recomeça o futuro sem esquecer o passado

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29 de dezembro de 2017

era. é. será

Me sento sob chuva a olhar o mar. Zulmarinho parece é sossego de não querer nem mexer-se. Me penso em voz alta: como foi o ano?
Quê?! Vou fazer balanço? Despensa disso. Foi. Passado. Era. Não se faz balanço que enjoa e o mar hoje não balança nem marulha. É sossego só dele mesmo.
Passado é alicerce do futuro e ponto final. Não faço parágrafo porque tenho o presente para viver. Hoje acordei assim: presentemente.


Sanzalando

25 de dezembro de 2017

uma ultima estória de natal

Sou João, de nome próprio e impropriamente me chamam outras coisas, e todos os anos faço o mesmo nesta altura do ano: engordo. Eles são fritos, doces, guloseimas das mais variadas formas e sabores, para além duma lista de nomes de comida propriamente dita, digna deste dia como polvo no forno com batata a murro, ou só este mesmo o que incha o que vai dar ao mesmo. Uns ganham Iphones, cachecóis ou meias, roupa de inverno ou para o verão que há de vir. Eu ganho peso. Original. Mas o meu nome continua a ser João, e todos os anos por esta altura é o mesmo filme.
Hoje é Natal e o espírito está no ar. É amor espalhado no ar, nas sensações e emoções, nos olhares e nas estrelas, se não fosse dia e não estivesse nublado.
Hoje andamos de sorriso na cara porque é Natal. E eu mais gordo, também


Sanzalando

24 de dezembro de 2017

ainda outra estória de natal

Hoje sinto-me como se tivesse apagado a última gota do que existia em mim. Cortei as correntes e as joguei ao mar.
Da Galileia chegou-me a notícia que três gajos magros que seguiam uma estrela, das dez que usam Lux, montados num Camel de tracção às quatro, de ar condicionado ao exterior, ainda estavam longe de chegar à Nazaré, onde uma senhora havia gerado uma luz através dum parto.
Atento segui as notícias. Tudo o que era rádio, televisão e smartphones estava sintonizado para o Oriente Médios que fica um pouco antes do Oriente propriamente dito e eu atento a todos eles. 
Os gajos magros faziam-se acompanhar de incenso que serve para purificar o ar, de commiphora myrrha, conhecida simplesmente por mirra, e cujas resinas têm efeito anti-inflamatório, antisseptico, analgésico e aromático, o que é muito bom para entorses, torcicolo, nevralgias e dores de garganta, para além de ser um bom desodorizabte e de outro que serve para fazer compras e embelezar. Isto deixou-me preocupado. Três prendas para uma luz que haveria de ser dada à luz num estábulo da Nazaré.
Foi aqui que fui ao fundo até às correntes que havia jogado ao mar.
Ai me lembrei o que um meu mestre sempre me dizia, em caso de risco não desesperes, olha para cima e encontras a luz. De facto quando amanheceu eu via a luz, do dia e estava marcadao para esse o tal parto na Galileia.


Sanzalando

21 de dezembro de 2017

outra estória de natal

Meu nome é João, muitos me chamam de Jota e desde pequenino que aprendi a olhar o presépio. Sempre adorei ver aqueles minúsculos bonecos a representarem séculos de tantas histórias, verdadeiras ou frutos de grandes imaginações, pagãs ou religiosas, culturais ou só porque sim. Umns mais ricos que outros, uns mais fantasiosos que outros mas todos a representarem um dia como se fosse o único dia do ano. 
Mas a verdade é que sempre gostei de os ver. Cheguei a estar horas a ver. Nos bombeiros da minha terra sempre tinha um grande. Acho que ainda é o maior que já vi. Pode ser que naquela idade qualquer coisa me parecesse enorme. Mas recordo-me dele e é importante isso, porque desde pequeno que aprendo a lidar com a vida e todos os seus presépios. 
Umas palmadas aqui, um elogio por ali, uma queda, um levantar dorido, às vezes rápido e outras com vontade de ter morrido ali por aquele instante de dor, mas com o ensinamento da vida fui vivendo a olhar presépios. Representações de um dia, reais ou ficcionais.
Ao longo dos tempos fui notando que as dores são diferentes, umas duram outras são passageiras, uma cicatrizam com cicatriz e tudo, outras passam até na fase do esquecimento. Assim como os presépios guardados em caixas até no proximo dia de usar outra vez, igual ou diferente, com os mesmos bonecos, pagãos ou religiosos.
Às vezes basta um olhar de relance, um abraço sentido e a dor mais dorida como que voa e a vida continua mesmo que não tenha um presépio para admirar.


Sanzalando

19 de dezembro de 2017

a minha estória de natal

É estória de Natal. Não vou comprar presente. Nem um. 
Não conheço Jesus, esse que nasceu no dia 25. Só mesmo de ouvir falar dele. Se eu lhe conhecesse eu lhe dava um presente. Vários até. Lhe dava discos da Marisol, filmes do Josélito, albuns do Ádamo ou do Art Sullivan, Rita Pavone ou Giani Morandi ou se calhar de Jacques Brell. Ou então podia ser mesmo só os cartazes do cinema. Acho de Jesus ia gostar. Imagina ele sentado no balcão do Cinema do Eurico. Judeu loiro e olhos azuis, feito super star a cantar um dueto com Aznavor. Oh, ia ainda lá no fundo uma de Piaf. 
É só estória de Natal que vem na memória o filme do Ben Hur.
A neve que cai nos presépios mesmo dos trópicos. 
É na estória de Natal que a gente vê a quantidade de gente que passou ao longo do nosso ano e que se perderam no tempo e com dificuldade a gente se lembra até do nome. 
Cumpri o meu dever e contei uma história de Natal que escrevi como estória da minha memória dos carros de plástico feito e que eram até perfeitos que a gente nem lembra mais a marca.
É uma estória de Natal que a gente faz falar bem, mesmo sabendo que amigos teve que não passam o natal porque se foram antes para incertas partes da vida.
É uma estória de Natal que até tem uma árvore que safadamente me pisca como que a querer que eu lhe sorria.



Sanzalando

15 de dezembro de 2017

palavras não tem

Procurei umas mil letras para umas centenas de palavras. Escrevi-as em verso e em prosa. Palavras que me definissem, que fossem o reflexo do circunflexo ano da minha vida. Porém não as encontrei por mais rascunhos efectuados, por mais tentativas feitas.
Tentei descrever-me e contar-me o quanto sou maravilhoso. 365 dias deste ano que o fui. Entusiasmei-me e na emoção me perdi.Renunciei todas as palavras, risquei todas as letras. Vivi.
Porque ao fim e ao cabo um ano cabe em 365 dias, uns quantos sonhos realizados, umas tantas surpresas acrescidas e tanto amor vivido que bendita vida que palavras não tem.

Sanzalando

12 de dezembro de 2017

faceboquiaberto

Chove que nem amostra clínica de dilúvio. Pouco. Eu, que não sou dado como tolo fico na janela a olhar as micro-gotas que caiem vindas lá do céu, ou um bocado mais abaixo. 
Medito, quando me devia era deitar. Mas deu-me para aqui. Cleópatra, pensei eu. É que ambos temos perfil. Ela célebre pelo nariz e eu conhecido por meia dúzia no tal de facebook. Enfim, faceboquei-me. Eu escrevo post, espero um like, pelo menos um, aguardo comentários, pelo menos um. Às vezes gostava de ser partilhado. Olha, instagrei-me numa foto, twittei-me numa frase. Espero tantos likes. Espero o meu clube de fãs. Espero miles gostos. Bonequinhos. Correntes. Eu sou um faceboquiano.
Não existe nada mais prejudicial para o meu facebook, para o meu ego, do que eu não escrever nada da minha luta interna, do tempo que dedico à harmonia das palavras.
Faceboqueei-me por completo. São as notícias, são as verdades infaliveis e os prognósticos de tantos sábios. Eu não tenho tempo para me cultivar. Acho vou por coisas de lado para me faceboquear ainda mais.
Afinal de contas meditei e não me deitei.


Sanzalando

7 de dezembro de 2017

Quipola, se ainda me lembro, era assim ou mais ou menos

Hoje a minha mãe não foi no trabalho porque está a preparar o pic-nic d'amanhã na Quipola. Eu sei que vamos apanhar o comboio na estação do Sr. Alves e vamos sair lá pertinho da Sofrio, junto da Casa dos Rapazes que o Padre Dinis por lá criou. Se não estou esquecido?! Tinha outro padre novinho que foi para lá. Cristovão?! Ai que a idade de ser pequenino neste tempo todo tem partidas na memória. 
Eu sei mesmo é que vamos apanhar o comboio, vamos andar devagarinho e pertinho da Quipola ele vai parar, a gente vai sair. Tem missa e procissão. Tem gente que não sei de onde veio. Eu ia dizer era dia de festa mas acho é dia Santo. Se é dia santo é porque já morreu. Não conheço santo que é vivo. Morto faz festa. Faz sim, e é na Quipola. Tem pic-nic de churrasco, gasosa, para mim podia ser Alpine mas minha mãe de certeza leva carbo-sidral, se não for só água mesmo.
Não sei a que horas é a missa, não faço ideia a que horas é a procissão. Eu sei mesmo é que eu vou no comboio e espero elas estejam lá todas.


