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31 de dezembro de 2021
Dezembro-me de 2021
Nadei por oceanos sem ondas, já que fui fazendo o meu caminho paulatinamente, tomando decisões com cuidados para não deixar feridos, feridas e outras dúvidas por esclarecer. Errei, acertei e tudo fiz para fazer bem o que ficou feito. Se houve ondas ou as minhas pegadas ficaram vincadas nos terrenos lamacentos, por onde tive ocasionalmente por passar, tenho a certeza que não foi por intempestiva passagem minha. Todo o caminho pelo qual agora me dezembro foi feito com cuidado e pensamento, não tirado à sorte de algum acaso mais azarado.
Não fui por emoções, fui por decisões; não fui por ser importante ou por fazer falta, fui por desejo; não fui por bondade ou interesse, fui por coração.
Dezembro-me com minhas palavras ditas e silêncios guardados. Dezembro para me janeirar um dia destes.
30 de dezembro de 2021
Bom ano e novas ideias
Tantas vezes caminhei por aí de olhos fechados na esperança de ter um sonho inesquecível. Não é que a fantasia faça parte do meu dia a dia, do meu estar, da minha presença, mas sim porque às vezes apetece sonhar coloridamente, segundos irreais que animem ruídos silenciosos e insuportáveis, que recordem lembranças adormecidas no subconsciente, que afastem dores insensíveis porém causadoras de incerteza ou dúvidas. O cenário real é lindo mas às vezes precisamos de um momento transcendente, dum lugar inexistente, insuperável e inesquecível.
Tantas caminhadas num ano que se acabam as pernas, as ideias e as palavras.
Não querendo lutar com os meus sentimentos deixo os meus medos, as minhas tristezas, as minhas dúvidas e receios ficarem neste ano e vou livre e limpo de impurezas para o próximo, sabendo que, a responsabilidade dum mundo melhor, não é minha.
Bom ano e novas ideias
29 de dezembro de 2021
futuro
E quase o ano a terminar. Há palavras por dizer? Claro. Amarguras, diabruras e outras azias também tiveram direito ao seu lugar. Tristeza? Para quê? Num ano, temos direito a tudo e, quem disser o contrário, não esteve cá. Sorrindo se caminha pela vida fora. Cada vez com menos futuro mas vivendo o futuro que ainda resta com alegria. Na verdade somos extraordinários quando temos a facilidade de acreditar em nós. Como quando temos o sentimento de honestidade para conosco. Há sempre alguém se alegrou por nossa causa em algum momento. Há sempre alguém que nos fez feliz num tempo demarcado. Há vida!
Quase o ano a terminar e ainda há palavras para caminhar nos caminhos escolhidos da vida.
Em cada dia um futuro encontrarei.
28 de dezembro de 2021
é só frio
Ás vezes caminhar ao frio causa arrepios. Não sei se é do frio se é do pensamento. As mãos regelam ao ponto de doerem. Acho que quando caminho ao frio fico mais sensível. Sinto mais o que vivi no caminho que ficou para trás. É empírica esta dedução mas tomo-a por verdadeira. É a minha verdade não confirmada cientificamente. Com o frio eu caminho por ideias que penso ter-me-iam levado à loucura noutro contexto. Fico sentimental ao ponto de duvidar da minha caminhada, dos passos que dei para aqui chegar. Eu devia de andar com um calendário-relógio- mapa. Tudo em um. Assim eu nao olvidada nenhum pormenor, nenhum caminho feito, nenhum passo despassado ou somente tropeçado.
Com as mãos enrugadas, da idade ou do frio, vou por aí, sem deter o tempo e sem preocupação de corroborar as minhas ideias com ideias feitas ou desejadas noutros caminhos que não fiz.
Guardo a minha fúria, seja ela grande ou microscópica, num buraco do caminho sem o sinalizar para mais tarde não o reencontrar.
Afinal é só frio o que sinto, porque logo à noite as estrelas brilharão eu eu penso é verão dentro de mim..
27 de dezembro de 2021
caminho palavras
Não sei se já caminhei no inferno. No paraíso sim, naquela terra quem, sem maka, sem ruido, sem mágoa, seguro que podia seguir tranquilo. Eu sabia que ali não podia incendiar os meus pensamentos nem queimar memórias. Ali sem chamas eu senti-me indestrutível, Naquele lugar eu acho virei pintor dos meus quadros mentais, convertido ao amor numa paixão descontrolada. Sim, eu já caminhei no paraíso. Acho que nunca pisei o inferno. Nunca senti o queimar da mente ou das mãos.
Afinal de contas eu apenas caminho em palavras.
