A Minha Sanzala

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29 de maio de 2007

Tantas e outras vezes

Tantas vezes caminhamos neste final de zulmarinho, que já nem sei as vezes que tropecei nas palavras, nas ideias e no imaginário. Umas vezes vamos com todos os sentidos acordados, outras com eles adormecidos. Caminhamos com palavras umas vezes, outras com silêncios ensurdecedores. Mas caminhamos porque esse é o nosso caminho, o fado como dizem os poetas, destino diriam os fatalistas.

Eu caminho nos caminhos da nostalgia, do sonho, da fantasia. Trago-te presa a mim porque tu tens a santa paciência de me ouvir, mesmo quando caminho calado, só tu conseguirias suportar-me em todo este tempo em que o tempo passa no seu ritmo cadenciado em que falamos do presente sendo ele já passado.

Tantas e tantas vezes procuro caminhos seguros, bem sinalizados e sem precipícios onde os passos cadenciam frases, palavras, sonhos, maresias mais ou menos salgadas, música suave que brilha quando nos entra no corpo. Caminho por linhas definidas, mapas desenhados em escala de trajectórias coerentes.

Assusta-me caminhar por onde não tenha a força do controlo, não sentir a segurança dos meus passos, não poder prever o peso das minhas palavras. Não ser capaz de entender o milímetro dos meus passos é pavoroso. Talvez seja por isso que prefiro conservar antes de arriscar, pragmatizo antes de sonhar e respondo com os braços caídos ao desafio da utopia.

Mas eu sei, aprendi nestas caminhadas em que te falei de todas e de nenhuma coisa, que às vezes o mais real, o mais vivo, o mais autenticamente humano, não se constrói de traço certo, definido, mas sobre sombras esfumadas

Só caminhamos no caminho da felicidade quando renunciamos a fechar as linhas e os contornos que nós imaginámos. Só conseguimos sorrir quando os nossos sonhos estão em aberto e ainda acreditamos neles.



Sanzalando

5 comentários:

  1. Vim te desejar uma boa semana, escutar uma música boa e ainda ver a foto da Aretha...tudo é muito bom por aqui.

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  2. A utopia não é a primeira vez que se realiza. Também me imagino por dentro do utópico de braços caídos.
    E, é isso, que torna a utopia, pura e simplesmente concretizada, consolidada. Vive-a, mesmo de braços suspensos no seu marejar eterno, na delícia de um sonho inacabado.
    O que vejo em si?
    Um Lutador. Um sóbrio e sensato sonhador, pela força do pensar e do sentir. Por acreditar de forma bem lúcida e atenta o seu "zulmarinho".
    Aí, no seu coração que bate por África, há um sentir, um sentir do sentimento. Do querer de um ideal. Da descoberta de si mesmo. Da procura incessante de si.
    Vejo muita coisa bonita que todos os que aqui passam já notaram. De certeza! Isso não é pura utopia é uma certeza. Incontestável certeza!
    De certeza!
    Com respeito
    Abraço
    pena

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  3. ...e respondo com os braços caídos ao desafio da utopia.

    « Como me custa conservar em vez de arriscar »

    E eu, eu não consigo deixar de sonhar!!!

    Meu amigo, como me faz companhia o que sentes e o que escreves.

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  4. Eu sou justamente o contrário.Não tenho medo de aventura e do desconhecido embora com a velhice chegando comece a pensar duas vezes.Belo texto, diferente.

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  5. "o mais autenticamente humano, não se constrói de traço certo, definido, mas sobre sombras esfumadas"
    Nós, ilustres desconhecidos!
    Sjb

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