi o silêncio do ruído circundadnte e nem uma letra saída da voz que eu reconhecesse ser a dela. Devia de ser por eu ter chegado tarde ou ter escolhido erradamente o momento.

Foi um equívoco meu. Afinal de contas eu só queria ser feliz e reviver o momento e não tinha esse direito. Só podia ser castigo da minha impontualidade e de ter perdido o instante real.


Sanzalando

23 de novembro de 2009

Instantes (10)

Recordo-me daquele instante como se ele tivesse sido agora. Já o vivi tantas vezes de memória que basta clicar aqui num pay mental e ele se projecta que até parece um filme.

Naquela tarde em que chovia, como só chovia na minha terra, uma gota a cada 10 minutos ou coisa parecida e a gente ficava desolada com tamanha chuva, ela me olhou, sorriu e me disse olá. Era para mim porque ali só estava mesmo era só eu. Aceitei aquele olá como se ela o tivesse dito com todos os amores do mundo e sorri num engasgar de sons que tentavam dizer um olá de retribuição. Era de todo inesperado aquele momento que seria igual a tantos outros se não houvesse no ar o som estático dum olá que me foi dito.

Aquele lugar ficou marcado para sempre como o lugar do primeiro encontro. Pena mesmo é que a chuva não deixava ouvir uma música dum carro ou de outro lugar qualquer para eu dizer que a música tal era a nossa primeira música e ainda hoje eu lhe ia cantarolar.

Aquele instante ficou marcado. Era o primeiro encontro.

Aquele instante também ficaria marcado como o último.


Sanzalando

21 de novembro de 2009

Instantes (9)

Hoje me deu para ver uma manhã de praia, quando lhe ia de noncakus, tronco nú, mostranto meu corpo de Tarzan, após rigorosa dieta e esqueleto bem desenhado sobre a pele bronzeada. Quando lá cheguei, a vi esbelta no seu biquini, que tenho uma vaga ideia de ser um azul certeza, se é que essa côr existe. Olhando-a, deu para ver que ela antes de sair de casa pergunta ao espelho quem é a mais bela da cidade. A ideia não foi porque lhe achei mais bonita que nunca, isso já me havia passado com o tempo, foi apenas porque me recordei que as bruxas devem ter espelho em casa e eu agora tento lhe arranjar defeitos para mais rápido lhe esquecer.

Me sentei no ecran de cinema e fiquei ali a lhe olhar para ver que o nariz assim, o peito assado, as pernas eram pernas. Vulgarmente diria que fiquei ali a arrajar defeitos que não consegui ver.

Olhei-a de alto a baixo e raios me partam que perdi a vontade de sair daquele poiso onde tinha amplo campo de visão.

Ela foi dar um mergulho e naquele instante acabei por ficar sozinho a pensar-me.


Sanzalando

20 de novembro de 2009

Instantes (8)

Sempre me disseram que a aventura da vida era bonita e merecia a pena ser vivida. Só que nunca me disseram que às vezes doi. Doi quando sofremos desgraças mesmo que essas sejam a felicidade de outras. Na verdade ela não olhava para mim e via outros. Eu dorido odiáva-os silenciosamente nesses instantes.

Doi quando nos deixam no silêncio dos sentimentos vazios, recolocados num lugar secundário, na insignificancia da quase inexistência. Afinal de contas eu era tão transparente que ninguém me via.

Mas eu tinha de ter força para ultrapassar todas essas dores e esperar que um dia o dia ia sorrir para mim, eu ia ver o que eu sempre quis ver, eu ia sentir o que sempre desejei sentir. Mas um dia, assim num instante, mudei de ideias e as dores passaram a ser outras, os olhos passaram a ver doutra forma.

Enfim, doi por instantes ter instantes.


Sanzalando

19 de novembro de 2009

Instantes (7)

Era de manhã, uma manhã de cacimbo, daquelas manhãs em que apetece é ficar na cama e deixar o corpo ir embora no repouso, na falcidez da descontracção e se tiver tempo sonhar com coisa nenhuma de importância. Mas nessa manhã isso não pode acontecer e lá fui eu na rotina de aluno de liceu. Como sempre me cruzei com ela e lhe disse olá com todos os meus orgãos e ela mais uma vez ensurdeceu selectivamente para mim. Me disse para mim num grito gritado para dentro que acabou, me fui desse amor donde nunca devia ter entrado. Era tão tarde que a lágrima correu pela cara como naquele quadro replicado mais que as casas todas deste e doutro mundo. Doia dentro do corpo e fora dele uma dor surda como os ouvidos dela e cega como quem vê apenas com o coração e se esquece da razão.

O cacimbo mais se cerrou ao ponto de eu me ter escondido atrás dele num ninguém me vai ver sofrer de amor mais vez alguma na vida.

Como sempre, também esse instante passou.



