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22 de fevereiro de 2023

Estória 04 - amores imperfeitos

Poltrona onde me sento é falésia de rei, onde admiro o universo que cabe no meu olhar e, daqui deste alto, onde a cidade por trás é um quadriculado imperfeito com cheiro e sabor a mar, me deixa estórias de amor para contar. Se os ventos que sopram não fossem indelicados sopros que apagam memórias indesejáveis eu mais estórias teria para contar. As casuarinas que se replantam no declive da falésia seguram terras e escondem amores quase perfeitos e nem os ventos marítimos destapam os véus do silêncio, deixando-me ignorantes das novidades silenciadas. 
Aqui, onde não há poeira a me toldar a visão, onde vejo caminhos horizontais perdidos num oceano de conhecimento que os meus pés descalços percorreram ao longo da cidade para aqui chegar, revejo os teus cabelos longos, o teu ar atlético, as tuas costas direitas, o teu caminhar esbelto e seguro, a tua superior qualidade de receber um pobre perdido de amores e desanimo-me de futuro a teu lado porque de presente já me conformei.
Se fizesses tranças, os teus cabelos não dançariam ao vento, as tuas saias não curtas tapam-te de qualquer indelicado sopro e tu, altiva, caminhas sem dar olhares aos que se te cruzam.
Já sei que neste meu poiso cimentei amores em apenas na minha pessoa, esquecendo que toda a cidade fervilha de amores de pôr de sol, nocturnas fugas de amores noctívagos que frageis cordas bambas se equilibram num boca a boca quase em surdina calada.
Mas para quê falar de amores alheios se nem dos meus dou abono?
Este meu mar é um luxo que me afaga e acaricia como se eu fosse a proa dum barco navegando em rumo definido. Morro de amores mas não me afogo nos seus horrores nem me embrulho nas suas ondas revoltas.

Sanzalando

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