Na despedida do inverno ainda cabe lá o dia do pai.
Para mim o pai devia ser eterno. Pai e mãe têm aquele ombro que a gente sempre precisa, mesmo quando não precisa. Por isso eles deviam durar enquanto a gente dura. Mas hoje vou só falar com o meu pai mesmo sabendo que ele não me vai ouvir nem ler.
Meu pai não estava lá no meu primeiro dia em que fui na escola. Nem quando entrei no Liceu. Nem quando fui na Universidade, nem quando comecei a usar os conhecimentos que fui aprendendo. O meu pai não estava nos natais de que me lembro. Em nenhuma festa que me recorde. O meu pai não estava lá quando estive doente. Também não estava nos momentos em que fui o mais feliz dos mortais.
O meu pai não soube das minhas paixões e desamores. Não sentiu o sal das minhas lágrimas de amor nem as de dor de alma de tanto desalento.
O meu cabelo foi-se ralando e branqueando e o meu pai não estava lá. E no dia do pai o meu pai não está lá.
O meu pai não está em nenhum momento da minha vida, mas o meu pai está sempre comigo desde o dia que lhe levaram para parte incerta quando eu era criança de não me lembrar de quase nada.
Na verdade, em cada momento meu eu lhe sinto a me olhar e parece até me toca no ombro a me dizer se estou no caminho certo ou não. Eu sempre tenho o ombro dele mesmo quando é só para encostar a cabeça e vagabundear-me por aí.
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