Sanzalando

18 de novembro de 2009

Instantes (6)

Lembro-me que um dia acordei, sem me lembrar de ter dormido, com um deslumbrante sorriso na cara. Acho que me deitei com ele, ou sonhei e ele se me colou na cara. O amanhecer se me entrou no quarto e me fez erguer como nunca havia conhecido. Sai correndo. Me cruzei contigo e nem me parei para te admirar o que me admirou ainda mais. Corri sem parar até chegar ao liceu. Entrei nele como nunca tinha acontecido. Dei-me a pensar se quem estava ali no meu corpo era mesmo eu ou estava possuido. Era estranho e nem o sorriso se me descolava e o amanhecer não parava de acontecer. Deu para ver que no liceu estava mais gente. Afinal de contas o meu mundo não era só ela. Eu ri, eu gargalhei e eles outros muitos me olhavam com ar de espanto e me retribuiam sorrisos e abraços. O sol estava lindo como que a tirar todo o sobreado que podia restar na minha cara.

Ela chegou e me disse olá. Olá retribui e o instante se acabou ali.


Sanzalando

17 de novembro de 2009

Instantes (5)

Já não me lembro a que horas anoitecia porque era no tempo em que o tempo não me fazia falta. Mas era no tempo em que eu esperava sentado na cadeira de baloiço, que era do meu avô e estava na sua varanda, que tu chegasses e fosses à tua varanda receber o entardecer. Eu olhava-te sabendo que tu nem sabias que eu estava ali. Mesmo que virasses o teu olhar para mim tu não me vias, porque tu não querias ver pequeno. Eu odiava-me e acho que o fazia por ti. Mas todos os dias eu fazia o mesmo ritual porque sabia de cor o teu. Adivinhava-te.

Quantas vezes me entreguei à tua presença e tu nem notaste, nem reparaste.

E depois do anoitecer, recolhia-me e sonhava naquele instante em que altivamente respiraste o entardecer que te entrou na varanda.


Sanzalando

16 de novembro de 2009

Instantes (4)

Às vezes apetece viver rápido para não ter tempo para pensar. É um sentir frágil, assim tipo bolinha de sabão que voa num até rebentar. Tu fizeste-me ser essa bolinha de sabão porque cada vez que as minhas pernas tremulamente me levavam para ti, eu tinha uma fracção de segundo para ver o teu perfil e a eternidade para ver as tuas costas.

Ainda hoje penso porque é que elas teimavam em caminhar na tua direcção. Certo é que até as minhas pernas queriam ver as lágrimas choradas para dentro. Assim foi um dia, um mês, um tempo que me esqueci faz tempo. Mas a fragilidade de te olhar ficou, a instabilidade da bolinha de sabão, cá está.

Hoje, não me tremem as pernas, treme-me a voz quando te penso. Esse instante, quando acabará?


Sanzalando

14 de novembro de 2009

Instantes (3)

Ela gostava de ouvir as minhas estórias e eu contava-as todos os dias. Acrescentava todos os dias uma nova especiaria como querer dar um gosto especial. Tentava sempre ser o protagonista principal, mesmo quendo a estória só tinha passdo ao lado ou na imaginação. Eram as minhas estórias que ela ouvia. Eram estórias cadentes de sentimento, constelações de argumentos, nublosas de paixão. Cada palavra era composta por letras escolhidas com ternura para dar colorido ao enredo. Algumas vezes as estórias eram escritas numa sebenta de capa vermelha para mais tarde serem relidas, mas não tinham o mesmo sabor porque estavam arrefecidas de sentimento. Tinha sido esse o caminho que eu tinha escolhido para lhe conquistar o coração. Não queria espadas nem outras armas, violências apenas de carinho nas corres berrantes de cada letra pintada na minha voz sentida da estória contada.

Como qualquer instante, este também passou.


Sanzalando

13 de novembro de 2009

Instantes (2)

Sentia felicidade em pensar nela, imaginava o seu corpo sedoso ser percorrido pela minha mão, trentava trasportar-me para além do desejo, ultrapassar a fronteira da resistência do espirito e ter capacidade de lhe dizer tudo o que sentia por ela. Sentia-lhe o perfume, ouvia-a respirar e ainda não lhe via. Diziam-me era química. Todos os dias era química e todos dias viajava na imaginação a caminho da felicidade. Quantas e quantas vezes desejava ter ar para respirar, afogado que estava em tanta paixão. Platónica, claro. Tantas e tantas vezes a minha mente rebolava para instantes de loucura, actos imaginados de verdadeiro prazer.

Foram instantes que passaram na minha vida.


Sanzalando

12 de novembro de 2009

Instantes (1)

A vida mais não é que a soma de uns instantes de ternura, amor, desejo, paixão, felicidade, tristeza, dor, loucura, desespero e sofrimento. Estes instantes podem ser fugazes ou duradouros, estão na memória ou num qualquer baú do esquecimento. Fazem-nos parte mesmo que não estejam presentes neste instante.

Hoje dei-me a sonhar com as fotos dos meus 13 anos, da altura em que não imaginava o que eu queria ser quando fosse grande, interessava-me apenas em ser feliz naquele instante. E era-o. Se eu pidesse recuar no tempo tenho a certeza que não retocava em nenhum instante desse tempo.

Enfim, foi apenas mais um pequeno instante da minha vida.