Sanzalando

4 de dezembro de 2017

aqui ou lá, eu vou por mim

Me deixo levar pela brisa mental que sopra dos lado sul e pelo cheiro a terra molhada, quando aqui impera a areia seca da seca.
Me deixo embrulhar no perfume mar que este chão emana, quando por lá impera a calema a água castanha das enxurradas.
Me deixo embriagar pelas paisagens salvagens dos oásis da memórias, quando por lá impera a savana e o seu fervilhar de emoções.
Neste quadro de cores garridas esbatidas em aguarelas ou tapetadas em tons cinza me decido a parar a reclamar da vida. Deixei de emburrar, de me queixar, de me enrugar por antecipação.Há coisas bem simples para fazer. Umas a gente pode e faz. Outras não e não faz. Depende ou não de mim? O que depender de terceiros isso é com eles e com os que se lhes seguem.
Por mim me deixo levar por mim, aqui ou lá, onde quer que eu esteja.


Sanzalando

1 de dezembro de 2017

eu, o frio e o lugar comum

Me disseram por aí que o frio estava cá. Eu sinto-o e por isso acredito que seja inverno. Não quero mas se é, seja. O zulmarinho está ali mais azul que nunca. Sereno e sem tilintar. Me sento em meditação ou recordação. Não consigo ver a diferença neste momento. É o mesmo que eu disser que adormeci a pensar em ti. Se adormeci não estava a pensar. Mas acredito que sim. O teu corpo junto a mim. Aquecidamente adormecemos.Era assim que eu julgo estava a pensar em ti quando adormeci. Afinal de contas eu sou um personagem da minha existência e por isso lhe posso dar lugares, nem que sejam comuns.
Cada noite me fazes falta e me acompanhas nestes aforismos paradisíacos da minha imaginação. Eu sou o lugar certo de ponto nenhum.


Sanzalando

30 de novembro de 2017

saudade de ser eu sempre.

Tremo de frio sob um sol de inverno. O céu está que nem lavado e o mar que nem chão polido de brilhantes. Eu aqui perdido num universo de ideias e ideais, num emaranhado de sonhos ou de imagens imaginadas num delírio febril sem febre. Ansioso, discuto-me e zango-me solenemente. Não me consigo lembrar de 10 coisas que tenha aprendido hoje. O que vou fazer da minha vida? Indecisão decidida nos anos de juventude e que hoje me ocorreu. Vou por os meus mil planos em acção e realizar um qualquer, desnorteado aceito um que seja. 
Será doença sentir-me assim?
Deve ser apenasmente saudade de ser eu sempre.

Sanzalando

24 de novembro de 2017

meditação á beira mar

Me deixo quase adormecer ao som do marulhar. Estou abrigado, levando apenas com uma ligeira brisa que me acaricia, levando ao ponto de meditação, em que os pensamentos são aparentemente mais leves que o próprio ar. A vida é feita de encontros e desencontros e cada encontro é um reviver de amor, um somatório de desejos. Por sua vez, os desencontros, são facadas no peito, lições de vida, recomeços, ausencias.
Ciclo vicioso esta vida de meditação á beira mar

Sanzalando

22 de novembro de 2017

68 - Estórias no sofá - conversa fiada

Os anos vão passando e eu deixo um bocado de mim em cada dia. Nos dias de sol, sorrio e gargalho, nos outros também porém aqui e ali posso estar carrancudo de aspecto ou circunspecto do ar que se me dá. Sento-me num café e converso com quem chega, mesmo não sabendo se querem conversar comigo. Educadamente me apresento primeiro, é claro. Os meus pais lá no céu não me perdoaram outro comportamento e eu aqui na terra tenho por hábito de não falar com desconhecidos e para que isso não aconteça me apresento com nome completo, Joaquim Manuel Florimundo, falador nato e ouvidor ao vosso serviço, natural da terra mas quase sempre vivendo no mundo da lua. Há quem me olhe assim num misto de chega para lá e outros que me retribuem com um sorriso o nome. 
Começo sempre a minha conversa monóloga com coisas lindas, agradáveis, que até nos olhos se tornan brilhantemente coloridas. Mesmo que o meu coração esteja amarfanhado por qualquer desilusão inventada no fervilhar dos meus dias serenos, mesmo que eu esteja cheio do vazio gigante da minha vida, não me falta amor próprio nem amor alheio, para eu me esconder em falas tristes de chorar por mais. Pois além do mais, amor é não desistir e se desistir vai ter que pedir perdão, por isso haja amor pois então.
Mas me cruzo diariamente com gente que só falta alguém chegar perto e dizer: você morreu. Porque eles morreram mas não sabem. A cara deles é fúnebre, defunta mesmo. Cara de morto vivo e ainda por cima ignorante. Aí eu chego, falo de vazios menos vazios que eles mesmo. Não lhes vou contrariar porque ninguém gosta. Aos poucos lhes digo o cada dia de mim que fica para trás e eu não sei se tenho tempo para a frente para fazer o que ainda me falta fazer, lhes peço ajuda. Aqui começo a ter resposta. Florimundo está a conseguir chegar lá. Já minha mãe, D. Ernestina, me dizia que eu tinha era lábia para vender carro avariado a mecânico. Mas nunca vendi carro porque nunca tive nenhum. Lhes conto o bocado de mim que fui deixando no lastro do passado e o resto que ainda não se foi porque lhe preciso para viver o meu futuro. Eu lá vou dizendo onde eu gostaria de ir, desde as Maurícias, India, ou ao café da esquina, depende do ar e dos horizontes imaginários.
Os corações se começam a abrir, as palavras vão sendo devolvidas, pouco a pouco a conversa monólogo passa a diáloga. Ninguém sabe onde ir, o que fazer, porque todo o seu resto foi perdido no passado e o presente é sempre escuro, mais escuro a cada dia. A conversa vai acendendo uma luz e eu Florimundo dou-me por feliz por ter ali um interruptor chamado lata descarada para conversar ao deus dará e se ele dá que dê.
Tem tanta gente que se odeia e não acredita nas palavras bonitas. Deviam ter conhecido a minha mãe. D. Ernestina. Para ela o amor era soberano. Quem amava ia chegar mais perto do deus porque o coração dispara luz brilhante, me dizia ela constantemente. Luz e amor se misturam como se estivessem para fazer um bolo. Acho ela morreu a rir. Os olhos dela eram assim.
Eu, Joaquim Manuel Florimundo, me confesso porque tenho vontade de fechar os olhos, recordar as conversas fiadas e por desfiar, rever os buracos negros e a falta de confiança, a dor, a sombra, a agressão e a morte que circula pelos passeios destes dias. Mas, acordado, respiro fundo, procuro as cores vivas que vivi, os mergulhos que dei nas profundezas da angustia e a alegria de ter vindo à superfície respirar.
Mas na minha conversa fiada aprendi que cada dia de viver é melhor do que cada dia se já tivesse morrido e não estaria aqui a contar.
Aos poucos vou ensinado a respirar, não o ar que isso é nato, mas cada segundo, engolir os sabores agradáveis do bem viver. Ah, eu sofro mais que qualquer outro e o outro diz que sofre sempre mais e por aí adiante, por isso, no cada dia que deixo qualquer coisa sorrio.
Joaquim Manuel Florimundo aprendi a viver com a vida e fui na conversa com ela.



