Me deito na areia das mil cores e me perco a olhar o zulmarinho, faz conta ele é um rosário que me reza e me medita.
É um facto que começamos a morrer quando deixarmos de correr atrás dos nossos desejos, quando nos conformamos com o que os outros nos pensam e nos veem. O acto fúnebre se mostra no silêncio que deixamos correr nas nossas palavras e num encolher de ombros. Quando adivinhamos chuva e não nos abrigamos, quando os momentos deixam de ter conexão, quando as lágrimas são choradas na solidão, é sinal que já fomos para um campo de areias movediças e campos minados duma guerra sem fim previsível.
Na areia da praia, nos grãos de tantas cores, vamos vendo os pedaços perdidos da vida, abandonados, desbaratados. Há que, lentamente, ir procurando a lógica e, perdidamente na confusão, sair soltando as amarras dos pesos mentais, brilhantes olhares que no escuro possam ver.
Deitado na areia da praia, no marulhar do zulmarinho e no perfume da maresia, vivo cada momento único.
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