Sanzalando

11 de novembro de 2009

tenho um coração

Tenho um coração que bate ao ritmo dum relógio, às vezes parece-me que bate acelerado, mais depressa que outras que bate lentamente como que a poupar-se. Mas ele bate no meu interior e na maior parte das vezes nem me lembro que ele está por lá, no meio dos meus medos e sentimentos, na amalgama das minhas dúvidas e emaranhados de certezas. Algumas vezes eu penso mesmo que ele está ausente em parte incerta, vagueando demente por esse mundo louco e deixa-me pensamentos que eu chamo de sonhos, labirintos de incertezas, lágrimas de muitas cores e causas. Outras vezes dá-me um deserto de palavras para eu compor um puzle que compreenda a minha existência, pese o valor dum amor impossivel, observe um sorriso inexistente.

Tenho um coração que me deixa enfrentar o futuro, que me atira para um mar desconhecido em que suspiro em cada braçada, que me eleva às nuvens num apara quedas irrecuperáveis, que me desperta melancolias e gemidos de saudade.

Tenho um coração que hoje faz anos, lentamente num ritmo acelerado.


Sanzalando

10 de novembro de 2009

49 - Estórias no Sofá - O Príncipe e a Princesa

Era uma vez um conto de fadas. Ao contrário, é claro. Um conto de pessoas imperfeitas e em que as acções não têm nem valentia e nem aparecem heróis lendários. Até o próprio lugar é um lugar comum, poluído pelos gases dos muitos carros que engarrafam todas as ruas da cidade. Cidade repleta de prédios, onde num por aqui ou por ali se encontra ainda um que tenha uma história do tamanho da memória. Não muito grande, é claro! Uma cidade cheia de obras, que não são de arte, embora muitos sejam os artistas que nela circulam.

Mas dizia eu que era uma vez um príncipe e uma princesa, sem reino próprio qualquer deles, que viviam felizes nessa cidade, ou pelo menos viviam tranquilos, transparecendo um mar de calma que era interrompido de quando em vez por banquetes faustosos ou viagens luxuriantes por estrangeiros fora de portas. Mas eram felizes estes príncipes amantes. Tudo lhes parecia perfeito e o futuro não lhes incomodava.

Mas na verdade, um dia, sempre há um dia nestas coisas da vida, a princesa desconseguia de ver o horizonte e agarrada à escuridão da vida se deixou levar pela letargia. Todas as noites gritava, sonhava que a morte lhe beijava os lábios e perdida de medo foi-se fechando cada vez mais, putrefacta em ansiedades irreais.

O príncipe, angustiado, lutou contra fantasmas e foi desferindo golpes carregados de irracionalidade e de indiferença. Mas toda a sua luta caia num vão sem fundo e a princesa cada vez falava menos enquanto construía um muro de incompreensões.

O reino inexistente, aos poucos, se foi consumindo e os meses passavam mortos num cinzento calendário enquanto a cidade se engalanava para grandes festas que em breve iam acontecer.

Um dia, ao acordar numa qualquer manhã, a princesa deu conta que nessa noite não tinha sonhado com a morte. Esboçou um sorriso, curto, rápido que ninguém teve tempo para dar conta. Aquela pessoa que havia sido um complemento perfeito da felicidade tinha para sempre desaparecido dando lugar a um ser vivo quase morto, vazio e carente de alma.

O príncipe tentando manter a mente sã rodeou-se de gordura e deixou-se perder na floresta de cimento, todos os santos e diabólicos dias e noites. Cada vez com mais frequência voltava ao seu palácio, madrugada alta, descalço, desorientado no andar e carregado de falsos pôr de sois que lhe queimavam os poucos pensamentos de outrora.

Na cidade passou a reinar o silêncio, o sorriso era pálido para não dizer incolor e já ninguém se lembrava do príncipe e princesa que embelezavam as festas faustosas e badaladas. Dela nem um rumor se ouvia. Dele, contavam-se estórias, quase sempre nocturnas, carregadas de vinhos e fumos de fazer rir, mulheres bonitas e paixões de faca e alguidar.

E a cidade crescia, para os lados e para cima numa similitude ao príncipe que se afundava no pântano da divida, traição, vingança, bruxaria, feitiçaria e onde mais iria parar se esta estória não acabasse aqui?



Sanzalando

9 de novembro de 2009

Novembro, mais um

Suspiro como se o oxigénio estivesse a acabar e me recolho no meu passado como se tivesse medo de olhar para amanhã. Me abraço, num apertado abraço, como se estivesse a segurar-me para não fugir, muito embora nunca me tivese prometido que ficava.

Se eu pudesse prometer estar eternamente a teu lado… mas nada é eterno e é possivel que o estarmos de mãos dadas num espaço não seja mais que um pequeno esquecimento, um vício de forma e que os maus momentos acabem por esconder todos os bons momentos que juntos tivemos.

Amanhã já é o futuro?

Como é que me sinto?

Pergunto-me coisas sem nexo, apenas para não me lastimar as horas que perdi sem brincar.

É um Novembro quente. Mais um.


Sanzalando

8 de novembro de 2009

Aniversário do BLOG

Get your own free Blogoversary button!


