Ouço o mar mesmo estando sentado de costas para ele. Hoje não estou com vontade de ver o azul dorido das minhas lágrimas ali estendido. Optei apenas por tentar ouvir as kiandas e os seus cantos que me dizem enfeitiçam as almas até dos não crentes. Mas mesmo assim vejo o mesmo raio de luz que me entra na alma faz tanto tempo. É o mesmo raio, mas de forma diferente. Hoje faz-me sentir feliz mesmo não estando a conseguir ouvir o canto da kiandas. Mas este raio de luz deve de ser feiticeiro. Só pode. Deve ser a luz dum anjo, apaixonado duma kianda, que me trás essa luz toda.
As gotas de chuva que tentam cair no chão desaparecem quando atravessam o meu raio e este dia de chuva até que parece é um dia de sol. Na minha alma é. Eu consigo ver de imagens de memória o teu sorriso de lábios grossos nessa tua boca de gente fina, o teu porte altivo sombreado na tela de chuva até que parece és mais alta. Mas hoje não me apetece ver o azul e está a passar um filme colorido na minha memória. Tem dias que uma pessoa tem é sorte e o brilho do ar faz esquecer o frio, qualquer frio, até o dos dias de cacimbo em que eu dizia para mim se ela olhar para trás é porque me gosta. E ali parado ficava a ver se te voltavas e nunca voltaste. Mas isso foi outro filme que não entra na tela do cinema de hoje.
Hoje só não me apetece ver o azul das minhas lágrimas espalhadas nesse mar.
Sanzalando
Hoje só não me apetece chorar sozinha...
ResponderEliminarO seu belo texto, poeta, deu-me o mote e fez-me companhia.
Brigada, sim?
Tudo de bom