Boiando, como que a descansar, dentro do zulmarinho vou aparando ideias, limando conceitos e polindo sonhos. Fosse eu uma caravela ao sabor da corrente e deixa-me-ia adormecer por aí fora. Reparo nas minhas mãos arranhadas e percebo que tantas vezes tenho de lutar porque caí e tenho que me levantar. Dói-me a cabeça, talvez porque as lembranças pesam, as lágrimas gretaram-me a cara, o passado me atormenta e o futuro me assusta. Noto que tenho dificuldade em respirar talvez pelo cansaço dos monstros que tive que derrotar.
Boiando sobre o zulmarinho, como a descansar, imagino que é difícil estar só mas a gente se habitua e os sonhos, pensamentos e ideias se vão aparando, limando e polindo.
Aqui, deixo o meu corpo passar sobre lixos que vivi, sobre possas de sangue que vi, sobre suspiros que ouvi e gritos que fingi não ouvir. Aqui me deixo correr, céu aberto e sem uma única nuvem para eu tentar adivinhar um objecto nela desenhado, me deixo livre e imagino que logo a lua vai ser bonita, que as estrelas vão cintilar como nunca, mesmo que eu me continue a contorcer como que a fugir do mundo.
Aqui, esqueço aquele olhar que fingiu não me ver, aquele sorriso que me esconderam, aquele obrigado que não disseram e leve bóio sobre o zulmarinho, porque o amor faz parte de mim, misturado nas monstruosidades calejadas destes anos a palavrear ideias, sonhos e pensamentos.
Também aqui o tempo não pára excepto para aqueles que partiram para uma estrela celestial ou boreal como dizem os científicos que eu cá não sei.
Aqui digo que nem sempre a vida é justa nem o destino é belo, mas é o que tenho e me deixo leve boiando no zulmarinho chorando sem que eu dê por isso.
Afinal de contas eu ainda não cresci!
Sanzalando