2003, 8 de Novembro editei aqui o primeiro post.
Era um estilo diferente. Era temática diferente. Mal de mim se estivesse sempre na mesma linha. Arthemis veio dar uma preciosa colaboração, criando verdadeiros momentos de arte gráfica.
Agora, neste início de futuro só me resta descubrir se continuarei por aqui.
É por isso que ontem fui agraciado com mais uma deferência. Amanhã logo se verá.
Estará cacimbo ou um radiante dia de sol?
Este blog não sabe porque nunca sabe como é que vai ser o dia de amanhã.
Sanzalando

As Horas de Domingo (7)


Sanzalando

7 de novembro de 2009

BLOG INSTIGANTE

Nothingandall é um blog instigante


Nothingandall nomeou A Minha Sanzala como Blog Instigante.
Ao que sei a origem do selo de reconhecimento 'Blog Instigante' premeia os blogs que, além da assiduidade das postagens e do esmero com que são feitos, provoca-nos a necessidade de refletir, questionar, aprender e – sobretudo – que instigam almas e mentes à procura de conhecimento e sabedoria.

Quero agradecer esta nomeação.

Como é da norma "os blogs agraciados devem escolher cada um 7 blogs com as características acima descritas e deverão copiar a imagem do selo e o texto acima , adicionando-a aos espaço que convier", aí vão agora os sete blogs nomeados pel' A Minha Sanzala:



Sanzalando

6 de novembro de 2009

Hoje doi

Esta manhã, quando acordei, tentei, de olhos fechados saber de ti. Procurei, estendendo os braços, algo que dissesse que estavas ali ou que eu estava em ti. Por não te ter conseguido acariciar abri os olhos para te ver ainda em sono profundo. Apaixonadamente procurei-te como quem levita numa nuvem de paixão. Infelizmente, mais uma vez, não estavas ali nem eu estava em ti. Gargalhei num gargalhar nervoso, transpirei suor de ansiedade, iludi-me no perfume que imaginei cheirar. Tentei imaginar a causa desta paixão, rebusquei memórias, fui buscar todos os sonhos sonhados e por sonhar, revi imagens, retratos, pinturas e um cento de outras coisas. Desde o mais antigo ao meis recente artigo encontrado no aquivo da memória vejo apenas paixão e desconsigo encontrar a causa, dessei o porquê desta doença que me mina a saúde e me leva o sorriso até se afogar nas lágrimas de dor que não se sente. Só sei que deixo sempre a porta entreaberta na esperança que tu um dia por ela adentro entres.

Hoje doi, porque doi sempre a transição, o medo de não ter capacidade de sonhar mais sonhos, de mudar o rumo do futuro na incerteza do que pode vir a sê-lo, o fim do planeamento e o recomeçar de cada instante como se fosse o primeiro de sei lá o porquê. Hoje doi, porque não sei se sei contar um conto, uma estória, que me deixe docemente adormecer sem saber se cheguei à perfeição, ao ponto final do meu desejo. Hoje doi, porque não sei se te inventei ou se existes mesmo. Hoje doi, porque não sei se o sonho chegou ao fim ou não.


Sanzalando

5 de novembro de 2009

dourados sonhos sem côr

Me sentei na secretária com o olhar de ver para dentro.
Tem hora que é preciso a gente se espreitar, ver se tem algum ponto que não levou a tinta que costuma dourar o dia.
Hoje o dia não parece que quer ficar dourado e a janela entreaberta faz com que o assobio do vento ainda mais o empalideça. Me olho num rever de pontos cardinais e até parece que já não sei onde fica o norte, o sul, o este e o oeste, sendo que apenas me lembro é dos filmes de cóbois em que este assobiar do vento é acompanhado por um novelo de capim que percorre em velocidade uniformente acelerada a rua principal que por sinal é a única. O sol já não brilha quando ainda é hora dele estar replandescente, o silêncio da metade da tarde é interrompido por um precoce cair da noite.
Hoje não vou dourar o sonho apenas porque não lhe sonhei.

Sanzalando

3 de novembro de 2009

sonho que sonharei ainda

Vou a passo lento até a um qualquer café ou bar, onde me possa sentar à sombra, saborear mentalmente um cigarro, que assim não me faz mal nem me polui o ar à volta, ler umas páginas dum jornal recente ou antigo que as notícias faz tempo são iguais, beber uma ou outra cerveja gelada, degustando-a como se fosse a última e esperar que a barba se me cresça num grisalho aspecto vagabundo.

Já sei que me sentarei de perna cruzada, dispararei os olhos para além do alcance visual até conseguir ver as coisas que desejo num desejo quase pesadílico.

Já sei que quem me olhar vai ver o mar da tranquilidade reflectido na minha cara como que esboçado sorriso dum estar tudo bem para além dos sonhos.

De vez em quando regressarei ao meu físico poiso, olharei à volta e verei o temperado tempo que passou desde a última vez que me interessou ver o que me rodeava. Encontrarei os nobres, fidalgos de outras eras, os novos e velhos ricos, os pobres que o continuam sendo, as mulheres que tiveram os seu tempo e os homens que se esqueceram de ter tempo, as crianças barulhentas deixaram de brincar na rua que passou a ser imperturbável caminho para lado nenhum, o passeio leva ao passado gravado nas fotos trabalhadas dos novos retratos, os apaixonados seguirão as lágrimas como se fossem papagaios de papel, presos numa guita já não visível pelos meus cansados olhos.

Retomarei a leitura enquanto me projecto para os sonhos que sonhei num passado que não sei quando foi e tento adivinhar para onde me dirijo enquanto o perfume do outono me seca a pele, me entope as veias, me quebra o cabelo e me leva, como se fosse ao colo, para os cacimbos que o perfume da terra molhada teima acordar todos os dias.