25 de dezembro de 2021
Troca de correspondência entre mim e o Pai Natal
Faz conta eu sou criança ainda, na terra que nunca nevou, que faz frio parece é verão no outro lado, onde estarei no futuro de mim. Faz conta também eu ainda não acreditava no pai natal nem sabia que havia um mundo de unicórnios, de fadas e duendes, de renas que voam e felicidades espontâneas. Fazendo essas contas todas, ainda te peço para fazeres uma vez mais de conta que nessa altura eu te escrevi um carta que tu, por qualquer motivo, a tiveste esquecida num bolso desse teu casaco felpudo vermelho e a tivesses encontrado agora, que já não sou essa criança, que já estou num norte dos muitos nortes por onde andei, que passei a acreditar nesse mundo mágico dos unicórnios, fadas e duendes. Não precisas de responder às perguntas que então te fiz porque estão desactualizadas já que comprei o forno que te tinha pedido, que já tenho o carro que tanto tinha desejado, já fiz tantas acções boas como as que te tinha descrito como fazíveis ou desejadas. Nessa carta eu não te perguntei mas aproveito agora para a fazer e essa gostaria que me respondesses: porque todos pedem que te escrevam cartas se depois tu dás o que te dá na gana?
Eu, assinado por baixo, uma criança que se adultou, que continuou a ver o mundo com olhos de ver e sentimentos de sentir.
nota: eu próprio, em nome próprio, assino e me responsabilizo do que digo e afirmo, e não é que obtive resposta, desta vez pronta, manuscrita em letra caligrafada de um velhote que deve ter tido aulas de caligrafia, no tempo em que se tinham as aulas sem opções de escolha:
Querida Criança já adulta
Espero que te encontres bem, que esse cabelo que tinhas e que estava na moda não te tenha caído todo e esteja só esbranquiçado e aparado, já que imagino também ralo e fino num deixar ver a pele de baixo dele. Tens toda a razão e eu de facto deveria ter-te dado o que me pediste, o tal forno que só muitos anos depois soubeste de verdade para o que é que servia e lhe deste uso; não te dei o carro porque sabia já tinhas imaginação para grandes viagens sem teres que sair do lugar, tinhas grandes sonhos que vieste a cumprir sem teres de conduzir horas a fio como tanto desejavas, já davas valor às pequenas coisas que te rodeavam que achei não tinhas necessidade de longas distâncias para saberes que a felicidade estava ali ao teu lado; todas as acções eu sabia que eram facilmente feitas ou adiadas a termo certo porque te conhecia e sabia que davas valor às coisas, até às mais simples, mais insignificantes e sempre lutaste para obter o que tanto desejavas e não te agradaria receber as coisas de mão beijada.
Atenciosamente o teu
Pai Natal.
nota: já faz tempo as crianças deixaram de me escrever cartas, mandam-me agora Twitters, e-mail ou similares.
tão espantado fiquei que com a minha letra quase indecifrável, em papel timbrado há muito em desuso rabisquei:
Querido velhote amigo e pai Natal
Senti-me muito feliz por receber de imediato a tua carta. Eu sei que é ainda Natal e nem tiveste tempo para repousares apesar da tua idade ser eternamente a mesma.
Tive recentemente duas prendas lindas, a Francisca e a Constança, a que juntei muita gente à volta num babar de avô, que me trouxeram a alegria de ser criança outra vez, que me fizeram acreditar no mundo mágico da tua existência. Mas naquele tempo que te escrevi a carta tu davas-me sandálias, quando sabias que eu jogava e andava bem descalço, que as meias e calções podias dar-me noutra altura do ano. Se te falei do forno foi porque me lembrei tarde na vida que aquela divisão da casa servia para fazer comida, mas podia falar-te na bola de futebol onde eu poderia ter ganho muito dinheiro sem fazer tanto esforço ao longo do tempo, eu podia ter ganho fortunas se me tivesses dado o monopólio.
Eu fiquei agora a saber que afinal sempre foste olhando por mim pelo que te perdoo as injustiças que me fizeste no tempo em que eu era criança no lugar onde nunca nevou, que sempre fui tendo o que desejava e precisava, que a superficialidade de ter não foi substantivo da vida.
Assinado e datado por mim
Querida Criança velhota
Sim, sabes que vejo tudo e tudo sei. Dá graças por teres uma família grande, de muitos ramos como ramos têm as árvores frondosas. Segue vivendo a tua vida, olha pelas netas, olha por quem está à tua volta e te admira e te está grata. Segue olhando, segue em frente vivendo e não tenhas dúvidas que o teu passado faz parte do teu presente, do presente delas e do presente do futuro delas. Mesmo quando parecias um idiota, mesmo quando nas brincadeiras te diziam que te faltava algum jeito, mesmo quando te punham de lado, mostraste ter um valor que hoje está patente na tua história de vida, no gostares de ser a eterna criança bem comportada.
