A Minha Sanzala

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26 de julho de 2006

Estória com bolor

Caminho no meu passo lento de quase parado. De verdade que eu não quero nem andar nem estar parado.
Me segues, nem que seja com o olhar, nem que seja no ouvido à escuta, que eu hoje te conto uma estória de muitas luas e muitos sois passados.
Ouvindo o marulhar do zulmarinho se espraiando na areia até que me chega aos pés, me deu uma recordação dos tempos do biquini azul, um misto de saudade com angústia.
O meu caminho para a loucura deve estar a ficar mais curto, ou será que é mesmo normal esse zulmarinho me vir segredar aqui as estórias que quase parecem fábrica de penicilina, por estarem assim cheias de bolor branco azulado?
Aqui, no final do zulmarinho, me ouve uma estória passada no início dele, uma estória que não sei se existiu ou se foi só sonhada nesse ondular de mar calmo e sereno de um dia de verão.
Bebo uma birra estupidamente gelada para te poder contar tudo de um fôlego e sem que a voz me doa no seu final, nem uma gota de zulmarinho me escorra na cara, parece é lágrima rebelde e descontida.
Quando lhe conheci, a ela do biquini azul, não podia imaginar que hoje estaríamos numa situação que só de lhe olhar já estou a ser agredido com olhos de fogo, com setas de arrepiar caminho à vida lançadas pelo olhar. Nunca podia imaginar que depois de tanto amor, depois de ter encontrado a alma gémea, a força motriz da minha vida, a dobradiça da minha mudança, hoje não nos podemos comunicar, nem com a troca de um olhar furtivo, nem com um intermediário aparando as balas perdidas de um paiol de raiva.
Como o tempo fez mudanças no mundo de nós, trocando o azul do zulmarinho interior da gente, em vermelho de sangue, ódio ardente, só de ouvires o meu nome. Tivesse havido uma frase mal dita, uma ambiguidade mal interpretada, uma coisa desimportante esquecida, eu compreenderia e não estaria aqui a ouvir o marulhar e a ter as alucinações de te ver a jogar ténis ou a velejar na tua juventude eterna. Mas a verdade é que não me lembro de nada disso. Só me lembro dos teus olhos de fogo a dispararem setas queimando-me de ti para a eternidade.
Não me canso de falar de ti, de recordar-te nos nossos encontros sem desencontros, na ansiedade doas horas que pareciam não passavam até chegar a hora encontrada e, depois, na rapidez com que elas voavam quando trocávamos palavras, ideias e sonhos.
Não me canso de imaginar a maneira de eu ganhar uns pontos e desqueimar-me nesta eternidade curta que vai do nascimento até à morte.
Não me canso de pensar em cada frase que eu te queria dizer se fosse possível eu estar na tua frente à frente deste zulmarinho que me energiza e me ritmiza a vida.
Estou cansado de viver a vida de um condenado eterno.
A verdade é que te estanho. Estranho o termos sido tão amigos. Estranho quando me ouvias. Estranho o quando éramos felizes. Estranho querer ouvir-te. Resolvo acelerar o passo, mergulho no zulmarinho como a querer afogar as ideias, os filmes e os sonhos que sonho-te
Sanzalando

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