Eu, escritor desafamado e sem nunca ter sido lido, aqui, debaixo das buganvílias que fazem este caramanchão da avenida onde os meus avós todos os domingos de tarde vêm passear num esticar de perna e cumprimentar gente conhecida, escrevo uma carta a uma amada que nunca a lerá. Tão simples como o que eu escrevo na memória que o vento daqui a umas horas levará para os cantos do esquecimento. Escritor sem obra feita, desamado porque escondido amor vou sentindo, lamento que o presente não seja passado e o futuro o tenha esquecido. Amar é uma benção, é uma dor, uma cinza de memória, uma inocência feita da existência dum carinho nascido da paixão que em consequência leva a amargura da não correspondência.
Estou à sombra, mas a minha alma fervilha de paixão, num ardor quente que para lá de fervente amor também sente uma saudade porque miragem nunca é realidade.
Se um dia teus lábios beijasse, saltaria meu coração do meu peito. Se amor um dia teus lábios me segredasse, eu derreteria num quase sem jeito, a preceito e desfeito.
Este banco corrido de madeira, que silenciosamente me ouve neste ditado à memória, quase se põe em brasa, qual lenha duma fogueira deixando labaredas dançando em vitória dum amor que nunca teve asa para voar desse ninho que foi por mim inventado.
Estou na avenida, não é domingo, pareço alma perdida a quem não sai o bingo.
Sempre teu, até à eternidade deste amor.
Sem comentários:
Enviar um comentário