Segue em frente porque há mais natal no futuro
Pai Natal, assinatura reconhecida no notário celestial.
24 de dezembro de 2021
5ª descontagem de Natal
E eis que chegou este Natal. É fácil ainda saber quantos natais eu passei. Quantos festejei?! Aqui a vida já se torna difícil porque a aritmética não é assim tão linear. Hoje é a noite de Natal. Expecto para o bacalhau, peru, polvo e cabrito. Logo será hora de abrir os presentes, as prendas ou lá como é que querem chamar, depois de comerem à farta, de abraçarem os que nos rodeiam, que nos aturam, que nos fazem felizes, que fazemos felizes. Os outros também. Hoje ainda é dia de fazer aquela chamada telefónica, deixar uma mensagem na mais variada das formas.
Hoje o mundo para para se festejar o Natal. Quando falo o mundo falo deste mundo que eu vivo. Mundos há que festejarão outra coisa qualquer noutro dia qualquer. Mas eu falo deste meu mundo. Festa da Família, festa de renovar a Esperança. Mesmo que seja só a nossa, mas que alargamos aos outros.
Quem diria que o tempo passou tão rápido. Do outro Natal a este nem deu tempo para eu saber as coisas que prometi e não cumpri, ainda... Nem deu tempo para olhar para dentro de mim e ver o estado em que estou e o que posso prometer para o próximo Natal. Surpresa!
Agradeço todas as visitas que me fizeram, as que ainda me vão fazer, as que fiz de bom agrado, porque só fiz essas.
Feliz Natal, seja ele qual for.
23 de dezembro de 2021
4ª descontagem de Natal
E eis que estamos quase chegados ao dia que dizem nasceu o dito menino. Também nunca ouvi dizer que alguém tenha nascido grande, já adulto e carregado de milagres, embora a história tenha para ali um hiato de algumas dezenas de anos.
Me disseram, mas ainda não confirmei nas minhas notas e nas minhas mais variadas fontes, que está sentado à direita do outro dito pai de todos. Não sei se lá no sítio também existe essa coisa da direita e esquerda, mas cá em baixo isso deixou de ser importante e passou a ser social ou liberal ou coisas que eu não entendo. Mas também não sei se é nalgum gabinete ou é num open space como agora é moda ou se é num deserto de oliveiras ou simplesmente superfície lunar. Verdade seja dita que desde a data do seu nascimento até ao dia que o pregaram na cruz só sei de um tal Lázaro que era preguiçoso e começou a andar e duma Madalena que dizem as mais variadas coisas e eu não sei qual é a verdade verdadeira das tantas que falam, assim como dum graal que me deixa assim para os lados de não entender mistérios e ministérios sacramentais e tantos livros mais.
Ou seja, a estória bem falada é só no Natal e na Páscoa. No intermeio é especulação que agora deve estar reduzida por causa da troika, da pandemia e da DGS que não atina com meias medidas, que aqui entrado eu, em modo Natal, acabo por sair sem saber se fiz bem ou mal, se posso ou não posso, se devo ou desdevo.
Assim sendo termino o modo Natal e logo se verá se haverá palavras ou se serei castigado pelo artigo Y dos 10 mandamentos que devem ser mais, com tantas correcções, aditamentos e e outras circulares.
Assim sendo, preparo-me com fato domingueiro para ir ao Galo, à missa do Galo sem que ele seja um grande Peru.
Assim sendo, preparo-me com fato domingueiro para ir ao Galo, à missa do Galo sem que ele seja um grande Peru.
22 de dezembro de 2021
3ª - descontagem de Natal
É estória de Natal. Não vou comprar presente. Nem um.
Não conheço Jesus, esse que nasceu no dia 25. Só mesmo de ouvir falar dele. Se eu lhe conhecesse eu lhe dava um presente. Vários até. Lhe dava discos da Marisol, filmes do Josélito, albuns do Ádamo ou do Art Sullivan, Rita Pavone ou Giani Morandi ou se calhar de Jacques Brell. Ou então podia ser mesmo só os cartazes do cinema. Acho de Jesus ia gostar. Imagina ele sentado no balcão do Cinema do Eurico. Judeu loiro e olhos azuis, feito super star a cantar um dueto com Aznavor. Oh, ia ainda lá no fundo uma de Piaf.
É só estória de Natal que vem na memória o filme do Ben Hur.
A neve que cai nos presépios mesmo dos trópicos.