Sanzalando

21 de novembro de 2017

estados de espírito ou de memória

A lua já está no céu, a caminho do quarto minguante ou já vai ser lua cheia. Perdi-me a olhar o céu. Vamos pô-la entre uma fase e outra que ela assim não se deve ofender.
O seu brilho no mar não é brilho brilhante, é uma mancha bonita de contemplar. 
Afinal de contas a vida segue, o bonito bonito manter-se-á na memória, a força manter-se-á forte na recordação e todo o momento será um momento, mesmo que alternemos a ordem deles. Ás vezes queremos apagar uma coisa ou outra mas nem o tempo é capaz disso. De qualquer forma a gente se lembra. Uma vezes com dor, outras com saudade. Nestas os olhos brilham nas outras também. Ambas brilham de causas diferentes. É como a lua e o mar. Nem sempre o seu brilho é igual. Hoje é um brilho triste, num qualquer amanh~ºa de lua nova será um brilho brilhante de lantejoulas prateadas reflectindo nas ondas.
Quantas vezes a cabeça trás à superfície o que o coração tenta deixar escondido da memória?
O que vale mesmo é que o zulmarinho se mantém ali a me acalmar os estados de espírito

Sanzalando

17 de novembro de 2017

a ver o zulinho

Me olha só esse mar. Zulinho que até parece brilha e o sol faz autoestrada a caminho de sul que quase apetece caminhar sobre ele.
Mas olha, dói saber que quando nos apetece aproximar, ele se revolta em onda gelada dum jeito aparentemente desajeitado.
Me olha nos olhos e respira esta maresia e verás o meu coração transparentizar-se. 
Não, não estou cansado de estar aqui a me levar nos ventos da imaginação e a voar por desejos porque a minha vida é montada por mim e minha cabeça, mantendo sempre um fio de esperança num concreto viver feliz.

Sanzalando

15 de novembro de 2017

a brisa quer ser vento e eu silêncio

Hoje a brisa parece quer ser vento. É normal as coisas crescerem, quererem ser maiores ou melhores. Mas ò brisa, deixa-te de coisas. Está aqui uma pessoa a querer levitar o pensamento para longes sonhados ou vividos por viver e tu a despentear e empurrar, desconcentrando este recolher obrigatoriamente interior.
Imagina-te, brisa, a dar a volta ao mundo, divertir-te, soprares forte em desertos e brandamente em areais de zulmarinho. Eras simpática.
Agora aqui, a quereres sentar-te no meu colo, tirar-me do lugar, desconcentrar, ferir-me a alma e retirares-me a calma, não é racional nem razoável. Vá lá. Sejas amorosa, brisa. Sopra só assim para eu saber que estás por aqui e me deixa ir vagabundar pensamentos para onde me apetecer num levitar de ideias sem vontade de voltar.
Ops... não te deixas enganar, brisa, e queres ser vento hoje? Queres ser tu quem decide a tua atitude? Desculpa me misturar no teu desejo. Hoje fico então aqui em silêncio.


Sanzalando

14 de novembro de 2017

vidas

Brisa ligeira me despenteia como carícia. Até me sabe bem. A maresia me perfuma o sonho como se precisasse de ser alindado ainda mais. Mas dá jeito. Ao fim e ao cabo a minha realização mental é a minha beleza e tudo o que realça a beleza é bem vinda. É a minha vida. Não tenho uma vida de sonho e uma de realidade, isto é, não tenho duas vidas. Só tenho uma e é esta que me permite adornar conforme faço, me apetece ou desejo. Não tenho duas vidas. Vida consciente e com sentido.

Sanzalando

ajudando eus

Percorro a praia como que passeando ao longo da vida, lentamente e sem pressas.Olho a paisagem como se ela fosse uma fotografia a decorar. Olhos os rostos de quem me cruzo para num mais tarde me lembrar. sigo no meu silêncio como se estivesse num diálogo com o zulmarinho. A vida é uma coisas tão simples para se viver complicando, por isso, nesta lentidão encontro soluções que sempre estiveram na minha mão, porque todas as soluções estão dentro de mim, como se eu fosse um depósito de soluções.
Percorro a praia tentando dar a mão a quem passa. Mas com o frio que está, já pouca gente passa e esses poucos estão carregados de pressa ensimesmados nos seus problemas que não têm tempo para olhar as mão que se lhes estendem.

Sanzalando

12 de novembro de 2017

meditação consciente

Faço meditação na areia que já foi molhada pelo zulmarinho na maré baixa e que agora está boa para confortavelmente eu deixar o meu corpo inerte enquanto vagabundo por aís. Não construi paredes ou muros à minha volta. Estou virado para o mar a meditar. Se por acaso, mero acaso, eu os tivesse construído, assim numa forma de redoma, não era para me isolar do mundo, era mesmo para ver quem é que se importava o suficiente para os destruir.
Enquanto isso medito. Embrulhado num casaco e numa toalha que a aragem fresca já não me deixa pensar que é verão vou soletrando palavras, vagarosamente para ver se não me engano entre gaivotas e gralhas.
Não me considerasse eu quase a perfeição, e neste estado meditativo eu diria que gostava de ser criança porque o meu coração ainda não havia conhecido tristeza e dor. Mas esta redoma, a minha consciência, sem parede e sem muros, me diz que eu estou a olhar o futuro com o o mesmo sorriso que sempre tive.


Sanzalando

11 de novembro de 2017

autobiografia que não fiz

Olho para lá longe de mim, para lá do mar, para lá do que a vista pode alcançar. Não deixo ninguém tirar a minha paz. É minha, está na minha mente sentir-me em paz. Tenho o poder de mandar em mim. (Acho eu, se ela não souber que eu o escrevi.)
Para e tirarem a minha paz é porque eu dei o poder a alguém para o fazer. A minha consciência não ia permitir uma coisa dessas. Eu não dou esse poder a ninguém. Eu não sou este momento. Sou muito mais que isso. Sou todos os momentos que vivi até ao momento agora, mesmo que demore um pouco mais a escrever do que a pensar. As forças exteriores, armas, palavras, olhares ou silêncios podem tentar entrar em mim, podem tentar derrubar a minha paz. Eu interpreto, analiso, mas não perco a minha paz. É que não sei se há Felicidade sem paz. Por isso... ninguém derruba a minha paz. Nem aqueles gajos chatos, me conseguem chatear. Mantenho minha paz porque a minha realidade consciente é o Eu que sou.


Sanzalando

10 de novembro de 2017

passeei na cidade

Olho o mar. O meu zulmarinho está sereno parece chão feito de céu. O marulhar é silêncio. A maresia é intensa. O pensamento é vago. Cheio de força porém saltita de lugar em lugar como se eu fosse um salalé, com a destreza duma gazela, com a beleza duma onça e a suavidade duma borboleta. Fui desde a Torre do Tombo até no forte de Santa Rita. Fui desde a marginal até na Junta Autónoma das Estradas. Cruzei a cidade cidade, vi cada casa e seu encanto, vi os sorrisos na janela de quem lá estava, assim como que por magia, embalei nos sonhos de criança, nos lugares sagrados da minha educação, nos pontos cardeais do meu crescer. Não tirei os olhos do mar para não acordar deste vagabundante pensamento.
Me cruzei com Maria Cachucha, Vi o Faria e o Zé das Baleias. Conversei com o lobo marinho e repensei carambolas no Magriços. Comprei ginguba no Camonano, banana na Laurinda e manga no Torres. Um copo de vinho ficou por beber no Manuel Padeiro, um fino na Minhota e um pastel de Nata na Oásis.
Continuei a olhar o mar que se mantinha sereno parecido com chá feito de céu.
Fui ao Eurico, passei no Impala. Vi o Horto e o parque infantil com o seu cavalinho de madeira a bumbar no para frente e para trás que parecia ia ter vida.
E o mar continua sereno como serena está a minha alma.

Sanzalando

8 de novembro de 2017

incoerência de mim

Longe do lugar onde ficou para sempre a minha placenta, onde a minha mãe gritou e gemeu para eu ter vida, eu vivo a minha vida. Umas vezes alegremente e outras triste. Umas vezes felizmente e outras porque sim. Opções. Foi a minha. É a minha num até quando me apetecer. 
Longe desse lugar mágico fui-me criando, ajudado por família e amigos, por amores e dissabores, por trabalho e vagabundagem, fui-me feito gente, tropeçando nos próprios pés, caindo em ratoeiras e bassulas da vida.
Longe desse lugar que tenho sempre presente na memória, que actualizo constantemente como se acompanhasse o progresso, limpo o pó e as teias de aranha como se nele sempre me mantenha, mantendo-me presente estando ausente por opção.
Longe desse lugar acontece-me saber, que por opção, vivo a magia da incoerência, minha própria incoerência, entenda-se, que se aparecesse neste momento um génio da lâmpada a me perguntar o que é que eu mais queria, qual o maior desejo da minha vida, eu não saberia responder uma vez que eu quero tanto tanta coisa. 


Sanzalando

7 de novembro de 2017

vagabundo de mim

Me sento no cimo da falésia e olho para lado nenhum. Disparo pensamentos direitinhos ao horizonte, que passam tangente no zulmarinho até se perderem de vista. Se eu ponho muita energia neles eles vão carregados de peso, de ansiedade e saudade e não vão nem chegar a meio do caminho que era suposto fazerem. Às vezes a gente se engana e põe dureza na força de vontade, num assim quase forçado e sai buraco de pensamento e não pensamento ele mesmo.
Tás a ver que é outono verão num só dia na mesma hora? Descomplicado. Casaco meia manga e calça curta ou calção comprido. Sandálias e meias. Tá feito. a falésia me segura. Os olhos me deixam viajar por ai soltamente. O pensamento me leva. As ideias vão ficando sem preocupação de falhar nem de me criticar por isso. Não me ataco nem me deixo atacar. Não me fecho na prisão do pensamento interiorizado. Eu vou só por aí, de pensamento em pensamento, vagabundando os meus desejos como se fossem os últimos.



