A Minha Sanzala

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16 de junho de 2023

a minha estória

Daqui não consigo sentir o perfume da terra que tem a minha placenta como relíquia. Mas eu consigo senti-la. Através da minha placenta ela me manda raios cósmicos em forma de novos wi-fi que me penetram na alma em forma de sensação, assim como um vento delicado que mexe de forma indolente as folhas das árvores e o meu suave sentir na pele. Faz conta eu sou árvore que é acariciada por uma brisa que mais ninguém sente ou vê. É o meu vento ousado e não o vento leste que a minha avó tanto protestava. Este é um vento assim como que interior, desde lá até aqui. Se eu estou descalço até parece é mais intenso e entra pela planta do pé até me arrepiar o cabelo grisalho e ralo. Não, este vento não levanta poeira nem abala o meu castelo de recordações. Ele faz-me só é reviver cada vida minha. Por exemplo, os teus cabelos compridos, que hoje devem estar grisalhos ou disfarçadamente pintados, são memória fresca. A tua saia de ténis, curta e folhada, imaculadamente branca, é um retrato permanente que se está afixado no post-it da minha memória. As tampinhas de Cuca ou Nocal, Siral ou carbo-sidral enterradas no alcatrão são puzzles que brinco no pré-adormecer. Nota que este vento sopra constante, não em rajadas como os ventos norte ou leste. Essa energia dessa nova wi-fi que me chega desde a minha placenta que ficou num lugar qualquer, até do meu imaginário, é a que faz dançar os meus pensamentos pela minha cabeça num reviver constante de alegria e quem sabe de poesia. 
Eu sei que o meu pensamento é solido, eu sei que vivi muitas vidas, que tenho uma linha cronológica cumprida e comprida, recta e oscilante, mas não tem apagão nem a minha proa fugiu de qualquer mar, nem a minha asa de qualquer voo. É dessa energia que nasce a minha estória. De lá aqui pouco ou nada se perde no caminho. Não se mede, sente-se e vive-se. Esse vento interior que mexe as minhas eólicas mentais não levanta saias nem despenteia fartas cabeleiras. 
Esse vento, essa energia, trás-me a cada instante pedaços dispersos de mim, fazendo-me num todo.



Sanzalando

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