Desisti de ser poeta. É assim mais ou menos quando ao entardecer entra a noite. Não tinha jeito, não consegui dizer que o beijo sabe a flor ou que o colibri é o beija-flor da minha infância, o nectar da minha vida, a rima perdida, a dose da intolerância, a teia duma aranha como se fossem as minhas veias, aquilo que me apanha, no todo e não a meias. Perdi noites a pensar, tropecei em caminhos, não fui a nenhum lugar dos velhos pergaminhos, não salvei almas nem as atormentei, fui sempre nas calmas pelas estradas que apanhei.
Desesti de ser poeta, de tropeçar no tempo, de deixar uma porta aberta à chuva ou ao vento. Desesti porque sei que o fiz.
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