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9 de setembro de 2022

a minha rua, parte tantas

Na minha rua, que era a subir quando estava cansado, a descer quando descansado eu olhava para a varanda da casa dela, brincava aos cóbois, polícias e ladrões, às escondidas ou simplesmente jogávamos à bola esquecendo o declive duma das equipes. 
Acho chegámos ali a jogar à trouxa lavada tendo como base de apoio o muro do quintalão,. onde às vezes o Zé Enoque punha os melões antes de os vender.
Éramos crianças e chegámos a adolescentes, alguns irreverentes e outros só gentes.Brincávamos até na hora de jantar quando uma das mães gritava o nome do seu filho. Era sinal que era hora de ir embora. Às vezes nem faziamos nada disso e ficávanos apenas sentados num dos muros a conversar a vida de criança ou adolescentemente perguntadores das coisas mundanas. Raras eram as vezes que ela saia do seu trono doméstico e vinha na rua falar com nós os que ali sempre morámos. Não era rainha apesar do seu ar de princesa nem era assim diferente da gente, era só tuguesa de crescimento na rua de gente mais fina que agora morava ali e se ia habituando aos vadios de fim de tarde na rua que subia quando eu estava cansado e descia a olhar para a varanda dela. 
Era a minha rua, a minha única riqueza material, pois a outra que eu tinha era a amizade dos amigos da minha rua onde tu um dia vieste morar.


Sanzalando

1 comentário:

  1. Gostei de ler, pois facilmente revivi até com bastante pormenor minha infância. A minha rua, o nosso cão que era de ninguém e os amigos, que muitos deixei de saber do paradeiro.
    Abraço

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