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13 de novembro de 2010

52 - Estórias no Sofá - ainda sou criança

Por aqui, onde o mar acaba, sentado ao frio e ao vento, me deixo embalar no vai e vem das ondas e me ponho a recordar.
- Mas porque pensas tanto?
- Para sorrir, por ter estórias, por ter vivido e ainda por cá viver... - digo isto ao mesmo tempo que faço a cara mais séria que consigo, porque para mim é assunto sério e sei que .. que perguntas estás seriamente a pensar no que perguntas.
- ... consegues fazer-me rir. Não sei quando estás a falar mesmo a sério ou quando te deixas levar pelo humor...
- Sabes, penso muito no tempo em que as coisas eram decididas ao pim pam pum, ao pé, quando a gente punho um pé à frente do outro e o adversário fazia o mesmo e depois sobrava um espaço que quando não cabia o pé perdia.
- ...
- ... e penso também quando a gente não gostava de como as coisas estavam a correr a gente gritava assim não vale e pronto acabava ali.
- Mas que te vale estar a pensar nisso nestes tempos em que a barriga agora pesa mais do que pesavas todo inteiro antes?
- Se a conversa não me estivesse a agradar eu te dizia agora 'vamos começar outra vez?' e começávamos tudo de novo e o assunto seria futebol, política, mulheres e maridos e coisas de sei lá mais o quê que agora não me dizem nada.
- Mas tens de viver o presente!
- Quem te disse que não é este o meu presente? quem te falou que não é com essas memórias que consigo viver esse coisa que chamas de presente? Pensar nos castelos de areia que fiz na praia quando ainda não tinha altura para andar no carrossel e o mar me destruiu tudo num maremoto de onda curta não é estar a pensar nas coisas más que me acontecem na vida? Aconteceram e ainda aqui estou.... Falar do amigo que foi embora para perto duma estrela que a gente só vê na noite de insónia não é estar com os amigos do presente que podem esquecer a sombra?
- Tou preocupado contigo...
- Despreocupa só. Lembrar as brincadeiras em que para salvar os amigos todos bastava tocar no coito bem delimitado da inocência infantil não estar a viver as peripécias desse presente que te enruga em cada segundo? Poder 'dizer tu não és capaz' para desafiar um amigo a fazer uma coisa que ele afinal tinha era medo não é ajudar a enfrentar essa coisa que é o agora?
- Bem... Vamos fazer mais o quê para além desta conversa que me está a pôr que nem doido?
- Como vês, consegui fazer-te recordar a tua idade de criança, o tempo em que eras feliz, em que não necessitavas mais do que ter amigos... Eu estou sempre a pensar nos amigos, na felicidade e na capacidade de sonhar amanhã com as imagens de ontem. Não deixei de ser criança, ainda.

Sanzalando

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