Sanzalando

3 de novembro de 2017

cada dia

Passam os dias. Cada dia tem a mesma hora e até um relógio parado tem-na certa duas vezes ao dia. Uns dias faz que tem sol, outros há que chove. Todos os dias são lindos, mesmo os dias que são noite. Há noites brilhantes que nem dia e dias há escurecidos. Todos os dias são lindos. Porque interessa cada dia, à vez.


Sanzalando

30 de outubro de 2017

alma gémea

Nem verão nem outono. Assim assim. Que nem eu.
Olho o zulmarinho e pergunto se alma gémea é uma alma que se encaixa na perfeição. Procuro no Google e encontro várias definições. Descubro que é o que todo o mundo procura. O espelho de si. É mesmo a pessoa mais importante que se conhece. Mas viver com a alma gémea para sempre acho que não. Não me consigo aturar deste modo vezes dois.
Olho o zulmarinho e ele está bravo. É do tempo.


Sanzalando

28 de outubro de 2017

Final feliz de dia

Eu não tenho que encontrar nem dar explicações para o que sou ou o que faço. Sou assim nesta minha maneira de ser e de estar, sabendo que dou o máximo e só falho na hora em que é preciso milagre.
Sou filósofo, humorista, escritor, poeta, ou mesmo nada. Se calhar sou este nada mais que tudo.
Sou o que sou no meu melhor. Transporto-me na positividadee porque vivo positivo, alegre porque vivo na alegria e dentro do conhecimento.  
Se ouço música lembro-me sempre de qualquer coisa, se vejo uma foto lembro-me de outra. Não sei música e a memoria musical nao vai para alem do título do que ouço, porem em memória o mesmo não se passa ainda. Na questão da fotografia tiro muitas fotografias do meu caminho; não uso para bisbilhotar a vida alheia, mostro a minha.
Um dia, sim um dia, vou aprender a escrever para poder agradecer o que sou e os amigos que tenho 



Sanzalando

27 de outubro de 2017

Sabor a infância

Pôpilas que hoje está sol que ate veio pica-pica na praia. Hoje nao tem cota Bauleth para ensinar a nadar, ninguém que aguenta estar assim dentro de água.  Só se for mapundeiro que não ver perder oportunidade de mostrar o seu estilo de nadar e coçar ao mesmo tempo.
Começa o calor e é lhes ver passar as mulolas e rios e vir usar a nossa água do mar para fazer exercícios.  Usam e abusam da nossa jangada em mergulhos estilo chapa e ainda pensam que são reis desta terra. Lhes tou de olho em cima. 
Com este sol eu vou mesmo é  me sentar nas arcadas, olhar o zulmarinho, que não tem pica-pica no olhar só, e navegar por estorias que me contaram faz conta eram verdadeiras. O Travassos e o Rui Moutinhoeram os melhores jogadores da bola e da tanga também.  No hóquei tira os Chalupas e põe o Couto, Ascenso, Sampaio, Briguide, depois o Bonvalot, o Nicolau, Amadeu, Jorge Brás,  Duarte, Zito. Como é eu vou saber os nomes todos deles. O Veríssimo e o Edgar Teixeira e que têm de saber para fazer os relatos como é que é.  Eu só sei estorias de ouvir dizer. 
Vou me deitar e ouvir o Tic-Tac antes que os mosquitos me piquem. Afinal de contas ainda nao fiz anos para poder sair à noite.


Sanzalando

25 de outubro de 2017

Usar a memória e viver


Agarro no tablet, busco na memória a maresia e o marulhar, me embalo em sonhos e outros tantos desejos. Me lembrei da bicicleta sem travões comprada para ai  em 3a mão, nos passeios de mini-suzuky do meu amigo Tobé, nas corridas de carrinhos de rolamentos na tarde inteira no passeio polido da Rua dos Pescadores,  me lembro do Citroën boca de sapo, das mapundeiras que desciam da serra para receber iodo na praia das miragens e me baralhar os neurónios em eu descubrir de qual gostava mais, me lembrei de chegar ao Porto para ir estudar Medicina, para admiração  total da familia e amigos mais chegados, não conhcendo nem a terra nem quem lá morava.
Le lembrei que foi nesse dia, apenas nesse dia, que começou um outro capitulo na minha vida, se ela fosse um livro de ler. Assim mais ou menos 40 anos, na rua Álvares  Cabral que gente da banda me recebeu com carinho e conforto na cidade do Porto, onde iniciei o segundo capitulo da minha real vida.


Sanzalando

12 de outubro de 2017

divaguei no Outono

Me deixo embalar na música do outono. Troco pensamentos e sonhos por palavras simples. Não
complico a minha maneira de estar. Não triplico a minha dispersão no estar. Estou, de alma e coração onde quer que esteja. Simples e racional como as ondas do meu mar que um dia chamei de zulmarinho, com quem um dia fiz votos de ligação eterna e que um dia me deixou estar ligado como um cordão umbilical à terra da minha devoção. Ninguém me conhece para além da capa que me superficializa. Ninguém sabe os meus medos, segredos e outras ninharias perdidas em noites de insónia. Não, não deixo desfazer o meu mundo por outros mundos, por outras vidas ou por outros caminhos. Sou quem sou na razão de tudo o que já vivi e somei. O zulmarinho me liga, me limpa os olhos, a alma e o coração.
Tudo me liga ao simples como se o céu da boca fosse o céu de lá de cima e a planta dos pés a minha flor predilecta. 
Me deixei embalar no sol de Outono e soltei palavras ao vento que não sopra.


Sanzalando

11 de outubro de 2017

relembrando o mapa da cidade

Bem me quer ou mal me quer é verdade que a simetria da minha cidade me afeta. Esquadria quase perfeita que se perde na parte nova para lá do deserto dento onde as vivendas com desenho complexo se vão multiplicando devagar. Gente nova se distancia do centro idoso da cidade. Não sei é de propósito ou não. A meu ver é ideia que não é boa. Avenida do Bonfim, é paralela à Rua dos Pescadores que é paralela à das Hortas que por sua vez é paralela à da Fabrica e as transversais são perpendiculares a estas e paralelas entre sim. Simples que nem desenho geométrico ensinado pelo Professor Ezequiel e antes me ensinara o Professor Amaral e a Professora Estrela.
Assim desorganizada a cidade parece outras cidades de curvas longas que nem rectas encaracoladas sobre si.
Como é que eu vou dizer a um carcamano onde fica o sitio qualquer se não tiver a esquadria na cabeça?
Fico na cidade mais velha, mesmo na Rua dos Pescadores, assim quem vai saber onde eu moro?
Na torre do Tombo? No Bairro da Facada? No Forte de Santa Rita? No Bairro do Mucaba? Mesmo na minha rua, aquela que eu chamei de minha na posse plena do meu centro universal.


Sanzalando

10 de outubro de 2017

outonal pormenor

Está quente. Não chove nem cacimba. O sol não é o sol brilhante de verão. Mas é apenas um pormenor brilhante. É Outono, dizem os almanaques. É Outono diz o corpo e a mente. Mas aqui onde o zulmarinho termina está quente, como quente imagino deve estar lá onde ele começa. Um pouco menos, se calhar. Pormenor outro. 
Nas estórias de amor ou é Verão ou Primavera. Raramente Outono e ainda mais raro inverno. Porém, quem se apaixona por flores, no Outono das quatro estações, vai amar os troncos despidos? As flores de estufa? Ou o todo sonhando com a Primavera e o Verão que um dia voltará a chegar? Outro pormenor.
No outono não há aquelas conversas de rua até às tantas da madrugada. A lareira se acenderá, os corpos aquecidos se perdem em serões de silêncio olhando a caixa mágica que entretém na semi-escuridão. As conversas não são fluídas e as palavras parece se guardam para outras alturas. Um ligeiro pormenor silencioso.
É outono, mesmo que por aqui esteja quente que nem Verão. Um outonal pormenor.



