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15 de maio de 2007

Mas afinal porque falo?

Caminho e nem reparo, nem quero, se me acompanhas ou não. Falo e nem sei se tu me ouves ou não, porque falo porque me apetece falar. É assim mais ou menos como o vento. Lhe apetece aparecer e aparece e nem está preocupado com os outros, em que eu estou incluído. E assim como o vento, tal como ele, quando desaparece, eu me calo se tal me apetecer. E às vezes me apetece estar calado, assim como que fechar a janela ao vento que sopra sem licença.
Falo coisas no ar, sem tempo certo, sem previsões. Apenas porque me apetece falar e não estar a fazer outra coisa. Porque falar é o meu escape, a minha janela para o mundo dos vivos, porque dos outros é História.
Não, não tenho papéis de notas, cadernos de rascunho, lembretes. Falo de coração na cor que me vai a alma, na fluidez da goela lubrificada por uma ou outras birras loiras estupidamente geladas.
Não me perguntes porque eu já te falei tanto e não me calo. Nem te aproveites para perguntar se o que eu te falo é para ti e só para ti.
Falo só mesmo porque me apetece, porque sinto o que digo, porque tenho que explicar, porque me fervilha a cabeça de pensamentos e sonhos. Falo porque me apetece deixar uma marca, uma pegada de palavras ditas, num muro de lamentações e nostalgias, num sorriso apaixonado, num gesto simpático, numa lágrima chorada.
Falo ao ritmo do coração, esquecendo gramáticas, dicionários e outros assuntos sérios. Falo no ritmo da imaginação que não quero pôr em causa por leis e regras linguísticas.
Falo porque me apetece ventar contra o vento, mesmo que vento não esteja.
Afinal, falo porque tu me ouves.
Caminho a falar-te, talvez porque também necessite que alguém me ouça, porque posso levar-te a usar a cabeça para pensares, porque posso sonhar e fazer-te sonhar ou simplesmente para que possamos sorrir.
Falo-te porque não tenho medo, nem complexos e, sem humildade, falo porque falar dá-me prazer, diverte-me, faz-me sentir feliz, faz-me pensar, usar a imaginação. Falar-te faz-me ser feliz. E se tu me ouviste, melhor, estiveste conectada comigo por alguns segundos.

Sanzalando

4 comentários:

  1. Fala, fala porque é mesmo verdade tens sempre quem te ouça, e com muito prazer...

    Apesar de não vir todos os dias tenho sempre desejos de o fazer.

    Beijos

    TT

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  2. Quando alguém fala costumo "vestir a pele" do interlocutor. Não o faço por maldade ou iniquidade de carácter. Isto,talvez, se deva aos livros que vesti e não devia ter vestido.
    Humildemente, peço desculpa.
    Sempre com muita estima e muita consideração.
    Abraço
    pena

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  3. Poliedro (amigo Pena), em nenhum momento este texto lhe era dirigido. Como habitualmente, os meus textos são dirigidos aos vazios, aos segundos de quem perde ao lê-los.
    A ninguém tem de pedir desculpa. Eu é que me sinto lisongeado com a sua presença e com os seus comentários.

    Com grande admiração
    Carranca

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  4. Além do mais já não temos idade para ser contrariados!!!!
    Beijos muitos

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