A Minha Sanzala

no fim desta página

10 de julho de 2023

contrariado

Um dia vou chegar ao fim do caminho. Quem caminha tem como finalidade chegar ao ponto. Ponto final sem parágrafo nem travessão e sem reticências. Se atravessa no comprimento horizontal da sua existência e the end aparece como nos filmes do cinema e outras modernices.
Eu espero que quando chegar a minha vez eu nem tenha tempo de dizer adeus. Partirei indeterminadamente de corpo e alma, pés descalços, olhos petrificados no horizonte que não atingi. Se eu tivesse algum órgão dos sentidos ainda neste campo do lado de cá de certeza ia sentir uma dorzinta no coração pelas saudades de futuro que deixei de ter. 
Eu, no lado de cá, caminhando pelos meus caminhos, de forma específica ou à procura duma costa que me leve à minha costa como um peso que trago nas costas de ter deitado para trás tanto de mim, me sinto um pássaro livre que voa no céu ao sabor das correntes de ar, quentes e frias, ou só com o seu bater de asas levantando uma leve brisa que o levita nas lágrimas que não choro. 
Eu sei que não mereço o fim do mundo, mas um dia ele vai chegar e eu sorrindo tentando não ir, me deixo levar como se estivesse na parte final dum livro de amor. Chorará alguém? Contarão estórias, umas de verdade, outra num supostamente e outras fantasias. 
Lerão os meu livros, aqueles que deixei na estante como que por um instante não terminados?
Ouvirão os meus versos que não declamei nem escrevi porque o meu amor não tem palavras e está carregado de silêncios?
O meu coração bate, suave e ritmadamente e não espero que páre em nenhuma estação ou apeadeiro, antes da hora.
Um dia, quando os meus pés não me levarem, quando as palavras deixarem de significar, eliminar-me-ei eternamente com uma dorzita no coração de contrariedade.



Sanzalando

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