Sanzalando

4 de outubro de 2017

quente outono da minha estória

Nem parece saímos do Verão. Tem dias que nem em Verão era assim. Dou comigo a navegar por palavras, sonhos, ideias ou pensamentos. Vagabundo-me lentamente para não sai da mornice e entrar no ferver ansioso. Vou só por ali, por aí ou por aqui. Despolidamente saltitando sem rumo aparente.
Afinal de contas existe uma ligação no que me parece e no que é o eu verdadeiro. Falo de mim, é claro. Conto a minha estória. Sempre. Todas as vezes que falo de mim, que penso de mim, que vagabundeio-me por aqui, ali ou aí. Afinal de contas, repetido, é essa estória que me converte no que sou. 
Com este calor de outono concluo que me construo a partir da minha própria estória


Sanzalando

1 de outubro de 2017

doce outono

Sopra fresco. Um pouco mais do que eu desejava. Os teus braços se entrelaçam e se encaixam docemente no meu corpo. Nossos corpos nus ocupam o mesmo lugar. A fragrância que paira no ar é doce amor. A luz que ilumina a escura noite nublada é o nosso luminoso amor. 
Esta terra fria, mais do que eu desejava, é o lugar que eu queria habitar porque nela está a tua alma, o teu corpo, o teu perfume, a tua tranquilidade.
Como é doce o outono


Sanzalando

27 de setembro de 2017

sorrindo outono

Sorrindo, tornando o outono romântico, quem sabe alegre e bonito e não aquele em que na fria noite, metade da cama está vazia e só restam memórias das tantas conversas havidas entre ambos. Não aquele em que o peito doi, os olhos nada olham e a alma clama por uma carícia.
Não! É mesmo aquele outono em que a amor é fazer parte um do outro, não por obrigação, mas por ele mesmo. Por Amor. Aquele em que o outro corpo é seu, o seu porto seguro, aquele que passa para o seu rosto a felicidade, apenas num clique de olhar, de tocar de sentir.
Olha, o mar continua azulinho que nem o zulmarinho de verão, mesmo que sirva apenas para olhar. A luz do pôr do sol continua divinalmente da cor do fogo.
Eu sei que as flores se foram ou se vão. Eu sei que o ar deixa de estar de feição. Eu sei que a melancolia invade todos os poros. Porém, mantenho-me sorridente porque espero que cada dia continue a passar, como ele mesmo, mesmo que tenha de pôr uma pergola que antes eu chamava de toldo.

Sanzalando

26 de setembro de 2017

outono positivo

Tantas vezes dou comigo a tropeçar em palavras, como se só eu as entendesse. Outras vezes, não sei se muitas ou nem tanto, pouco importa a quantidade, tenho medo que alguém veja as minhas palavras, como se elas fossem o meu rosto e se esquecem que por detrás existem raízes, sentimentos sedimentados em tempos longos. 
Às vezes, 10 pessoas me dizem bom dia e eu retribuo sem dar importância ou me lembrar mais tarde. Mas há uma que passa por mim e diz algo desagradável. A força desta negatividade persegue-me porque parece é grande, enorme. Mas felizmente eu vou buscar aqueles 10 bons dias, simpáticos, simples e sem importância, e neutralizo aquela força negativa.
Outras vezes, porque é outono, penso que estou como as folhas das árvores, em queda, porém, revivo cada momento como se não houvesse outro e sorridente vou vendo um paralelo, ou abrindo desdobráveis e recupero o folego dos meus tempos de criança sonhadora.


Sanzalando

24 de setembro de 2017

Fotografando Domingo de Outono

Porque nem sempre apetece deixar palavras por aí, nem navegar por sonhos ou estórias soltas. Às vezes apetece só andar por aí num aqui.


































Sanzalando

22 de setembro de 2017

eis-me chegado ao outono deste ano

Ao longo dos tempos, tempos longos, fui aprendendo algumas coisas. O outono não me assusta, a idade não me surpreende, a tristeza não me afoga e a vida vou vivendo-a com um sorriso nos lábios. Outra das coisas que aprendi é que a felicidade não tem nenhuma relação com os que as pessoas possam aprovar ou não. Importa mesmo é ser feliz, com o sol brilhante ou com céu cinzento.
Esfolei joelhos nos carros de rolamentos, em patins de rua e nas bicicletas sem travações e outras distracções. Chorei amores e desamores em vazios tempos de solidão. Cantei canções que inventei em momentos de paixão. Sorri e gargalhei nas mais diversas ocasiões. Em todas aprendi 




Sanzalando

19 de setembro de 2017

outono geográfico

Na aula de geografia me tinham dito ainda era Verão. Outono é daqui a uma semana, mais coisa menos coisa. Mas nem já o tempo segue o tempo de escola.
Vais ver é porque estamos subjugados ao saco de plástico, ao dinheiro de plástico e à beleza de plástico implantada nas partes eróticas do corpo.
Acho vou segurar a respiração e cometer um suicídio ecológico, livrar-me de mim, triturador da humanidade serena e calma, organismo oco servido enlatado, embrulhado em conservantes e temperados com corantes de lugares exóticos como laboratórios.
è outono e eu estou melancólico e assim ficarei até que as folhas das árvores caiam e sejam substituídas por plásticos, que a conta chegue ao zero e seja substituídas por moedas e os implantes se esvaziem em reais desperdícios de gente humana


Sanzalando

18 de setembro de 2017

as minhas metades

Me deixo embalar na brisa outunal que teima em soprar. Visto um casaco de malha. Mais como um aconchego do que propriamente por frio. Parece-me que metade de mim grita e outra metade se mantém em silêncio. Este outono, como todos os outros outonos, me deixam melancólico. Mais ou menos como se metade de mim partisse com as aves e a outra metade ficasse com o meu passado.
Me deixo embalar neste sol de fingir, nem aquece nem arrefece, e fico com metade de mim a julgar que sou o que penso e a outra metade a dizer que sou o que pareço.
Me canso neste tempo de melancolia pensando que metade de mim é um abrigo e a outra metade é um deserto.
Mas a brisa me trás de volta num arrepio que me despenteia porque metade de mim é amor e a outra metade também deve ser.

Sanzalando

16 de setembro de 2017

assassinando saudades

O sol de verão já não era o quente sol de dias atrás. A areia da praia onde o zulmarinho termina já não tinha o brilho de semanas atrás. O zulmarinho continuava nuns tons verdes como era todo o tempo passado até nos dias de hoje, e se prolongava para lá da linha recta que é curva, começando na miragem duma praia cheia de gente e toldo azul. Hoje devia ter acordado cor de cacimbo lá no seu início, enquanto aqui no seu fim acordou desbrilhado de reflexos frouxos. 
Mas tu caminhas ao meu lado, sorriso largo por vezes matreiro que não da para adivinhar o que esconde. Só dá mesmo vontade de te fazer feliz para manter esse sorriso enigmático à minha vista.
Não sopra brisa transformada em vento nem me despenteia suavamente o cabelo ralado pelo tempo. O marulhar é suave como suave deve estar lá no vazio inicio dele.
Gargalhaste porque te lembraste de qualquer coisa. 
Já sei, te lembraste de Bauleth, do Rui Monteiro da Costa, do Matela, do Travassos ou do Leopoldo, os guardas redes que te lembras dos jogos da bola do velho campo junto da estação dos comboios. 
Não, não pode ser porque nesse tempo não eras nascida e não nasceste lá, onde o zulmarinho começa e me trás estes segredos.
Já sei, te lembraste da minha saudade de me levar aos lugares comuns onde um dia eu esfolei joelhos, parti a cabeça ou perdi o coração.


ps: me esqueci de meter o Bitacaia ali no meio. Logo ele parecia era de plástico

Sanzalando

12 de setembro de 2017

adeus Zé David

E hoje perdi um amigo. Daquelas perdas que a gente não pensa possa acontecer. Não espera que a vida faça essas surpresas.
Zé David, me fizeste rir tantas vezes quando me apetecia chorar, me deste força quando a fraqueza tomava o meu corpo e minha mente de assalto. Hoje me ligaram e disseram que havias partido. Assim de surpresa. Vendo bem, contigo nada era surpresa. Viva a vida, Zé David, é só o que te posso dizer neste momento de vazio.

Sanzalando

8 de setembro de 2017

meditação

Sento-me na beira da estrada e me deixo embrulhar em pensamentos. Vou meditando, trocando ideias por sonhos e vice versa, perdido por vezes e achado outras tantas. Me deixo ir de pensamento em pensamento como se viajasse dentro de mim, da minha estória, do meu passado real e imaginário, do meu futuro como se fosse presente. Vagueio-me vagabundando ao calhas. Tudo porque pensei que tinha chegado o tempo de pensar no meu bem, no meu bem estar, no meu estar presente de ser eu próprio, de dar primazia a mim mesmo. Presentear-me com a minha presença.
Faço uma escala entre sonhos, desejos, vidas, passados, presentes, quereres. Tento escalar. Prego a prego desorganizo-me. Ordem alfabética, não me satisfaz. Importância, não consigo dar mais e menos. 
Sorri. Para mim, entenda-se.
Não posso esquecer-me de me dar atenção, às vezes. Eu tenho de viver para mim também. Sem falsa modéstia. 
Se eu não for autor da minha felicidade, quem irá ser?


