De lá do alto da terra onde minha mãe me nasceu, desci de comboio até no deserto onde eu me cresci a até ser homem- Nesta terra que não era maqueta, embora fosse pequenina, quadriculada e geometricamente imperfeita, onde de vez em quando soprava ventos de picar as pernas desnudadas por uns calções de criança, sem abanar árvores porque poucas havia e eram casuarinas majestosas, que noutras paragens que conheci mais tarde iam dizer era da família dos pinheiros, sem ter nada a haver com os Pinheiros que eu conheci nas minhas escolas. Eram estas as minhas árvores, mais uns castanheiros que não eram nada iguais aos que mais tarde conheci, mais umas quantas palmeiras para dar um ar tropical, para além das oliveiras que davam azeitonas de mesa. Esta floresta diversa era pequena, que se juntasse todas as árvores não dava nem meio quarteirão. Depois era areia dum deserto de perder de vista.
Quando o vento vinha de sul, era picado de areia parecia eram alfinetes pois nem parecia poeira de areia grossa. O meu castelo interior era agitado, os meus cabelos fartos eram despenteados, a minha roupa era amarelecida e a minha vontade virava nulidade. Depois rodava o vento, passava a vento leste, as pernas não eram picadas mas o corpo transpirava pelo calor parecia era doença. Era um vento parecia tinha sabor, secava a garganta e todas as palavras se evaporavam no ar. Eu aproveitava esse tempo para estar na sombra duma das árvores da minha micro floresta, atrás do Clube Náutico, a deixar os meus pensamentos dançarem por realidades e sonhos, por discursos intemporais até me levarem à calma duma escapada a uma esplanada beber um carioca de limão e desfrutar de conversas adultas dos mais velhos.
Neste meu estar feito rei duma monarquia começada e terminada em mim, comandava as ondas do mar em dias de calema, em dias que marginalizava de lama as estradas à beira mar e eu vagabundava-me até no porto para ver os barcos a descarregar. O mar era parte integrante do meu reino, desta monarquia clandestina e marginalizada, para contrabalançar o tanto areal deste deserto que me absorvia ideias e água.
Se eu hoje visse esse meu reino eu ia dizer que as dunas eram ondas do mar areificadas que se liquefaziam no mar bravo do mês de Março.
E eu nunca fui rei nem nos meus sonhos de menino nem tive um império de sonhos infantis. Eu acho nasci adulto.
Sanzalando
Vivi dias assim, em que a areia fina do Namibe mais parecia agulhas a penetrar na pele e o vento era tal que ultrapassava as árvores (poucas) que foram colocadas para travar a areia das dunas, ainda assim, a estrada de Porto Alexandre para diante no sentido das pescarias ficava apagada do mapa e tinha que inventar caminho.
ResponderEliminarEspraiei junto com as calemas de Março de espetáculo da natureza único.
Este momento aqui transportou-me até aos meus dias de pré-adolescência com uma saudade boa de degustar.