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17 de julho de 2006

Saudades de mim

Às vezes tenho a sensação que é a última vez que estamos juntos. Ou melhor, que tu estás aqui a me ouvir num constante falar de sonhos e devaneios, a ver o mesmo filme que eu quero que tu vejas. Lembro-me de todos os detalhes, de todas as conversas existentes entre mim e o teu silêncio, as imagens que te imagino, os sons que te levo.
Lembro os teus sorrisos de satisfação, o teu rosto transparecido de felicidade, o teu adormecer sereno.
O marulhar te embala no ritmo das minhas palavras que me chegam em sussurro desde lá do início do zulmarinho, as imagens de cores garridas que vêem comprimidas numa gota de mar salgado, te elevam aos céus.
As tuas gargalhadas, o teu ar ávido de me ouvir no rosário de estórias verdadeiras mesmo que não tenham acontecido, o teu acompanhar-me nas birras estupidamente geladas.
Desde esta areia de mil cores, corpo suado de destrabalho de estar aqui deitado a ouvir as kiandas a me cantarem as suas canções, a me recitarem as suas odes de esperança, olho para o mundo vazio e recordo todos os momentos que passámos juntos. Quer dizer, os momentos em que eu nem te via mas sabia que estavas aqui a me ouvir num deleite que fez nascer invejas, raivas, ódios e outros amores.
Me perguntas no teu silêncio se eu não faço mais nada que falar. Faço, pois claro que faço. Bebo birras geladas que me lubrificam a goela para eu poder continuar as minhas estórias e te teletransportar para outras fantasias, outros sonhos, outros lugares.
Caminho na beira-mar deste zulmarinho que é a alma que me ilumina mesmo nas noites de tempestade, para te poder dizer todas as coisas que gostas de ouvir, mesmo que não me ouças.
Por isso, hoje, caminhando na areia escaldante deste final de zulmarinho eu não te conto nada. Eu hoje fico em silêncio para despertar em ti outro sentimento. Saudades de mim.

Sanzalando

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