É na estória de Natal que a gente vê a quantidade de gente que passou ao longo do nosso ano e que se perderam no tempo e com dificuldade a gente se lembra até do nome.
Cumpri o meu dever e contei uma história de Natal que escrevi como estória da minha memória dos carros de plástico feito e que eram até perfeitos que a gente nem lembra mais a marca.
É uma estória de Natal que a gente faz falar bem, mesmo sabendo que amigos teve que não passam o natal porque se foram antes para incertas partes da vida.
É uma estória de Natal que até tem uma árvore que safadamente me pisca como que a querer que eu lhe sorria.
Sanzalando
21 de dezembro de 2021
2ª descontagem de Natal
E lá estava a família reunida, num presépio de palha feito, aquecida pelos bafos respiratórios dos múltiplos animais testemunhas da ocorrência, porque, segundo me dizem, nesse dia está sempre a nevar, mesmo em terras onde nunca caiu neve, preparando-se para comer o bacalhau cosido com todos, importa salientar que não faço a mínima ideia o que sejam todos e outros a comerem o peru recheado, que deve ser um animal muito raro que só há nesse dia assim preparado, pois nos outros é mais bife do dito que se vê, ou então polvo ou cabrito, conforme a geografia e os apetites que se mão mudando com a idade e latitudes.
Mas dizia eu que estavam todos reunidos e decidiram que a partir daquela data todos os anos haviam de trocar presentes, mesmo que fossem repetidos e já não houvesse espaço ou necessidade em casa para mais.
Também ficou decido que naquele dia, assim como nos antecedentes e posteriordentes se poderiam comer muitos doces que não faziam mal, bem como fritos ricos em gorduras e borrifados com açúcar. E para não haver confusão com natalidade até meteram um acento num dos doces e ficou filhós.
Nada de confusões que o espírito da quadra não é beligerante nem confusionante e por isso se enrolam estas palavras em lacinhos, sininhos e cintilantes luzes a imitar as estrelas da lua cheia num luar sem poluição.
Nada de confusões que o espírito da quadra não é beligerante nem confusionante e por isso se enrolam estas palavras em lacinhos, sininhos e cintilantes luzes a imitar as estrelas da lua cheia num luar sem poluição.
Sanzalando
20 de dezembro de 2021
descontagem para o Natal
Poderia contar aqui a estória dos Três Reis Magros, que após atravessar o deserto ainda estavam pior, seguiam duma estrela decadente porque decaía no céu o que dá ideia que só viajavam de noite, ainda não tinham inventado as estrelas de Hollywood nem os calendários da Pirelli, e que chegados ao destino, um lindo e pobre presépio, foram apresentados sem pombas e nem circunstâncias.
Um, por ser muito feio e rangia tudo ao andar, se diz chamar Belo Chior, outro porque se arrastava por causa do reumático lhe chamaram o Raspar e ainda um outro que tinha cara de mau e não tinha sorte nenhuma, por isso, era conhecido por Malta Azar. Lá chegados encontraram um burro, um boi e talvez mais animais a protestar porque a sua, deles, mangedora, estava ocupada por uma criança que dormia na tenra palha que lhes haviam deixado.
O resto da estória está contada em muitos livros e qualquer semelhança desta com as estórias que por aí circulam deve ser mero copianço ou prenda de Natal não embrulhada em palavras coloridas e enfeitadas com luzes de muitas cores e picantes ou piscantes conforme a dislexia de quem vos conta esta coisa só porque foi possuído pelo tal de espírito de Natal.
