Caminhei debaixo de água, da chuva é claro, e continuo seco. Dancei debaixo da chuva e continuo seco. Talvez na cara se note alguma coisa, mas não sei se é da chuva se são as lágrimas que choro. Talvez eu tenha um invisível impermeável a me proteger. Talvez eu tenha uma capa, que não saiba, que não me deixa molhar. Será que hoje se eu entrar nesse mar eu vou me molhar? Ele está com ar de quem está doidinho por o fazer. Mas só entro nesse mar quando tiver força para lhe caminhar até para lá da linha horizontal que me separa do outro lado e esse dia não é hoje, porque ainda não tenho a força. Mas se eu me conseguir molhar eu vou conseguir ter força. Deixa só eu conseguir tirar essa invisível capa impermeável que me separa da chuva e vais ver que eu fico que nem super-homem da minha infância, que nem homem elástico da minha magreza de outrora.
Como continuo seco vou só olhar esse mar que hoje está cinzento porque tem filtro de chuva na frente dos meus olhos e desbundar na minha imaginação das matinés dançantes do Clube Náutico e o conjunto do Ferrovia com o Sr. Matos e o seu trompete a dizer quando começa e acaba a música. Vou dançar com aquela garina que me ficou colada na retina. Se ela desta vez consentir que eu me aproxime dela, é claro. Vou beber um copo com o Beto, outro com o Manel e outro com o Ferras. Mas não me vou deixar aquecer para que ela não veja que eu bebi para me esconder da sua dessimpatia para comigo. Vou só desaguar a imaginação pelos caminhos todos que fotografei na memória e deixar que essa chuva me molhe mesmo que não seja porque a capa se cansou de me proteger.
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