Me disseram que o mar quando está assim está um mar chão. Se fosse para dar mergulhos, brincar com ele eu não gostava que ele estivesse assim. Mas como é mesmo só para estar aqui a lhe olhar como quem vê a vida, ele que até me transmite uma calma dum pôr de sol cor de fogo que eu ficava a lhe olhar perdidamente no mundo.
Me olho e vejo a minha cara reflectida num sonho adiado, olhos tristes mesmo de sorriso nos lábios, face carregada mesmo disfarçada atrás duns óculos.
Me olho nos olhos do reflexo e me vejo por caminhos ilimitados, percursos que nunca fiz, trajectos que nunca pensei, abraços que guardei ao longo dos anos, palavras que silenciei sem saber bem o porquê.
Aqui, frente ao velho mar sempre mais novo me aborreço a sonhar os sonhos que sempre adiei e que agora choro por um pôr do sol cor de fogo.
Em cada ruga da cara sinto um grito desesperado de despertar e em cada onda que me disforma o reflexo vejo-me cantando e dançando canções que inventei.
Mar chão e eu sereno a olhar-me num espelho ondulado.
Sanzalando
Sem comentários:
Enviar um comentário