Sanzalando
19 de dezembro de 2021
o meu pai fazia anos e eu me lembrei do meu avô
Estava sentado debaixo do caramanchão de buganvílias que um dia resolveste fazer no teu quintal. Faz uma lixeira que a tua filha todas as 6 horas da madrugada vem varrer para que tu não notes. Não sei mesmo já se são só as flores ou se também as folhas se deixam cair num desanimar de tempo. Num repente me lembrei de ti, avô. Vinhas tu no teu fato, do teu sempre trabalho, nas tuas horas sempre certas, me atiraste os braços e eu te disparei uma pergunta com a minha voz de criança, de meia dúzia de anos: - Que me trouxeste? -Nada. Me respondeste invariavelmente porque sabias que eu ia te revistar todos os bolsos e ia, invariavelmente, encontrar um caramelo, um rebuçado ou uma chuinga num dos teus bolsos. Sempre num bolso diferente para dificultar a minha paciência. De imediato te retribuía com um beijo. Era o preço que eu tinha que te pagar por esta carícia. Me lembro que todas as noites desse tempo de criança, me acompanhavas ao quarto e antes de te recolheres ao teu, conferias a minha posição e me aconchegavas a roupa de cama. Me lembro que isso durou uns poucos anos. Hoje, ao recordar tudo isso sinto o desejo que tudo voltasse numa repetição moderna, actualizada e de preferência com muitos capítulos. Foram muitos insuficientes esses poucos anos. Hoje, caminhando ao longo do zulmarinho, eu grizalhado, me custa saber que não estás aqui, que não me vais fazer as cócegas que adoravas fazer quando me apanhavas distraído num olhar para um futuro indefinido através da janela da velha marquise, não me vais perguntar se fiz os trabalhos da escola, não me vais fazer as perguntas de História. Um dia assim, que já nem me lembro que tempo fazia, deixei de ver-te. Assim o mais do mesmo que já tinha acontecido com o meu pai estava a acontecer-me com o avô. Me lembro de ver a avó chorar. Não sei se mais alguém chorava lágrimas que se vissem, mas tenho a certeza que muitas lágrimas caladas ganharam liberdade. A mim me disseram só que tu tinhas partido e agora eras mais uma estrela do céu. Eu, nessa noite, escolhi a estrela que eras tu. Já te mudei de posição no céu algumas vezes, mas ainda lá estás para eu te olhar e te falar as nossas coisas. Um dia, alguém me vai ter de explicar porque é que as pessoas boas partem assim num definitivamente sem um dizer de até já. E será bom que tenham uma explicação muito boa que me convença.
O meu pai ante-ontem teria feito anos, 96 e eu me lembrei do meu avô
18 de dezembro de 2021
sem palavras
E se continuar a solear eu aproveito para caminhar sobre ideias a ter, gritando sorrisos e calando ais porque a vida tem-me dado tanto que não sei mais como eu poderei agradecer. Se eu merecia tanto? Claro que sim, até mais um pouco, acho eu.
Contento-me e não finjo medos que não tenho nem escondo os que tenho.
17 de dezembro de 2021
de Roma ao Natal
Todos os caminhos vão dar a Roma. Diz o ditado popular e eu que caminho por lugares de memória ou imaginação nunca cheguei a Roma. Já passei por muitos lugares, já percorri tortuosos caminhos que me levaram a lugares lindos. Mas nunca fui a Roma. Mas não é por isso que eu vou parar. Só, ou contigo ao lado, seguirei por aí, ouvindo poemas ou adorando borboletas, criando sonhos ou vivendo idílicos momentos, escutando canções de amor ou de embalar.
Não vou a Roma mas espero passar pelo Natal.
Sanzalando
16 de dezembro de 2021
delírio
Um dia, espero que daqui a muito tempo, o dia vai começar sem mim. Será o início do fim do mundo. Do meu mundo, porque sei ainda ficarei nalgumas memórias, nalguns passados e aos poucos vou desparecendo sem nunca desaparecer por completo. As árvores que plantei, os caminhos que percorri ficarão, assim como todas as palavras que disse.
É, as palavras que saem da minha boca ficam no ar, porque no espaço não existe mata-borrão, absorvente linear, papa palavras, que as tirem. Quando eu falo, quer só no solilóquio ou nestes caminhos solitários, eu deixo pegada. Essa ficará para lá de mim.
- Tão negro ele anda. Não, constato. Mal daquele que pensa desaparece sem deixar marca.
15 de dezembro de 2021
insanidade
Com tanta insanidade mental que vou vendo por uns aquis e alis nem sei porque me perco nos caminhos do pensamento vago, nas driblações e arrumários mentais de coisas banais. Na boa da verdade eu ficaria horas sentado a ler livros um a um, de seguida, percorrendo caminhos, vidas alheias, mundos escritos e narrados em horas e realidades diferentes, sem ter de me preocupar com o meu estado mental.
Arrumário foi uma palavras oferecida por alguém a Mia Couto e que eu arrebatei-lhe porque de facto nos arrumários há tantas coisas guardadas que não servem para mais se não para estarem ali, arrumadas a um canto. Há tantas coisas fúteis que se podem arrumar lá. Até grande parte dos meus caminhos. O meu passado é que não. Eu precisei dele para ser o que sou hoje e não vou atirá-lo para uma praia num qualquer entardecer da vida só porque ele não foi brilhante ou está perdendo brilho.
Mas com tanta insanidade mental eu ainda me perco sorrindo nos caminhos que vou fazendo porque acho que a minha energia não se pode perder na escuridão da ignorância alheia
Sanzalando
14 de dezembro de 2021
caminhos
Corpo adormecido pela temperatura fria dum dezembro neste norte da minha existência. Pelo andar da carruagem um dia vou chegar ao polo norte e espero que seja sem dar por isso. Quando esse ponto chegar espero que tenhas lido alguma coisa que eu deixei pelo caminho, alguma frase bonita que eu tenha rabiscado numa caminhada, uma ideia útil para a vida que ainda possas ter para lá de mim.
