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26 de março de 2021

primaverou-se o cérebro 5

Desci à cidade, a minha cidade Fantasma, procurei um café, sentei-me de frente para uma vidraça aberta de modo a contemplar a azáfama da rua, sem perceber que aquele caos não eram pessoas a preencher todos os espaços vazios da rua mas apenas e tão só os meus medos e complexos sistemas acumulados ao longo dos anos. Tontamente me embaralhei na confusão e fui fluindo como um rio descontrolado descendo uma encosta. Quantas vezes deixo a minha porta aberta? Quantas vezes deixo as minhas chaves à vista de todos? Como é possível ter acumulado tanta coisa dentro de mim ao ponto de provocar uma efervescência tal qual eu vivia naquele instante? E o café? Arrefeceu. 
Tentei mudar de rota no pensamento mas a minha cidade Fantasma continuava a levar-me qualquer pensamento que fosse diferente do caos. Me apeteceu atirar o corpo vidraça fora e esborrachar-me na rua onde a confusão imperava. Nem que fosse para a parar. Mas lembrei-me que me podia magoar e manter-me-ia caoticamente crítico de mim. Resolvi pedir que fechassem a vidraça e ao menos o ruído diminuiu ao ponto de eu quase adormecer frente ao meu café frio.


Sanzalando

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