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3 de maio de 2023

delírio de memória

Estou sentado com os olhos postos lá num horizonte que imagino seja bem longe. Pouco me importa o que vejo. Agora interessa-me mais o que sinto. É que enquanto, alguns dormem, eu penso e vejo na forma de sentir, sem criar imagem na retina, apenas uma ténue imagem no lóbulo cerebral dedicado à memória e que me leva ao sentimento mais puro do prazer. 
Não é saudade nem nostalgia. É mesmo um carinho enorme, uma doce aventura de mim, um naperon de abertos e fechados, como os que a minha avó fazia no seu crochê de fim de tarde, aquilo que sinto do meu passado presente. Tive um professor que me dizia pica a burra quando estava eu no quadro com uma dificuldade matemática. Hoje, passados muitos anos, lembro-me como se tivesse sido agora e sinto saudade, porque me foi útil mesmo que na altura eu não tivesse achado piada nenhuma. 
Eu tinha pensado que para bem da minha saúde mental eu não devia recordar passados. Mas o que seria de mim se o não tivesse? Assim, nesta forma de sentir, vejo que sou feliz por ser capaz de recordar sem mágoa, que cresci com a ajuda dessas memórias, com os ensinamentos desses professores que tanta paciência tiveram.
Afinal de contas eu sou o meu porto seguro porque me baseio em alicerces bem construídos. Eu sei, a insegurança não é uma opção, é um trauma. Assim como o ser idiota não é doença, é opção. 
Eu, nas minhas opções, prefiro meditar e consolidar os meus alicerces, navegando por pensamentos que me levam desde criança até aos dias que são o hoje. Amanhã logo se verá.


Sanzalando

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