Nestes caminhos em que alimento o meu ego, algumas vezes errando, outras corrigindo, falando de amor, amores e dissimulando desamores e outros dissabores, vou permanecendo cada vez mais eu, livremente escrevendo passos, saltos e corridas, tanto mentais como físicas.
Escrevo passos por que te quero, porque preciso de exorcizar fantasmas, medos e outros receios, recheando-me de sabedoria que misturo com lembranças sem necessidade de me afundar em pesadelos, depressões e outras infecções fatais.
Espero que um dias leias os meus caminhos como quem caminha por mim.
13 de dezembro de 2021
futuro será
Tás a ver aquela coisa das pessoas falarem das outras pessoas como se soubessem tudo sobre elas? É que as pessoas acham mesmo que sabem. Eu cá para mim tenho que as pessoas são génios e eu deixei-me ultrapassar por todos. Tem gente que sabem das pessoas que nem as pessoas próprias sabem-se assim.
Na verdade, se sou assim eu tenho motivos para ser assim, não é lamentação nem contestação. É constatação.
Se sinto é porque sinto; se ouço é porque ouço; se protesto é porque protesto. Ganhei mais o quê? Dor de cabeça. Se tem gente que quer algo em troca, leva o eu mesmo do jeito que é.
Continuo intacto, mesmo depois de punhaladas na alma, na memória, no esquema da vida e na vida esquemática, no dia a dia e na noite também.
Não vou ficar por aqui morrendo de amores, de saudades ou de qualquer outra morte tantas vezes enumerada. Vou anunciar por aí que estou vivo e virado para o longo futuro, tenha ele o tamanho que tiver, que não lhe tenho nem medo nem ansiedade.
Sanzalando
12 de dezembro de 2021
uma carta a São Correia, uma amiga incomparável
São Branca/São Correia:
Desculpa só eu ficar assim num de espanto que nem figura de desenho animado quando os olhos saem das orbitas e os membros se esticam parecem têm câimbras. Te liguei, te ligaram e nada nem de volta havia resposta. Que aconteceu. Ninguém disse e ninguém sabia. Em Lagos te perguntei e que não sei. Cabeça piruetou nas mil invenções de pode ser. Silêncio e tudo foi passando um dia e outros e mais uns tantos por cima da última vez que nos vimos lá para os lados de Barão de S. João.
Fizeste anos e o habitual parabéns foi por vias do tal de Facebook. Nada. Por mensagem uma amiga comum diz qualquer coisa que obriga a uma investigação apurada.
Tu, a mulher de mil ideias, a mulher de sete ajudas e outros tantos ofícios, imparável, incomparável, estavas imobilizada por causa duma doença que não mata mas mói, como alguém escreveu por ti. Pensas e vez. Comunicas com o olhar e eu sei que sabes que agora estão mil cérebros a puxar por ti, desde a Angola que não conheces mas muito fizeste, desde este cantinho da Europa, norte a sul, desde as ilhas atlânticas que tanto amas através das tuas meninas de Cabo Verde.
Ainda não acredito e de mãos e pés atados aqui estou, como me disse o Ondjaki: a pensar em ti nas minhas preces
11 de dezembro de 2021
O Som das Nossas Vozes - Uma Memória Angolana
Solou por estas bandas e na minha cabeça a banda tocou um sorriso na cara. Um livro chegou na caixa do correio e um vento me levou a ler num quase sem parar. Tem estória da minha terra, tem História da outra terra, tem Realidades que eu nem sabia estavam tão perto de mim que eu nem vi. Tem lágrimas e tem alegrias. Confusão e calmaria. Foram todas as paginas devoradas num ar que se lhe deu.
Meu amigo Eduardo Ribeiro obrigado por escreveres O Som das Nossas Vozes - Uma Memória Angolana como quem escreve uma carta ao filho.
A Belinha Macau me voltou à memória assim como as estórias que ela me contou. O teu mano, meu colega de liceu, regressou à memória que não tinha esquecido.
Eduardo, temos de voltar à ZAZÁ comer a cataplana e verter muitas palavras de conversa. Estou a dever-te e porque estou-te grato por esta aula de História contemporânea que quase me passou ao lado.
10 de dezembro de 2021
desenho-me
Nestes caminhos de vai e vem sem saber onde e como parar dou comigo a conversar a sós. Se alguém me olha acho vai achar eu doidei, mas na verdade é só porque eu arranjei forma de destruir barreiras sem desvendar os meus segredos, sem divulgar os meus medos e sem sentir vontade de me atirar dos altos penedos da idade passada.
