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12 de julho de 2006

No fundo te direi outra coisa

Caminhando nesta praia de areia de mil cores, tendo à direita ou à esquerda o zulmarinho, mesmo depende se vou ou se venho, falando coisas para o ar para ver se tu apanhas, ver se fazes delas as tuas palavras, os teus caminhos, a tua essência, a tua estória, umas de embalar outras de zarpar, eu não me perturbo, estarei calmo enquanto conseguir ouvir o marulhar do zulmarinho, recebendo as mukandas que ele me dá de desde lá do início dele. Ainda que seja tarde, chova e faça mais que muito vento, olho tranquilo o zulmarinho e com o olhar de esperança vou remando o meu barquinho de papel de imaginação. A luz do sol ou da lua distrai a escuridão das horas marcadas num qualquer relógio a destempo. Atento a um milagre, à voz doce de uma kianda vou seguindo neste meu caminhar como se estivesse na porta da maternidade da vida.
Tem dias que neste caminhar verto umas e outras birras estupidamente geladas, não para toldar o cérebro, mas somente para refrescar e olear as cordas vocais que são o meu instrumento de contador de estórias.
Manda-me aí mais umas quantas tantas por modos que eu consiga falar sem enroucar e descaracterizar esta voz concessionada à emoção.
Tenho, assim num súbito, como que uma enorme vontade de gritar: contra a escuridão da noite dos pensamentos, do perigos da ignorância, do desconhecido que quer ser conhecido sem ter feito nada de jeito a não ser ter deixado crescer o perímetro circular da barriga. Mas para quê gritar? Suponho que nunca serei capaz de te dizer que sou aquele que escandalizou, que sou o absoluto.
No fundo, te direi outra coisa. Terei sempre alguma coisa a dizer-te, sim. Mas se, se jamais ouvires, jamais saberás que, ainda assim, tive alguma coisa a dizer-te
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