Sanzalando

2 de novembro de 2009

como gostava de ter sido um sonhador

É de tarde duma tarde que avança rápido fazendo com que a minha intranquilidade se instale a uma velocidade inesperada. Com isto vou esquecendo pequenas coisas da minha estória, regresso à vida sabendo que há sonhos que ainda não sonhei, que a minha bela estampa se ofusca nas rugas do tempo. A cada tarde segue-se uma noite veloz, escura, que me apaga a silhueta antes esguia e me leva a sonhos pesados de esforço.

É o tempo que viaja sem se deter no presente e deixando-me o passado como um fardo pesado. Valem-me os sonhos que sonhei no tempo de ter tempo para os sonhar. O tempo não é magnânimo e não me dá alternativa ao túnel que atravessa a tarde até ao chegar da noite. Quando ele era lento eu não tinha medo dos sonhos que um dia o iam deixar de ser. Agora… muitos sê-lo-ão para sempre apenas sonhos. Antes, de chapéu sobre a farta cabeleira e cigarro no canto da boca eu sonhava nos períodos incertos nas certezas que ia tendo, agora, cabeça queimada do sol que os brancos cabelos já não têm força de proteger e respirar ofegante dum cansaço inato, mal consigo chegar ao zulmarinho onde possa estar de olhos postos no amanhã sorridente dum dia de outono pensado em cacimbo que se vai levantar não tarda.

Foi o tempo que passou, às vezes a passo lento, outras em veloz correria, umas vezes sem deixar marca, outras marcando-me com indeléveis riscos o corpo.

Bebo uma água mineral fresca, recordo a arrumação dos sonhos por capítulos, cruzo as pernas, enquanto olho com olhar tranquilo, para os casos das coisas que ainda me falta catalogar.

Como eu gostava de ter sido um sonhador.


Sanzalando

31 de outubro de 2009

viagens

Parti em viagem, de sonho em sonho, engarrafado no trânsito, em busca de mim. Aportei em portos que nem eu sabia que os havia, corri sem respirar para não perder a minha memória de dúvidas. Tantas vezes caí que se as fosse contar não teria nunca feito outra coisa. Viagei alegre umas vezes, carregado de tristezas outras tantas, umas vezes com a alma feita em fanicos e outras sem ela mesmo, umas vezes em espirito outras de corpo apenas.

Nunca, mas nunca mesmo, viagei para fora do meu mundo de sonhos.

Percorri mundos sem fundo e fundos sem fim, tatuei pensamentos, bordei palavras em recantos da memória, caminhei ao sol ou à sombra, na estrada e por ar, no mar e no sofá, parei em sinais e sem sinal curvei-me, vi fantasmas, tive alucianções, morei em assombradas casas.

Nunca, mas nunca mesmo, sai dos meus sonhos porque procuro a ilha onde eu tenha o meu lugar de ermita sem tempo.


Sanzalando

30 de outubro de 2009

minha rua

Posso subir e descer a minha rua umas mil vezes que esta nunca será a minha rua. Jamais saberei de cor todas as pedras desta rua como imagino que sei as da minha rua. Aquelas pedras tinham brilho mesmo nunca tendo sido polidas senão com os calções cardados do meu tempo de criança, tinham um nome que só eu os sabia. Se calhar o Zé lhes tinha dado um nome também que não eram igual ao meu. Mas aquelas eram as pedras da minha rua mesmo que a rua fosse de mais outros alguéns.

Posso sair da mão dada, ouvir a música já gasta e riscada, que esta não é a minha rua. Posso dançar contigo na minha memória, fazer ridículas figuras de brilhantes olhos castanhos que ela continua a não ser a minha rua, aquela rua que me viu tantas vezes na esquina à espera de te ver passar, mesmo sabendo que não me ias ligar nenhum.

Eu sei que louquei por sonhar ver a minha rua onde passearia contigo de mão dada.

Será que alguma vez pensaste se eu teria mão para te dar? Eu pensei tantas vezes na sedosa mão que seria a tua…

Mais um sonho vão que se perde num qualquer vão de escada numa rua que não é nem nunca será mais a minha rua, nem nunca terá as minhas pedras que eu sabia de cor.

Assim, não sei quando sentirei o delírio de ser feliz, numa rua que um dia eu possa dizer que é a minha rua.



Sanzalando

29 de outubro de 2009

sonho-te

Sonho-te com algo novo e que me perdure, na memória e na alma. Eu sei que podia ter escolhido outra razão para os meus sonhos, mas tu foste-me imposta pelos subconscientes da vida. Podias ser mais linda, mais jovem, mais interessante, mais tanta coisa e eu se calhar nem te conheceria e jamais te sonharia como te sonho até que um dia ele se torne realidade dum novo sonho.

Na verdade tu não sabes o que gosto ou não, na realidade nada sabes dos meus sonhos nem das minhas forças e fraquezas. Nem sabes que o meu sonho é ver-te feliz. Nem sabes que eu existo, quanto mais estas tantas coisas que eu te digo nos meus silêncios.

Um dia, sem hora marcada, saberás da minha existência, conhecerás a minha estória, saberás de tudo o pouco que há de saber de mim e dar-me-ás o que eu nestas palavras caladas tanto te tenho pedido.