Eu tenho cicatrizes e nelas desenhei poemas, criei obras de arte, mosaicos, aguarelas, esculpi kiandas e alcancei com isso um ponto de liberdade que me permite sorrir quando outros queriam que eu chorasse. Na verdade alcancei o ponto que me deixa intacto de desilusões e frustações.
De um ser frágil, naif, tornei-me numa tarde tranquila de verão, um postal estrelado duma noite de luar. Desenho-me das múltiplas formas que tenho de ser feliz
9 de dezembro de 2021
fui na Quipola
Ontem fui na Quipola. Minha mãe me levou no comboio. Ela me levou a mim, à minha irmã e uma cesta que tinha frango assado e gasosas. Fomos de comboio até na parte de trás da Sofrio, mesmo junto da casa dos rapazes. Enquanto o padre Noronha dizia a missa eu fui nos meus nonkakos até na ponte do rio Bero que está quase parece é um ribeiro. Isto quer dizer que na serra da Chela não está de chuva. Ali, visto daqui da cancela que separa os carros dos comboios, estão as salinas e muitos dos caranguejos das horas que o Mamede vende a lhe acompanhar a cerveja. Dizem porque eu não conheço porque ainda não tenho idade para essas coisas.
Aqui na ponte eu me estou a lembrar que me disseram, desconheço se é verdade ou mentira e não tenho espírito para ir investigar, foi construída com dinheiro falso mandado fazer pelo tal de Aves dos Reis. Se o dinheiro era falso eu não sei, o que eu sei é que a ponte está aqui e faz passar comboios e carros para o Saco ou para o planalto da gente fina que no verão se vem banhar aqui nas águas frias da terra quie me viu dar os primeiros passos e também os trambolhões.
Fui na Quipola e vagabundei-me por terras que só vejo de vez em quando
8 de dezembro de 2021
desnudo-me em palavras
Vou escrever uma carta de despedida sem porém me despedir. Vamos, faz de conta, eu me cansei de caminhar estas palavras por tempos idos do meu antigamente na vida. Vamos, faz de conta ainda, eu fartei de dizer como é que eu era antes de ser o que sou hoje. Vamos, mantem-se o faz de conta, eu não trouxe nada para o dia de hoje de todos os meus ontens e por isso parei de caminhar palavras sobre palavras por este caminho longo aqui tão perto.
De verdade que todas as palavras que caminhei são pedaços duma autobiografia que não escrevi e apenas lhe vivi. Tudo são referências emitidas ou recebidas pela gente, nós mesmo. Daí que hoje eu sou uma mistura disso tudo sem ter a haver nada com isso. Larguei o ontem para estar no hoje, porém o ontem ainda está comigo, faz de conta ainda, é tudo uma confusão da minha cabeça, todas as palavras são caminhos afilhados da minha imaginação, cães de rua que me perseguem faz de conta eu vou na bicicleta.
Todos estes caminhos palavreados carregam muitas escuridões e clareiras da minha existência ficcionada na memória ou imaginação. Mantendo-me no faz de conta, desde o zulmarinho até a este norte onde me encontro, nas minhas palavras se misturam imagens reais com imaginações delirantes, características não misturáveis, óleos e águas, cores fortes e fracas, transparências e opacidades, tudo fazendo sentido na minha cabeça e tropeções no meu caminho. E eu aqui desnudado em palavras. Faz de conta até eram belas de se caminharem e olharem.
Afinal de contas, estes caminhos palavrados, carregados de emoções e ficções, estes eus, são capazes de terem sentido, transformaram os meus cacos num ser pensante, num mosaico de cores vividas, garridas e berrantes, misto de nostalgia e insano de inocências.
Como poderia eu me despedir destes fragmentos aleatórios que fizeram um desenho que se mistura no meu eu?!
7 de dezembro de 2021
recordações
Neste quase parar de caminhar não me dá para ler caminhos velhos. Nunca um caminho é igual duas vezes. Posso olhar, decorar e até gravar, se o repetir não é a mesma coisa, não tem o mesmo sabor, faz conta tem sal a mais ou a menos. Frases velhas não têm o mesmo significado. Lhes falta o sentimento de outrora. Mas eu vou seguindo o meu caminho. Vezes muitas, exaustão possível, mas sempre passos diferentes, cansados, leves ou pesados, arrastados, soltos que nem moço no baile. Eu sou assim e vou caminhar mais por onde? As frases velhas vão-se qualificando, apurando, mesmo que o significado já não seja mais o mesmo. Estão apuradas.
Eu hoje caminho sobre leituras velhas, apenas para recordar o que fui para ser agora.
