Descalço-me de preconceitos e caminho na areia da praia aproveitando um sol que não sei a qual estação pertence. Mas como me disseram que o sol é de todos e ainda a gente não paga para lhe usar, com moderação porque senão sai caro, eu lhe aproveito e imagino estou do lado de lá, que deve estar a chover, só para lhes irritar, estando eu do lado de cá a vagabundear ideias soltas.
O marulhar hoje é quase assim não ouvido, é mesmo só sussurrado. O mar, me dizem que eu dessas coisas desentendo por completo, está chão. Deve ser por isso que às vezes a gente anda por cima de chão flutuante. Me distraio tentando pisar as pegadas doutro que passou aqui antes. Ele tinha passos largos, o que me está a cansar esticar assim as pernas. Vou neste pisar pé doutro, desabrochando o meu pudor com pensamentos de antes de não sei quando, que é assim num quase já não me lembro, e reinvento o meu corpo de quando estava contigo. Ossos e pele, pouco mais qualquer coisa que inteligência não tem peso. Dentada em dentada arranco a roupa do corpo, maneira violenta de dizer que me vou despindo, até ficar num tronco nu e que agora já não sei onde é que está o osso. Já não estão á flor da pele. Agora são os nervos que é coisa mais moderna. Aproveito ao máximo o sol. Descaso e caminhando eu não sinto que ele queima e assim não vou ficar cor de camarão, como os da serra quando vão ver o mar na sua colónia de férias.
E assim passei o meu tempo num delírio despudorado.
Sanzalando
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