Deixo-me ir em palavras, de muleta, bengala ou andarilho, coxeando ou me arrastando em monólogos cheios de cor ou em tons cinza, pastel ou garridas, porque é através delas que eu transmito o quanto sinto e eu não sei sentir pouco, esperar muito ou deixar ir numa inundação de nulidades.
Às vezes o mar parece calmo e vem onda e arrasta tudo na frente, que a gente nem tem tempo de levantar a toalha e ela fica num exarcado, empapado e a gente ou ri ou chora porque mais nada pode fazer. Eu às vezes estou que nem assim. Sem palavras xingando-me, sem letras tortas nem frases feitas. Estou nulamente em tempestade.
Podia dizer que estava meditando ou pensando nela. Alguém ia acreditar e eu não. Vou, desvou e não tenho para onde ir. Não por falta de mapa, não por falta de tempo, apenasmente porque não quero. E se eu não quero, não vou. Mas falo. Sou livre de falar desde aqui até à lua. Ou de ficar calado. Aborrecido? Não. Mau humor? Também não. Já só me chateio quando quero. Cresci o suficiente para compreender isso. Feliz? Claro. Rico? De amor e felicidade sim. Dinheiro? Que é que é isso? Não foi nunca meu propósito e segundo amigos até parece sou alérgico, pois eu estou onde ele não está. Preocupa-me? Não. Foi, é, opção minha.
Aprendi a não estar na vida das pessoas quando elas não querem. Na minha é igual.
Deixo-me ir em palavras e na transparência da tinta me transparento, porque eu não sou fundamental e fundamentalmente não sou eterno, eternamente. A minha eternidade é a minha vida e ela está escrita nas mil palavras duma qualquer praia, dum qualquer lugar ao sol e vê-se no meu sorriso, no brilho do meu olhar e na doçura do meu carinho ou afago.
Sou flores do meu jardim, árvores do meu mato, areia do meu deserto. Rosa, Lírio, Imbondeiro ou Mangueira, sou tudo isso e mais o eu que trago nesta farda que é o meu corpo.
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