6 de dezembro de 2021
sigo
Sigo tantas vezes por caminhos errantes, errados ou apenas interrompidos. Mas o mais importante para mim é seguir, caminhar em direcção ao futuro, por mais curto que seja com o passar do tempo. Ter passado e presente sem perspectiva de futuro é um beco sem saída e eu não gosto de ter de caminhar para trás, tal como o água de um rio não passa voluntariamente duas vezes pela mesma ponte.
Sigo sempre com a ideia que ainda não fiz o caminho suficiente pelo que vou sempre mais olhando o futuro e espero não ver o fim deste. No dia que ele chegar que surja assim num relâmpago de instante. Não por medo, não por tristeza, apenas para eu não ter tempo de ver o caminho que ainda me faltava gostar.
Sigo por aí, olhando o mar, esse zulmarinho que me carrega esperança, que dá união aos meus inícios e meios, que me liga ao todo de hoje.
5 de dezembro de 2021
Vou
Vou por aí, um dia após outro, sempre fugido de uma vida que possa se asfixiante, sempre tentando arrancar pela raiz o que me possa trazer infelicidade ou simples tristeza.
Vou deambulando por cascatas de sonhos, caminhos de ideias e auto-estradas de desejos.
Vou, sabendo que o prémio era eu e tu o ganhaste. Vou imaginando-te feliz, saltitando contente com o prémio, como se o tivesses ganho numa barraquinha de feira, numa rifa de quermesse ou num jogo de lencinho.
Vou, sabendo que o mundo possa parecer um inferno, que seja necessário falar mal para se estar bem, que seja preciso rebaixar para subir.
Vou por aí, feliz por um dia ter nascido e o meu coração ainda não ter parado de bater.
4 de dezembro de 2021
licitudes
Tem dias em que mesmo o frio não me impede de desnudar-me, intelectualmente. O frio, matéria inorgânica e subjectiva, que evolve corpos e mentes duma forma equacionável e por vezes anarquicamente, obrigando a pensamentos erróneos e quantas vezes a frases arrependíveis, surge de nadas em todas as estações do ano, a todos os quantos se consideram ser pensantes. É esse frio, questionável, que nos faz ouvir apenas o que queremos, a dizer tantas vezes o que não queremos e a fazer o que não devemos.
Não é lícito que eu morra de amor, mas morro.
Não é lícito que eu acorde preocupado com situações futuras, mas acordo.
Não é lícito que me pese na consciência erros não propositados ou inconscientemente cometidos, mas pesam.
Não é licito que eu sofra de saudade quando me sinto bem com o meu passado, mas sofro.
Não é licito que o mundo não siga a minha linha de pensamento, mas não segue.
Não pretendo que o mundo me entenda no que sinto mas aceito que era lindo que eu mesmo entendesse esse sentimento.
3 de dezembro de 2021
Neste caminhar
Neste caminhar para o inverno já deambulei por tantos caminhos que já nem sei o carreiro a seguir. Neste meu caos tem vezes nasce uma luz a me dizer onde ir. Hoje não me apetece ir por lado algum. Hoje fico mesmo só aqui a olhar as palavras que uma vez eu pensei e não sei onde arrumei. Quantas palavras eu terei perdido na adolescência e que agora me fazem falta? Quantos silêncios eu perdi e que agora eu devia usar? Eu sei o quanto me dói querer falar as coisas e não saírem as palavras só porque a cabeça se ligou no coração. Eu sei quantos silêncios eu não devia ter usado porque hoje eles me mostram as palavras que os substituía.
Neste caminhar para o inverno eu descubro que o princípio do outono é resguarda-me das dores, é treinar-me para os passos pouco práticos duma senilidade espectável que o inverno trás com o seu frio gelado.
Neste caminhar para o inverno vou-me resguardando das tempestades reais e ficcionadas.
1 de dezembro de 2021
eu, o brilho e o gosto
Tremendo de frio me sento no lancil do passeio como que a meditar à beira da estrada, nem que seja a da vida. Vagabundo que se preze tem momentos assim.
Se me pedissem para fazer uma lista das coisas que gosto, eu vinha em primeiro lugar. Não por narcisismo, por isto ou por aquilo mas simplesmente porque gosto do meu brilho interior, o meu cintilar de estrelas que brilham no meu universo interior. Até dos meu pensamentos pedidos, gosto. Eu não tenho essa coisa da luta entre coração e mente. Eu é um. Único. Simplesmente simples. Eu que transporto para todo o lado o amor, incluindo o próprio, não me deixo levar por céus nublados, por tempestades secas ou dilúvios mentais.
Simplesmente eu.
Sanzalando
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