Guardo na minha intimidade o teu nome, o teu rosto, perfume de mulher tropicalizada na geografia da memória porque eu sei que um dia me darás o olhar e atrás deste virá o sorriso e depois o brilhozinho nos olhos.

Sonho-te sempre e um dia atrevirarei-me a ver-te ser feliz comigo num delírio de tontarias.


Sanzalando

27 de outubro de 2009

Não sei se sonhei

Não sei se sonhei, se ouvi ou inventei que atrás das coisas bonitas está algo terrível. Mas me deu para pensar que por trás de ti deve estar alguma coisa horrivel, tragédias ou tempestades, dores e hemorragias de lágrimas, assim numa de dar para vender e ainda sobrar. É que nos meus sonhos tu apareces sempre bela, mesmo quando me apareces enfaixada numa manhã de cacimbo, rodeada de areia fina que vem no sopro do vento que chega do deserto.
Bela de beleza que as palavras não conseguem nem pintar num esboço de aproximação, mesmo com as palavras doridas dum ou outra lágrima. Já sei que esta dor tem algo de belo uma vez que ela é sentida na alma, na espiritualidade do sonho tornado desejo. Talvez seja por isso que a gente sente dor num doer inexplicavel, numa sofisticação de ser humano.
Não sei se sonhei ou não, mas a verdade é que a tua beleza faz com que eu esqueça a minha não existência para além da contemplativa. Um dia qualquer eu faço uma festa à vida, sonhe ou não contigo.

Sanzalando

26 de outubro de 2009

tarde de outono

Não sei o que se passa comigo. Num repente tenho a estranha sensação de ter acordado a meio da noite, mesmo ainda sendo de tarde num entardecer de outono, e sinto no ar o perfume das acácias floridas duma avenida que já foi Barroso. Mas sinto dum real sentido perfeito que a noite calada que ainda não chegou aparece-me carregada de sombras como se fossem memórias vagueando em mim. Sinto ao mesmo tempo o ruido da terra que não tarda vai aguentar o peso da noite. Mas ainda é de tarde num entardecer de outono e não uma manhã de cacimbo que perfuma as acáciads deste meu sonho de sonhar acordado. Deve ser um acidente de percurso, uma explosão do céu que se abate por mim numa ferida de saudade.

Ao longe, muito longe parece-me ouvir o uivo dum cão. Perto, muito perto, ouço o choro duma criança. Eu sou o centro, ponto médio da incógnita, num entardecer de outono que sonho noite dentro.

Na verdade não me lembro como acaba, o sonho, o entardecer ou a noite. Por esta ou outra ordem qualquer.

Me lembro apenas os barcos que sem passageiros ou tripulantes ondulam ancorados na minha baía de memórias.

Afinal os sonhos são sonhos e pouco mais que isso podem desejar ser, mesmo num fim de tarde de outono cuja noite promete ser de silêncios, mas perfumada com o perfume das acácias floridas desta ou doutra qualquer avenida porque o sonho ainda é livre.


Sanzalando

24 de outubro de 2009

ainda olhar


Aprendo com os meus olhos a olhar para todos os lados, até para dentro de mim. Vejo-me desejando tornar realidade os sonhos que sonho, as imagens que invento numa realidade virtual, os desenhos que esboço nas muralhas do tempo. Vejo-me a sentir o teu perfume como que a fazer parte de mim. Enfim, sou um afortunado que na escuridão consegue ver-te, sentir-te, desejar-te. Pena mesmo é, que nesse escuro encontre os meus lamentos, porque vou perdendo a memória da tua textura verdadeira, o odor do teu perfume real, o calor dos teus abraços. É assim uma mistura de memórias e realidades, um surtido de coisas doces alternado com nuvens de sabor amargo.

Mas com os meus cansados olhos ainda tenho esperança de te ver em toda a minha volta como que a dançarmos à roda num banho de humildade, fraternidade dum mundo que foi feito não apenas para nós dois.
Os meus olhos não me enganam, mesmo quando estão fechados a olhar-te por dentro, num ver-me de sentido futuro arrastado por brisas, ventos ou tempestades.

Através dos meus olhos sonho-te, sinto-te mesmo quando não te vejo.
Prontos, dizia a criança que passava ao pé de mim enquanto eu distraidamente delirava com a tua beleza que faz tempo não saboreio, ao mesmo tempo que me olhava com ar de quem quer perdoar-me algo que não lembro de ter feito ou dito. Se calhar queria dizer-me que sou nada, um perdido neste lugar que através das palavras que soletra com os olhos de lágrimas se quer encontrar. Não sei e olhando para os seus olhos de inocência ternura não me apeteceu perguntar. Fiquei-me pelo prontos num pronto de olhar fixo.
Afinal de contas, as minhas recordações estão memorizadas na retina.

