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3 de junho de 2023

silêncio doentio

E, quando estou sentado na falésia a ver o zulmarinho no seu nunca mais acabar de horizonte, não encontrar palavras para dizer ou simplesmente para conversar? Impera o silêncio e se gasta o tempo num espaço vazio como se fosse um intervalo entre parágrafos da página dum livro sem letras. Esse silêncio não é ensurdecedor nem ajuda a escutar o mundo. É só mesmo uma ausência de ideias, um desentender deste mundo novo cada dia. Não tem momentos ideais para isso acontecer porque quando acontece é mau, inesperado e desajustado. É um desistir de som. É silêncio doente que demora a sarar. Não é como aquele silêncio em que a gente sem dizer nada dá a resposta. Este é porque ficou-se sem palavras, desencontrou-se a articulação vocabular para manter à tona um barco de ideias ou um pequeno bote de vaga ideia. 
Olhando para lá deste zulmarinho, onde se imagina ela acaba, um silêncio por falta de palavras proporciona incoerência de haver outro som que lhe pega no tempo e incoerentemente lhe abafa no poder injusto de palavras atiradas ao tecto de vidro da incompreensão ínfima.



Sanzalando

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