Quando dou corda nas sandálias e caminho por pensamentos e palavras soltas, tantas vezes sem destino ou simplesmente libertando-me de amarras que o tempo amarrou, me apetece deixar rasto infinito de palavras que parece me querem sufocar, estranguladas que ficam na garganta ou na ponta do lápis. A rapidez do pensamento e a lentificação da escrita fazem um baraço embaraçado de mesclas gramaticais que num desnexo me levam a terras tropicais. Imagina elas se acumulam nos meus nervos, fazendo engarrafamento de silabas, adjectivos e pronomes e quando sai da ponta do lápis parece é um enxurradas de tropical chuvada. Acho que tenho de as escrever entre aspas e esperar um tradutor do velho egipto para me ler. Imagina um pneu a rebentar e todo o ar dentro dele a querer sair ao mesmo tempo. É mais ou menos igual, com a diferença que eu contrario e deixo lugar às minhas angústias e aos meus medos, à emoção da falha.
Se eu nadasse nessas palavras uma ou duas vezes era capaz de lhes dar significado perceptível, porém eu passo e esqueço o que ficou para trás, porque esse lá atrás é só mais um pedaço de mim agora.
Um dia, quando os braços se cansarem, quando os olhos repousarem e a mente estiver vazia, eu vou reler, soletrar, banhar-me nesse oceano de palavras e boiar na compreensão, sem tabus, barreiras ou ansiedades.
Até lá, vou-me manter assim, sem descanar palavras nem pensamentos.
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