Chove. Não é a chuva da minha infância nem as tempestades da minha memória. Passeei nas ruas da minha cidade, fui no bairro dos ricos, para lá da Sanzala dos Brancos, nessa zona onde a cidade perdeu a simetria e as ruas sem saída cresceram na proporção do dinheiro que ganharam. Eu fui lá com medo de um dia me dizerem eu não conhecia a minha cidade. Fui na torre do Tombo e só reconheço a casa do tio Mário e a sede do Ginásio. Eu fui ver o meu passado a pente fino.
Eu descobri que afinal não sou de ferro. Eu me machuco. Às abertas e claras eu também choro, sofro e me desespero. Eu sou humano e tenho os meus momentos mais fracos. Cada vez menos, é verdade. Me conheço cada vez mais e assim me surpreendo cada vez menos. Já senti dores que não tem remédio que cure. Já sangrei almas que não tem paixão que comprima. Já ouvi milhentos alarmes. já me ceguei de raiva, já me amarrotei de humilhações.
Cheguei aqui e em pé. Pronto a percorrer a minha cidade de futuro, o bairro da Mineira, da Facada, Forte de Santa Rita que esqueceram de fazer lá um forte a condizer com o nome. Ou era porque a Santa Rita era gordo? Estou pronto par ir no Parque infantil e desafiar a gravidade por mais Sousas que hajam.
Chove e eu não me importando mesmo.
Sanzalando
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