Sanzalando

5 de setembro de 2017

Re-introdução ao deus-dará

Carregando os sonhos que sempre sonhei, recordando os que vivamente vivi, suavizando os amargos sonhos que sofri, me deixo levar neste caminho que uns pensam é uma passagem, outros uma constante e outros uma mera ilusão óptica. Eu, não preocupado com definições, cá vou indo por ela, a vida, sorrindo, chorando, gargalhando ou simplesmente tentando ser feliz, sempre.
Cá vou correndo por tanto que há por trás dum te quero ou te gosto, cá sigo eu atrás dos meus sonhos, umas vezes com a positividade dum não, outras nem sei porque corro. Cá vou eu esquecendo os meus medos, agarrado aos sonhos, de modo que não me enfraqueça num qualquer desvario temporal, num qualquer tropeção de confiança ou numa armadilha imperceptível


Sanzalando

30 de agosto de 2017

Divagações dum dia de verão - último

Faz sol e sopra brisa. Não é mais aquele sol brilhante de cegar os olhos nem aquela brisa de sabor a mar. É mesmo assim só um adeus de sol e um frio feito aragem.
Olho na janela, vejo o céu limpo e espero amanhã o sol volte a ter brilho. 
Chega a noite. A brisa virou vento gelado. Olho na janela e conto meia dúzia de estrelas e me pergo na divagação de dizer que gosto da noite. Pelo silêncio dela. Pelo descanso que ela me trás, mesmo que amanhã não brilho o sol como brilhou no resto do mês.


Sanzalando

23 de agosto de 2017

Divagações dum dia de verão 25

Sopra brisa, está aquela névoa sobre o mar. É verão de Agosto para desgosto de quem não gosta de verão. Eu prefiro o verão em Dezembro. Mas não escolhi. Mas isso é outra água, outra corrente, outra forma de estar e ser. 
Aproveito o calor para me afogar em pensamentos e perguntas. Pensamentos de pensar alto ou de imaginar calado. Pensamentos de agonia ou de corrector de erros cometidos ou a acometer. Perguntas cuja a resposta não imagino ou perguntas a partir de respostas já dadas.
Enfim. É verão e eu sorrio de alegria ou de desespero. Depende da hora e do lugar.


Sanzalando

14 de agosto de 2017

Divagações dum dia de verão 24

Faz sol e não sopra vento. Tem dias de verão são assim, que até dá ideia de não é verão. Tirava toda a gente da rua, tirava toda a pressa da gente que andava na rua, tirava a rua a toda a gente que anda depressa na rua sem pressa de chegar a lugar nenhum e mesmo assim era dia de verão. Mas é um verão diferente. Roubaram o mês de Agosto. De 31 de Julho passamos para o 1 de Setembro. Ninguém nota a falta do 15 de Agosto. Ninguém repara nos fins de semana ausentes do mês de Agosto. Não se notou a ausencia duma lua cheia e já ninguém se lembra da bola de berlim não comida numa areia de praia vazia.
Mas quem se esqueceu de pôr o mês de Agosto no calendário?
Acho mesmo é delírio de verão


Sanzalando

11 de agosto de 2017

Divagações dum dia de verão 23

Aproveito que o vento se esqueceu do que é soprar e vou limpando poeiras do coração, da mente, da imaginação e da realidade ela mesma. Vagabundo-me pelo areal, danço ao som do marulhar como se numa festa estivesse. Divirto-me ao sabor salgado da maresia e sigo em frente numa semi-lua desta baía que segura o zulmarinho deste lado de cá. Sem poeiras o coração bate certo, cadenciado ao ritmo do teu olhar. Sem areias a mente flui de ideia em ideia ao encontro do teu desejo. Sem cotons a imaginação se amplia numa capacidade de dizer não ou na capacidade de mudar de ideias.
Aproveito o dia de verão sem vento e não vejo a vida passar: vivo-a.

Sanzalando

8 de agosto de 2017

divagações de um dia de verão 22

Faz sol. Faz calor. Curiosamente continua sem ventar. Mas de certo é ainda verão.
Perdi qualidades. Perdi faculdades. Melhor, não encontrei facilidades.
Não, não é aqui neste cantinho da falésia onde me sento e medito, onde acordado vivo sonhos de encantar, onde navego por mares ainda não domados. Aqui estou bem. Sereno. Feliz, mesmo de verdade.
Nos outros lados onde por vezes tenho de passar a minha nau. Por cantos onde tenho de deixar o meu pobre corpo repousar. Aí não tem sido fácil. Existe pressa. Existe pressão. Existe má criação. Exigência sem condição. Porque é verão e o verão acaba-se e antes que aconteça o seu fim há que não perder tempo em tempos que nos outros tempos não temos.
Bebe-se, não vá a bebida acabar como acaba o verão.
Esforça-se o corpo não vá este não aguentar o verão.
Mas o pior, é quando eu tento arranjar um lugar para comer e o verão levou todos os lugares para valas comuns de gente apressada que conversa teclando e olha nos olhos da câmara que os olhos da frente estão mais que vistos.
É verão e eu ando por aqui, às vezes escondido na minha falésia a olhar o zulmarinho de ontem com olhos de amanhã.

Sanzalando

7 de agosto de 2017

divagações dum dia de verão 21

Faz sol e o vento não acordou. Quase ia pensar não era verão, mas com este calor é mesmo mais o quê? Vou aproveitar não necessito estar escondido da garroa para dizer coisas que às vezes falo com o silêncio, que deixo transparecer com o olhar ou simplesmente com o mau feitio. Horas e momentos, disposições.
Na verdade eu tenho de aprender a deixar-me ir, deixar sair o passado e estar no presente que amanhã logo se vê. 
Mergulho no mar, me ligo através do zulmarinho às minhas raízes mas, com um sorriso tenho de olhar em frente e esperar que amanhã não esteja assim pregado à História.
Não sopra vento mas ainda é verão.
Não me escondo. Admiro o ondular verdemarinho do zulmarinho de hoje. O coração bate, umas vezes acelerado outras cadenciado numa morna apaixonante.
Não há sempre vento no verão



Sanzalando

3 de agosto de 2017

Divagações dum dia de verão 20

Sopra vento. É verão, claro. O pó, a areia fina da praia, as sobrinhas, as toalhas e os sorrisos voam ao longo do areal. Eu vagueio pensamentos tentando contrariar a velocidade do vento, porque neste momento eu queria sorrir ao teu olhar num abraço bem apertado. Ouvir-te respirar abafaria este silvar, este despentear-me de ideias e estas ondas salpicadas dum borrifador natural.
Sopra vento. Claro que é verão. Não acredito em almas gémeas, mas o verão é sempre gémeo de outro verão. Faz vento e as pessoas correm porque o verão acaba. Se ele não acabasse não havia necessidade de correr, de fazer coisas que o resto do ano nem nos lembramos, de exigir rapidez mesmo até ao conta gotas. O verão acaba, mas não sei nunca quando o vento termina.


Sanzalando

1 de agosto de 2017

Um episódio mais do Estórias Soltas e Palavras Vadias

Com pelo menos um erro apresento-vos aqui a lista dos presentes na Feira do Livro de Portimão. Na verdade já estou tão habituado a que o meu nome mude de quando em vez que já nem ligo. Desta vez calhou no João que passou para José. Um nome próprio da família dos Jotas pelo que não é de importância vital.
Dia 16 de Agosto, às 21:30 horas lá estarei margem direita do Rio Arade, numa noite que vai estar quente, bordeada por uma brisa que soprará do sueste, perfumada pela maresia da preia-mar.



