Caminho na areia de mil cores aproveitando esta morna gratidão de fim de tarde, desconseguindo ouvir o marulhar do zulmarinho espreguiçando-se na areia que piso, já que o barulho do trovões tudo abafam. Chove forte, tropicalmente forte, numa chuva que me afaga o pescoço, me molha o cabelo escorrendo-o pela minha cara. Selvaticamente chove e eu continuo a caminhar e a sentir-te lá do outro lado.
Mas que mal faz a chuva de verão?
Molha, tens razão.
Mas que mal faz a chuva de verão?
Molha, tens razão.
Mas como o calor que faz lhe vai secar, vou fazer mais o quê? Me irrita porque quase não posso ter os olhos abertos e ver a chuva que cai, tão forte ela me bate na cara e no corpo. Com eles fechados, não nos entrando a chuva pelos olhos adentro até parece que chove menos. Mas daqui a pouco vai abrir o sol, me vai secar rápido e até vou sentir a falta dessa chuva selvaticamente tropical.
Afinal de contas, ela é algo como que um afago no pescoço ou um leve toque de mãos que deslizam perdidas na escuridão dos meus cabelos cada vez mais raros.
É assim como se novamente menino eu lhe fosse, inconsequente e irresponsável, próprio da idade de criança.
Mas agora me sinto como forte, remando num frágil barquinho de papel em direcção ao outro lado da linha recta que é curva. Quem me guia é um sol, um sol que imagino, um sol que eu não vejo mas sei que tem o brilho forte, um sol que é só meu. É como quem vem de um pesadelo e como se a distância fosse levada embora, desaparecesse. Já não me sinto como quem da vida só tivesse provado a desolação da coragem, o abandono de um destino distraído. Sórdida satisfação a minha.
Sem querer com esta mensagem retribuir a sua simpática visita, não posso, no entanto, deixar que sublinhar as suas prosas que mais parecem odes poéticas e as fotos que penso "roubar" algumas.
ResponderEliminarUm abraço
Eugénio Almeida
Obrigado pelas simpáticas palavras.
ResponderEliminarPode 'roubar' as minhas fotos sempre que lhe apetecer.