Haverá caminho sem trevas? Até o zulmarinho tem dias que nem se pode chegar pertinho dele. Um dia, era ainda criança de sandália e calção, estava na marginal a ver o mar deitar toda a sua raiva quase até na falésia. A estrada e os caminhos de ferro desapareceram por baixo duma lama que nem sei donde veio. Eu me lembro fiquei ali a lhe olhar e me perguntar porque é que o mar também se zanga? Desconheço a resposta mas deve ser só porque quer pôr cá fora dele as coisas que os humanos lhe fazem. Mas não me cientifiquei sobre essa matéria, nem na altura nem nos anos depois.
Mas por essas e por outras é que eu às vezes me travo e deixo o tempo passar para respeitar o tempo do outro. Não preciso de ir buscar a minha verdadeira verdade e atirar na cara a minha treva. Não me precipito, nem me conservo em vinha de alhos. Respiro e dou tempo ao outro de ter tempo.
Desde o tempo da marginal até ao tempo de agora, depois de muitas calemas, depois de ver muitas trovoadas eu aprendi a mostrar não só a minha casca como também o meu tronco, faz de conta eu sou árvore, faz de conta eu sou naturalmente humano. Tem trevas que se ficam pela casca.
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