Me deixa ir só por aí caminhar nas minhas memórias, louvar as minhas muitas paixões, desgastar os milhões de amores perfeitos que me deram na forma de carícias, mimos e beijos. Me deixa ir só sem necessidade de perceber se se passa alguma coisa, se passou algo, se irá acontecer, ou se é só a minha imaginação a usar as palavras que um dia eu aprendi a dizer e outras que vou ainda ouvindo como novas por ai.
Me deixa só olhar para todos os meus momentos, descontar os vazios, os possuídos e os roubados, descolorir os enganados e esquecer os envergonhados.
Me deixa só revisitar cada momento meu, cada silêncio ou grito, cada calor ou gelo, cara instante que já usei e que mais tarde poderei recordar.
Faz conta que esses instantes divagantes, fruto da imaginação ou da realidade, conseguem preencher todos os vazios do meu instante de vida.
Faz de conta esses momentos são um olhar não registado nem carimbado na minha realidade de contemplação futura mas deste agora, momento ou instante.
Faz de conta eu me sinto confortável neste vagabundear mental, embriagado de alegria, embrulhado no papel cinzento da tristeza ou somente confortável por acreditar-me.
Me deixa só esquecer que se eu olhar para trás tem coisas que já não me lembro e o esquecimento é ensurdecer o cérebro de memórias que fizeram a circunstância de ser eu agora.
Sempre fui real, mesmo que por vezes possa ser ruim, fantasmagórico ou apalhaçado, e nesse sentido tenho os meus momentos por onde me passeio, mesmo que em passo trocado ou truncado.
Me deixa só ir por aqui, sem ter urgência em apagar desconfortos, lembrar desaforos ou desesperar tristezas.
Me deixa só ir.
Sanzalando
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