Sanzalando

23 de outubro de 2009

com os meus olhos

Abro os olhos e nem sei o que vejo. É o desassossego da curiosidade, o nervoso da calma numa mistura de desejo pesado sobre as costas, fardo compartido num boca a boca do diz que disse. É tudo uma salada. Eu quero, logo penso que posso e sonho. Mas a realidade abraça-me, abana-me e mostra que afinal não é assim. O querer já é um começo da viagem. Do mal o menos. Aos poucos vou diluindo os meus tormentos, vou descarregando as costas do fardo de palavras, a memória esvazia-se de recordações sonhadas que não passaram disso mesmo, o que acaba por dar lugar a novos sonhos e açucarando novos desejos ardentes. Um dia, eu sei, vou-te abraçar, sentir-te o perfume, ver-te ao pôr do sol, navegar nas tuas lágrimas de alegria. É um sonho fácil. É pena que os meus olhos já não vejam com o brilhozinho nítido de outros dias. Mas o sonho continua a ter o mesmo colorido, a mesma intensidade. O sonho não é volátil, pode mudar como muda a areia do deserto, mas muda a forma, apenasmente. O sonho não é inflamável, não queima amarguras, tristezas nem se torna mais leve por fazer cinza.

Abro os olhos e já não vejo com a nitidez doutras eras, quando tinha todo o tempo do mundo.

Mas os meus olhos ainda conseguem ver um oásis, o desfazer de muralhas, algumas mentais e outras reais. Afinal de contas ainda consigo ver o meu umbigo. Sou um afortunado, sortudo.


Sanzalando

22 de outubro de 2009

Silencio no intervalo

Às vezes se nos escapam palavras abruptas por entre doces sonhos, outras, palavras sem sentido, são ditas no calor da alma encadescente duma raiva escondida. Mas todas as palavras mostram apenas a alma, o estado de alma ou a alma dum estado. Às vezes as palavras são ruidos, insuportáveis, o mesmo se passa com a insuportabilidade da nossa alma. Enfim, às vezes as palavras são como a dor no peito, surda, assustadora, mesmo sabendo que estamos em plena saúde. As palavras fazem-nos sair das nossas prisões, transformam um infernal dia num resplandecente dia de sol, transformam calados silêncios em imagens reflectidas num qualquer espelho de expressão. As palavras traduzem os meus sonhos, contam-te na aparencia perfeita, na rima incompleta, na máscara ou na realidade dum qualquer photoshop aquilo que me sai desses sonhos que tu sabes que eu te sonho.

Às vezes me apetece modificar uma ou outra, transformar um sonho noutro, mas falta-me tempo, inteligência, paciência, capacidade ou mesmo um somho plausível.

As palavras, meio de comunicação, de confusão, aglutinação ou afastamento, são como os sonhos que sonho-te com as palavras como uma salada de frutas, um estado de alma.

Mas são os sonhos que te sonho e como posso eu modificar este sonho de te poder sonhar em cada segundo? Com outras palavras? Não as sei! E os silêncios são apenas pedaços de tempo que uso para respirar no intervalo dos sonhos.



Sanzalando

21 de outubro de 2009

não sei

Caminho por caminhos tantas vezes já caminhados, revejo passos que dei, identifico marcas nos meus velhos passos e vou revendo os galhos que se me vão aparecendo no caminho, sempre como se fossem a primeira vez que os vejo. Donde vem isto tudo? Em que é que me converti? Será que eu sou apenas fruto da ilusão, filho do sonho? Pergunto-me o porquê de tantos passos pelos mesmos caminhos se eu já perdi a confiança de ser boa pessoa, de receber o que mereço, ou acho que sim, dependendo da perspectiva. Questões menores para grandes sonhos que perdi numa qualquer praia deserta, num amanhecer de verão em que sorria com a vontade estampada na cara por ter esperança de que um dia, mais cedo ou mais tarde, eu te abraçaria como se abraça uma amante que se ama de verdade. Quem sabe me perdi no labirinto dum qualquer sonho mal sonhado, numa lágrima de sangue que não derramei. Os meus olhos me vêem e o meu cérebro não me reconhce. Me convenço cada vez mais que eu sou fruto dum sonho, dum encontro casual duma ideia com o desejo, dum riso aberto com uma lágrima de dor, da consciencia com o subconsciente, da ilusão com o sofrimento apagado dum caminho sem fim.

Não sei se ganho, se perco, se choro ou gargalho, sei que sou feliz assim neste sonho. E um dia, cedo ou tarde, deixará de ser sonho e será realidade.




Sanzalando

20 de outubro de 2009

Coincidências do caraças


Uma amiga, fã desta página (vaidade minha é claro) escreveu, inspirada no meu 'post' de ontem: "guiado pela mão" no google e aparece em primeiro, de presente especial para ti a interpretação fantástica do côro do teu Namibe natal ... (não sou natural do Namibe mesmo tendo lá vivido a maior parte da minha vida, minha terra é mesmo no Planalto)
abri o link e na apresentação encontro: Coro de Moçâmedes a cantar no casamento.....
Agora ela me imagina desde o pontão de Alvor, pé ante pé, de onda em onda a caminhar até mesmo quase lá. É que eu de comoção não sei se conseguiria chegar lá e respirar ainda.
Hoje saiu um 'post' diferente porque me apeteceu ser diferente hoje.

Sanzalando

19 de outubro de 2009

sonhos...