Sanzalando

Divagações dum dia de verão 19

Bate lentamente o mar nas pedras. Nem chega a marulhar. É noite. Vejo o brilhar da luar se estender no zulmarinho como que se embalando para uma noite de calmaria. Os carneirinhos de mar faz tempo adormeceram. O mar parece chão, óleo ou simples passadeira a convidar-me a entrar nele desfilando par sul.
Hoje vejo-o e não me apetece mover montanhas. Fico na minha transparência fixamente a olhar para o momento que a qualquer instante vai virar passado. As montanhas têm de se mover a dois que caminham para o mesmo lado enquanto o passado está cheio de recordações e para o futuro eu inventarei esperanças. 
Hoje não me sinto a montanha russa que galga pensamentos nem se afunda em frustrações ou se emociona em verticalidades.
Hoje o mar está calmo e eu não sou mais a confusão de uma noite de verão


Sanzalando

28 de julho de 2017

Divagações dum dia de verão 18

Acho o vento foi para outras paragens, deixando os corpos musculados e os bem torneados vagabundarem pela areia das mil cores do zulmarinho que mansamente também se espraia por aqui em marés de verbo encher ou vazar. Eu, sento-me aqui abrigado na sombra de memórias, idealizando mantras e replicando meditações, como que a querer viver cada segundo como se fosse hora, na forma de ter mais tempo para sorrir feliz em cada tempo de verão.
O corpo queimado, do sol e do tempo vivido, bronzeado de passado, esperança de futuro e a viver o presente com intensidade de uma qualquer manhã de verão, me deixo enredar em filmes que nunca filmei, livros que não escrevi mas em vida que fui vivendo.
O marulhar me embala ritmado. A maresia me perfuma. Na cara um sorriso. É verão do meu contentamento porque em cada abraço eu sinto que gosto deste mundo


Sanzalando

26 de julho de 2017

Divagações dum dia de verão 17

Sopra vento do norte. Eu quase diria era Agosto em Julho. Quase, porque não me lembro esses pormenores para fazer afirmações assertivas dessas. É verão, está vento chato e isso chateia-me.
Assim sendo, recolho-me num canto, olha a linha recta que é curva deste zulmarinho de espanto e medito. Ou simplesmente vagabundo pensamentos como que a encher pneus.
Levanto-me e quase regresso a casa. Para onde vou? Tenho tanto para fazer. Fazer mesmo o quê? Ficar longe dos meus pensamentos, por exemplo. Deixo-me ser infantil por pedaços de tempo. Quando eu crescer logo terei tempo para deixar de ser assim. 
Acho eu, porque é verão e está vento como em Agosto do lado de cá, cacimbo do lado de lá.
No verão não consigo imaginar o silêncio, nunca me tornei silêncio nem mesmo quando vivo o passado da memória.
Há o silvo do vento, há o barulhos dos que têm pressa para lado nenhum, há os que reclamam que sim ou não. Há o calor de verão que anima.


Sanzalando

24 de julho de 2017

divagações dum dia de verão 16

Havias de ver as nuvens a desaparecer quando falo de ti ao mar.
Sabes, verão, quando entro no zulmarinho e sinto que fico um bocado mais perto do lado de lá, até me brilham os olhos. E se ela olha para mim, ao mesmo tempo, acho ela consegue ver o que eu estou a pensar. Ela e o o lado de lá são os pensamentos mais lindos que eu consigo ter. Transparentizo-me na alma e coração. Os olhos reflectem-me a alma.
Sopra uma brisa devagarinho. Mais carícia que brisa e se ouço alguém dizer que esta vida está difícil é que eu penso que ela, a vida, está farta de nós. De nos aturar nas fazes menos claras.


Sanzalando

22 de julho de 2017

divagações dum dia de verão 15

Como é sábado é madrugada para levantar. Não levantou-se o vento, levanto-me eu atraído pela selva de luz do sol. Sinto-me bem. Com olhos de ver vejo o que posso á minha volta. O zulmarinho ali está, sereno, sem ar de cordeiro nem de fera. Ele mesmo estendendo-se até à linha recta que é curva e que me separa o que vejo do que sinto. Troco palavras simples por grãos de areia. Brinco na areia. Podia dançar. Conversar e dançar na areia dum dia de verão. As garotas estão divinais nos seus biquinis de cores garridas. Os rapazes jogam à bola. Hoje todos se levantaram de madrugada, antes do vento.
Eu hoje imaginava estar aqui sozinho a ver o zulmarinho e sonhar sonhos de vida e dou comigo a divertir-me à grande com toda esta alegria de cores e brilhos numa madrugada de sábado em que nos levantámos antes do vento.
Hoje é verão dum beco à procura de saída.


Sanzalando

17 de julho de 2017

divagações dum dia de verão 14

O vento foi de férias para outras paragens que nem me interessa saber quais, porque na verdade tudo melhora quando parece que não damos importância, quando não somos nada mas temos todos os sonhos do mundo.
Hoje serei chef, de estrela mexilhão ou Michelin que não me interessa desde que eu seja o que neste momento me apetece ser. Vou fazer um prato grumet, estilo francês, decoração latina e sabores franceses. Apetitoso?
Pouco me importa desde que eu goste do que esteja a fazer.
O Óleo queimou? Parvo ajudante de mim me saí. Um Chef não deixa queimar o óleo. É científico.
É verão e me apetece fazer o que gosto.
Mas hoje andam por aqui a reclamar, é tempo, é dor é parvo. É verão e vou fazer mais o quê?


Sanzalando

14 de julho de 2017

divagações dum dia de verão 13

Afinal de contas o que é que é o verão? Aqui no Algarve? Faz Sol e faz Vento? 
Bem vistas as coisas aqui é assim um beira do fim do mundo. Um quase lá que não existe excepto naqueles meses. Um lugar onde não vive ninguém. Um lugar onde é uma chatice o tanto ano que existe que não naqueles meses.
Sem ser naqueles meses não há carros. Qualquer lugar está ali, inerte, isolado, solitário qual deserto. Sem ser naqueles meses as pessoas são pagas, mal, para aguentar o lugar até chegar àqueles meses, sorriem porque têm tempo até ao tempo daqueles meses, as pessoas se juntam à beira do rio, nas esplanadas vazias, nas esquinas desertas a conversar sobre tudo e sobre quase nada porque têm tempo até chegar àqueles meses.
Sem ser naqueles meses as tantas praias estão limpas, vazias e o olhar se deixa navegar por silêncios marulhados em perfumes de maresia, o ar respira-se sem o perfume de gasolina, o coração bate lentamente e os sorrisos se estampam nas caras enquanto as gaivotas não têm dificuldade em escolher um lugar para se espraiarem no areal.
Depois chegam aqueles meses... e CV conversa com JCC numa noite escaldante dum subúrbio esquecido por aqueles que descem à descoberta como os antigos navegadores para espalhar a palavra confusão nas mentes dos dementes que aquentam os outros meses.

Sanzalando

12 de julho de 2017

divagações dum dia de verão 12

Quem foi que apagou o sol hoje? Faxavor devolver. Tem gente que tirou férias para torrar feito pão em torradeira e já não basta o vento ainda lhe escondem o brilho?
Na verdade com tanto vento acho não sobrou palavras para usar. Acho a praia desariou, varrida constantemente por essa força aborrecida.
Mas quem é que foi que inventou o vento?
Afinal de contas eu gosto é de verão, sol a sério, mar quente e muitas ideias na cabeça a fervilhar..



Sanzalando

11 de julho de 2017

divagações dum dia de verão 11

Sol tórrido queimando-me as ideias e aquecendo os pensamentos. Vento forte varrendo as palavras que parecem saem silenciosas da minha boca. É assim que vai o verão, fazendo-nos sem força, anémica vontade de fazer o que quer que seja, desentender o que sou ou que queria ser. Abrigado do tórrido sol e escondido do forte vento, escolhendo as minhas fases, numa forma indelicada de ligar ao sentimento raiva que vai nascendo com o despentear dos poucos cabelos que resistem. Guardando as coisas dentro de mim, o medo de encontrar um domador para os meus temores, conteúdos para preencher o vazio, imagino que o meu passado não é a memória do que vivi mas sim as recordações que fui montando ao longo do passado numa constante mudança presente. 
O sol tórrido e o vento forte conquistam espaço e eu desato a gritar que é tempo de arrumar o caos e sonhar claro para lá do zulmarinho

Sanzalando

5 de julho de 2017

divagações dum dia de verão 10

Sol timidamente estendido sob a areia da minha praia. Vento forte arrastando grãos de areia em direcção ao meu corpo, tal como agulhas disparadas duma qualquer arma. Abrigo-me, encolho-me num canto recatado, protegido por uma pedra de séculos de memória. Eu quase sem nenhuma, quase sem passado e do presente resta um medo de passar a entender e deixar de sentir. O zulmarinho ondula num marulhar de ira, quem sabe de protesto.
É verão numa tarde de vento quente.


