Era de manhã e eu de mala feita, pronto para mais uma viagem rumo ao planalto onde ia passar os três meses de férias. Casa do Avô e duma das tias. Era a sorte que eu só sabia lá à chegada. O trajecto era sempre o mesmo. Caminhos de Ferro me levavam. Ou comboio ou a Drezine. O Sr. Alves dava a partida e lá ia eu. Parando sempre que o comboio ou a Drezine entendessem. Eu brincava que parava nas estações e apeadeiros e no meio. Mas eu ia feliz serra acima festejar mais umas férias grandes. Mal eu sabia que um dia isso ia acabar. Quem é que inventou que os adultos não têm férias grandes? Porque nos habituaram a ter?
Na verdade lá ia eu ingénuo no vapor ou no diesel. Ainda fui naqueles comboios puchados por máquinas negras e possantes que fumegavam que nem fábrica.
É este ano que vou arranjar namorada no planalto. Todos os anos era esta fé. O sorriso não me saia da cara, a brancura não me saía da pele, a vontade ferrea de me divertir ia comigo.
Nunca enjoei na viagem. A minha mãe era demais. Acho o comboio ainda não tinha arrancado e já ela ia virar tripa exterior.
Se a viagem fosse de noite ainda que dormia, sendo de dia eu queria ver tudo. Era a melhor maneira de eu fugir do meu minúsculo mundo chamado rua. Eu vivia a minha rua. Era o café, era o bilhar e era ela. Só o Liceu ficava fora de mão. Mas nesta viagem eu tinha direitos à minha liberdade, ao meu novo mundo.
Acho este ano vou esquecer a cidade de areia e as minhas paixões e vou virar planaltamente homem de mim e meus novos corações.
Quem é que me vai buscar ao comboio é quem me fica a aturar até final de Setembro.
Sem comentários:
Enviar um comentário