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17 de abril de 2020

confinamento social

E se de repente alguém lhe oferecer flores, desconfie. Ou não. Sorria. É, nesta altura que me inventaram o confinamento social, oferecer seja o que for dá trabalho. Lavar as mãos com sabão, bem lavadinhas que não é enxaguar, passar por solução alcoólica as mãos lavadas, receber as flores, tirar as flores do papel de presente, colocar numa jarra com água, lavar as mãos com sabão bem lavadinhas que não é só assim um borrifar, e passar outra vez por solução alcoólica. Mas na verdade a gente muda de hábitos mas não muda quem a gente é de verdade.
Eu cá vou segurando as pontas porque sei que falar com as paredes não é coisa agradável, ainda por cima se elas forem duras de ouvido como são de cimento. Tem uma vantagem, a gente descarrega o que vai até na alma e não fica nem entupido por dentro. Coisas do confinamento social.
Mas, dizia eu, vou segurando as pontas mesmo sabendo que ninguém se importa se a parede abana que até parece que a casa cai. Eu preciso de mim e isso é o mais importante para eu ser quem é que sou. Os meus ombros carregam fardos, mesmo nunca eu tendo pegado em nenhum. Mas é uma expressão bonita e fica bem por aqui, sempre dá um ar de quem trabalha. É a vida neste confinamento social. O politicamente correcto é o que mais se ouve. Mas se o mundo explodir, assim num modo de cheirar tão mal que nem uma máscara do tempo da guerra nos faz não vomitar a bílis que escorre do colédoco para o duodeno, deste reflui para o estômago e num repente sai pela boca que nem explosão vulcânica, aí a gente vai dizer porque não existiu o confinamento social

Sanzalando

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