Sanzalando

3 de julho de 2017

divagações dum dia de verão 09

Hoje não há brisa. O tórrido sol queima a areia da praia que nem dá para a pisar a caminho do meu canto ounde gosto de me sentar a ouvir o marulhar das águas empurradas pelo sueste. Saltito como lagarto em deserto usando memórias de passado. Assobio para abafar os ais e uis que grito em forma de pensamento. Chego ao meu miradouro. Desperto a minha atenção para além dos horizontes visuais. Sussurro mantras como que a chamar memórias que possam estar escondidas nas camadas da vida vivida. Assopro poeiras, limpo velhas teias de aranha que mais não são que bichos imaginados em tempestuosos passados. Assim já limpo, já recomposto no presente, projecto os pensamentos e me dou comigo a fazer-me perguntas cujas resposta vou dando cândida e vagarosamente.
Um dia de verão, calor tórrido e memórias refrescadas. Mergulho o corpo na água gelada. Purifico-me em sorrisos, brilho dos olhos de criança que continuo a ser.
No céu há estrelas velhas e novas que logo à noite brilharão a minha escuridão


Sanzalando

1 de julho de 2017

divagações dum dia de verão 08

É verão. faz vento. Está quente, agradavel mas despenteavel. Sento-me aqui a ver o mar que hoje resolveu estar parece é lago. Nem o marulhar me chega aos ouvidos. Neste momento só me apetecia olhar nos olhos e sentir a respiração de quem me abraça com o coração. O desejo aumenta só de pensar nisto. Mas não me apareces no horizonte do meu olhar e nem se eu ultrapassasse a visão da linha recta que é curva eu te veria. Tu estás no meu pensamento e eu nem sei se consigo abrir os olhos porque tenho medo que fujas por eles. 
Faz vento. Está quente. Está mar chãi sem marulhar mas existe um sabor a maresia no ar. És o meu ar.


Sanzalando

29 de junho de 2017

divagações dum dia de verão 07

Sopra vento como em todos os verões. Não o tenho de memória mas na minha estória só é verão se houver vento. Pelo menos de algum tempo até agora. O que dá para eu me sentar num recanto duma qualquer falésia e adormecer pensamentos e viver sonhos. Ou até por-me a viajar por lugares que eu nem sabia existiam e onde sei nunca irei, porém, ao sabor do vento deixo a imaginação voar por aí.
Sabes, ao longo da vida me afastei de pessoas que eu pensava iam ser ligações para sempre e me aproximei de pessoas que eu nem sabia existiam. É assim como o vento. Inconstante vertente da existência.
Olho o zulmarinho e azulo a minha vida, reflexos de tonalidades múltiplas. É verão e faz vento. Como sempre.


Sanzalando

27 de junho de 2017

divagações dum dia de verão 06

Tórrido sol que ventos trás. Olha ai, ó sol, me apetece dizer-te não. Com técnica, é claro. Na minha estória, qualquer das minhas personagens devia saber dizer não, porque eu, no todo, só tenho um dia por dia e não posso gastar energia assim soprando ao contrário para não despentear as minhas ideias ou pedalar até nas descidas. As minhas personagens são escassas para gastar assim. 
Vê lá sol, se deixas esse vento que trás areia até parece acupunctura me perfurar as belas pernas que o tempo cansou.
Considera este não um ponto positivo. Tu és sol e és a fonte da vida, alegras a minha vida com o brilho do teu calor, assim eu quero andar numa de lá para cá junto à maresia, mudando de cor, saboreando o teu reflexo no zulmarinho.
Com este vento eu não consigo.

Sanzalando

26 de junho de 2017

divagações dum dia de verão 05

Faz um calor tórrido. Acho mesmo um milionário dos sules comprou o tempo e lhe o tropicalizou. Se não foi assim, então eu não percebo nada disto de meteorologia. Mas se esqueceram da porta aberta e o vento que devia ser brisa quase me arranca os cabelos pela raiz.
Com este tórrido calor sinto vontade de chorar, primeiro para aliviar o coração e depois para me fazer mais leve para as roupas do verão.
Com este tórrido calos, arrefecido por este vento forte, vai criar novas dores, novas memórias para ficarem na memória duma recordação que o tempo passou.
Cabeça quente e dorida dos cabelos arrancados deste verão eu garanto que o amor é uma questão de possibilidades e nunca de garantias garantidas num contrato de longo prazo.
Assim foi mais um diálogo entre mim e a outra personagem da minha friccionada estória verdadeira de verão

Sanzalando

23 de junho de 2017

divagações dum dia de verão 04

Tórrido sol que me obriga a fechar os olhos quando eu queria ver tudo o que me rodeia.
Como é estranho ser personagem na minha estória. E efémero como todas as personagens duma qualquer estória.
É estranho saber de mim, dos meus problemas e frustrações assim como se fosse outro e me ouvisse de outro. As coisas que o sol me faz.
O zulmarinho continua nas suas tonalidades de turquesa ao escuro até um quase verde, quente, frio e caldoso, agitado, calmo ou calema de remoinhos traiçoeiros, conta-me a minhas alegrias, frustrações, enjoos e surpresas. Uma maneira de me ver através da minha personagem nesta minha estória de vida.
Nem o tórrido sol fez apagar as promessas que fiz, nem apagar as palavras que escrevi ou calar as que disse nesta personagem de verão. Afinal de contas, menos vestido, esta minha personagem continua muito parecida comigo, pelo menos nas estórias que me conta.


Sanzalando

21 de junho de 2017

67 - Estórias no sofá - se é, amizade não acaba

Assim cantava Chico Buarque: amou daquela vez como se fosse a última; e ele, Antonino, menino nascido e criado em família boa da cidade alta, tudo fazia como se fosse a última coisa a fazer na vida. Vivia-a como se ela, a vida, acabasse naquele instante. Ele parecia sabia. Ele amava com tal força parecia morava dentro do amor, ele próprio, que tanto dizia que quando o amor acabava ele ficava um sem abrigo.
Era este Antonino que eu conheci ainda andava de calções mas não magoava os joelhos porque ele não tinha tempo para brincar. Ele estava sempre tão ocupado que não tinha tempo para ver que as cores do céu são muitas, depende do minuto e do olhar. Do azul escuro, ao claro e ao amarelo alaranjado é um instante que se perde. Ele não podia nem perder esse segundo de admiração. Estrela cadente ele sabia que existia. Mas sei nunca viu nenhuma. Me contou uma vez na hora do lanche. Na verdade, vendo de agora, deixado passar esse tempo, uma vida, eu acho que Antonino estava imune à beleza da vida. Ele era o melhor. Menos no jeito de estar na rua, menos no jeito de vestir o uniforme de pessoa que vagabunda as ruas da cidade à procura de não fazer nada de jeito.
Ele era poesia, geografia e história. Matemática e desenho era assim um quase nada fracote, mas disfarçava com o vocabulário de quem ia fazer discurso de polimento. Ele sabia museus e outras enciclopédias. Não sabia bares nem outros lugares.
Um dia mudou. Cresceu na altura e na largura. Trabalhava parecia não tinha fim o dia. Amava poderosamente. O tempo de estar, simplesmente estar, desapareceu e no meu olhar nunca mais o vi. Fui ouvindo falar estórias de quem não sabe onde acaba a ficção e continua a realidade. Engenheiro, doutor, não sei. Milionário me disseram e a vida foi correndo nos seus altos e baixos. Houve flores que murcharam e outras floriram, houve invernos e verões e os frios tropicais nunca congelaram estórias que fui ouvindo. Umas sabia podiam ser verdadeiras, outras nunca na vida. 
Antonino aparecia nas revistas de negócios, umas vezes inchado porém sempre bem bronzeado e acompanhado. Nunca soube o caminho mas o ia abrindo. Lia eu, ouvia e imaginava outro tanto.
Um dia, perdi o rumo. Eu herói de tantas guerras na vida me esqueci. Desliguei o passado como se ele fosse de outro. Eu só tinha o meu presente presentemente. Dia após dia segui a minha sombra. 
Uma esquina, um dobrar de esquina, lento como o calor que me toldava os movimentos, dou de caras com Antonino. Magro e pálido. Reconheceu-me de imediato enquanto tive que fazer um esforço enorme a tentar pôr aquela cara num qualquer lugar da minha vida, até que consegui pela voz e gestos. Tremia. Falava muito mas pouco percebi o que me dizia. Comia uma parte das palavras e nas outras um silêncio no olhar. Eu gosto de silêncio mas os silêncios que lhe saiam da boca me incomodavam. Tanto que ele falou que eu apenas  resumi no sempre há uma escolha excepto se escolhermos a errada. Demos um abraço como se o tempo não nos tivesse passado. Amigo, disse-me, roubaram-me a capacidade de ser feliz e eu gastei o tempo a correr para lado nenhum. Ouvi perfeitamente, refeito da surpresa.
Mergulhei em oceanos profundos, nadei mais do que as minhas capacidades permitiam. Vivi como se cada dia fosse o último. Hoje tenho tempo, menos para morrer como eu desejo.
Olhei-o, perplexo, não quis saber da sua estória, não tentei perceber os seus caminhos e lhe disse para me acompanhar num passeio de passo lento. Silenciados, lado a lado, fomos andando.
Foi aí que ele me disse naquela voz de ainda criança que eu me lembrava: tudo na vida acaba, menos a amizade.





Sanzalando