Como é bom olhar-me no espelho e ver que a criança ainda existe em mim. Estamos no ano 2023 mas posso bem estar a pensar em 1965 e por aí em diante. A minha existência tem passado, passado esse que é a minha memória, alicerce do que sou hoje. Não olho para as rugas, pé de galinha ou alopecia esbranquiçada duma moleirinha a pelar por sol em demasia.
Olho no espelho e me apetece falar de tantas coisas que pensei ao longo deste tempo que passou. Sabes também gostava de te ouvir falar sobre o tempo que passámos. Não vou entrar em ansiedades nem querer obrigar-te a falar. Tenho tempo para esperar te venha a vontade de saber como estou, quem sou e me dizeres como me viste.
Não, não vou pensar que o teu pensamento sobre mim seja uma mancha escura, um erro, uma caligrafia mal desenhada, um amor desamortizado pelas minhas incoerências, minhas ausências e minhas aventuras. Eu sempre fui muito mais que isso, te avanço numa previsão de pensamento teu. Amar amei sem pedir nada em troca, fui e voltei sem que alguém me chamasse. Deambulei desenhando um norte que podia ser outro ponto cardeal, despreocupado estava desde que eu soubesse onde ir.
Não vou pensar nos meus erros nem no que podias ter feito para que eu não os cometesse. Não vou entrar em debate. Não o quero de todo, porque a vida levou-me a tantas partes que todas elas fazem parte de mim neste agora.
Se te olhava como um derretido, nunca te olhei como um súbdito.
Anda daí e dar uma volta na nossa adolescência, falar de coisas bonitas, ver as nossas ruas e nossos caminhos. Anda, vamos recordar.
Sem comentários:
Enviar um comentário