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18 de fevereiro de 2023

Estória 01 - talvez a primeira morte de amor

Se me apetece escrever, escrevo. Se me apetece chorar, choro. Se for hora de bailar, bailo. Aqui, em qualquer lugar e de preferência faça sol. Tudo isto porque me recordei do meu primeiro amor. Acho foi o meu primeiro falecimento, sem nota fúnebre nem aviso prévio. Morri de amor ao olhá-la, senti o meu coração como estivesse em explosão permanente e cada uma das minhas veias era insuficiente para transpor todo o meu sangue que me subiu à cabeça. Olhaste-me e do alto da tua segurança me perguntaste:
- Como estás?
eu, de tanta felicidade de ter sido visto por ti, balbuciei algo que nem eu entendi porque nem era estrangeiro nem a minha língua. Respirei fundo enquanto descorava e respondi num misto de silêncio e medo:
- bem... muito bem...
ao mesmo tempo que sentia o coração a ser despedaçado em mil fragmentos, enquanto ouvia um estilhaçar de morteiros no meu subconsciente convertido em pânico.
Na verdade eu achava que tínhamos sido feitos um para o outro, que o tempo te ia mostrar quem eu te era, ao ponto de te converter num ser tão mortal quanto eu.
Descomprimindo-me desta enorme emoção, tomando cada vez mais conta da minha consciência, pensei meter conversa para ver até onde tu me deixavas entrar na tua esfera protectora.
Cada vez que abria a boca na tua direcção, recebia uma resposta que não só mais me feria como mais me afundava na morte morrida de amor. Os teus lábio finos soletravam pétalas que eu via esvoaçar por entre a brisa e o vento que entrava pelos olhos. Era incrível ver-te ali a conversar comigo como um ser de sentimento e vida. Deixaras de ser a distância pesada da indiferença. Conversámos mundanamente naquilo que eu posso ainda hoje dizer que foi o primeiro dia do resto da minha vida. Todos os meus tormentos foram sanados, todas as minhas calemas eram pequenas ondas dum mar calmo, todos os meus medos era borboletas. 
A eternidade dos cinco minutos terminou quando me disseste:
- Não te conheço e nunca te vi na minha vida futura!
podia ter tido um falecimento real, com cortejo fúnebre e lágrimas, mas não. Passei a desfrutar a vida sem medos, sem tristeza e sem ansiedade de ter outras mortes futuras por amor



Sanzalando

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