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19 de julho de 2023

Viagem ao Planalto 5

É lá fui eu desde a Escola Industrial e Comercial até frente à foto Académico. Desta vez não passei na frente do liceu. Virei antes de chegar ao cruzamento do Hospital. Não é mais curto nem mais longo. É só mesmo porque não gosto de fazer o mesmo caminho duas vezes. Manias. Esta rua, cujo nome faz tempo nunca soube, é uma rua menos bem frequentada por carros que a outra que vai dar na Senhora do Monte. Aqui é mais comércio. Mais lojinhas e lojecas, a grosso ou a retalho mas nunca a fiado. Virei na casa de saude que já foi sede dos caminhos ferro, entrei no jardim e passei à frente do Magistério primário e depois então é que virei na minha rua, que mais não é que a rua da minha tia, já que a minha fica a centena de quilómetros daqui. Me cruzei com gente. Muita gente. Cumprimentei a torto e a direito. Não conheço ninguém. Vantagem de cá só aparecer de ano a ano e criança não deixa marca. 
Minha tia estava preocupada. Eu andar só assim sozinho na rua logo no primeiro dia. 
- Tia, eu tenho boa memória. Só não conheço o bairro Santo António porque fica para lá do campo do Benfica e acho eu que só lá passei de carro cada vez que chego de comboio e puseram lá a estação. A tia Tereza mora para lá, não é?
- Não te digo senão ainda te pões à procura...
- Não tia, eu sou criança mas não sou doido. Ir ia, mas voltar voltaria cansado e eu não estou para isso. Estou de férias e não é para me cansar.
- Vai ajudar o teu tio na loja.
- Ele deixa cortar o bacalhau com aquela guilhotina presa ao balcão?
- Miúdo, a gente já não tem mercearia, agora é roupa. Fardos e roupa fina.
- Hã? Já não tenho que pesar feijão, arroz e essas coisas? Não gosto disso.
Vou para o armazém dos Cardosos, dizendo isso, saio pela porta dos fundos que dá para um campo campinado onde às vezes jogamos à bola. Capinado e inclinado. Daí, talvez esta minha falta de jeito, então comparado ao Armadinho... Ninguém no quintalão. Esta cidade está diferente. Pelo menos para mim. Cresceram, adolescentaram e já não têm tempo para brincadeiras de miúdos. Só pode. 
Elas mostram o pernão e empinam as mamas, eles mudaram de voz e são galifões. Não, eu não quero crescer assim.



Sanzalando

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