Acho não preciso fazer malabarismos, truques de magia que desconheço totalmente, nem preciso de ter uma concentração fora de normal. Afinal de contas o que eu faço é apenas sonhar. Coisa simples de sonhos simples. Não preciso ficar de ar pesado nem deixar crescer a barba e despentear o cabelo para manter os meus sonhos que sonho num dia a dia a cada hora.
Um dia, eu sei, vou olhar para trás e vou ver uma multidão assim a caminhar como que a me seguir. Eu sei que também pode ser apenas um sonho como os outros sonhos, só não sei se vai cair na estante dos realizados ou no porão dos não. Mas isso o tempo é quem vai me dizer e não estou para competir com ele. Essa multidão gritará o meu nome. Espero eu não estar à frente a correr com ar de quem foge, mas estar com ar sereno de algum profeta da esperança.
Sonhos frenéticos sonhados fora da cama, ilusões sorridentes dum futuro carregado no presente e alicerçado num poderoso passado.
Afinal de contas eu continuo com o SONHO!


Sanzalando

16 de outubro de 2009

palavras

Passo a palavra pelos meus lábios, que os sinto secos. Quase apetecia dizer que não servem para nada, nem para afogar mágoas, nem clarear trevas, nem para apagar dúvidas. São as mesmas palavras que descrevem as mesmas dores, angústias e que me atravessam o espaço como lanças directas a uma qualquer parte de mim. Há palavras que me vhegam ao coração, outras que dele partem, palavras soltas e acompanhadas, salgadas e doce, para todos os gostos e muitos desgostos. São estas as que uso para te mostrar o que me sonho para ti, as que me aquecem a alma e refrescam o coração. São palavras tantas vezes feitas lágrimas, outras tantas feitas gargalhadas de esperança num soluçar interior. Por vezes te digo as palavras que caminham descalças no meu interior deserto, escaldante, não só árido como também poeirento/nublado e sempre pouco claro. Te digo palavras sem sombra, vazias, inexistentes, carregadas de dor afogadas de riso. Apenas uso as palavras com que te quero acariciar, mostra-te o que de mim resta quando não me estás, o que amargamente choro e alegremente vivo. São palavras vulgares que se gastam no tempo até desaparecerem na memória do esquecimento.

São estas as palavras que a minha voz rouca te querem dizer, todas as coisas que te tenho para te dizer, todos os sentimentos que te tenho sentido.

Faz tempo que não tenho tempo para te dizer palavras de chuva, cheiro de terra molhada. Enfim, hoje não encontrei a palavras certa para te dizer.



Sanzalando

15 de outubro de 2009

me disseram ao ouvido e eu acreditei

Assobio alegre nuns olhos que riem sem mentir. Me disseram assim num pertinho do ouvido que as minhas palavras quando lhes digo saem assim como que bonitas que até metem raiva. Corei na altura ao mesmo tempo que dava pulos de contente sem mexer um único músculo. Faz conta não percebi, não entendi ou não ouvi. Mas lá dentro de mim tudo foi no céu e desceu num rapidamente para manter a compostura. Algumas palavras eu queria dizer mas até a garganta ardia. Foi inesperado. Caminhei para me recompor e entrar novamente nos meus mundos, no real e nestes sonhos que sonho com a vontade que seja real. Complicado.

Já sei, sigo o conselho, me meto aí no meu mato, lá em cima nesse planalto que o Arquitecto fez como o mais lindo do mundo e donde eu posso ver até o deserto se desaguar no mar como se fosse um rio de águas douradas. Aí, eu vou falar num não calar mais e contar todos os sonhos, todas as curvas da vida, todos os olhares que olhei e os que me olharam, as lágrimas que chorei e as que guardei para mais tarde chorar. Aí, nesse meu planalto, eu não vou sentir mais a tristeza da solidão, a impotência na tristeza e a solidão impotente, porque vou ter como companhia as minhas palavras, alegres gargalhadas de sonhos que um dia eu gostava de ter vivido e por isto e por aquilo ficaram para amanhã eu poder apenas contar. Aí, no meu planalto, os meus ouvidos vão ficar atentos para te ouvir mesmo quando choras para dentro para não me incomodar, os meus olhos vão fixar os teus e as minhas mãos vão acariciar as tuas até não poder mais olhar porque alguém te vai dizer ele morreu.

Porque me falaram assim pertinho do ouvido coisas doces que eu não devia ter ouvido?

Quando mesmo é que eu vou acordar? Assim nem que apeteça eu vou despertar.


Sanzalando

14 de outubro de 2009

faz de conta

Faz conta estou a sonhar que sou um anjo, assim de verde florescente, pairando como que estivesse a voar sobre os campos, sobre os rios e parando sobre o mar. Faz conta canto uma canção de amor, acompanhado por uma arpa, que um piano é mais difícil de transportar, mesmo para um anjo. Faz conta consigo fazer esboçar um brilho nos olhos, uma constelação de sorrisos uma troca de ternuras. Faz conta consigo fazer soprar uma brisa, de sabor a mar, que faz com que as árvores dancem suave e melodiosamente. Faz conta consigo criar paz, transformar o outono no calor tórrido dum trópico. Faz conta sou acompanhado por um coro de pássaros e em orquestra cantamos as nossas canções de amor.

Faz conta que esse anjo que sou, de verde florescente, cantando canções de amor não é mesmo de faz de conta, mas puramente de ficção.

Anjo complicado este, que para além de verde florescente e cantando coisas de amor é um fingido de faz de conta que te amou, te ama e te amará, mesmo quando tu nem olhas mais para ele como nunca olhaste na vida.



Sanzalando