Olho o zulmarinho como que a recordar-me das vezes que fui na marginal para te ver passear no carro com os teus pais. Eu sabia quase tudo de ti e num agora já não me lembro da tua cor preferida, do teu olhar distraído, do teu sorriso escondido. Qual a tua música preferida? Calças ou saias preferidas? Carro ou mini-honda? Faço esforço para me lembrar e desconsigo saber. Vou ligar-te a perguntar mesmo sabendo que não sei onde andas, nem como poderia ligar-te. Como posso eu saber de ti se um dia há tantos anos decidiste que o meu caminho não podia ser igual ao teu? Nem próximo. Por adivinhação os meus passos foram paralelos e longínquos aos teus. Foi coincidência e não cedência. Nunca dissemos adeus para um corte abrupto, nem uma combinação de descruzamento de vida.
Olho o zulmarinho e apenas vejo o teu rosto de cinquenta anos atrás. Tudo o resto é fruto da minha imaginação, todos os caminhos foram-me inventados, todas as coincidências foram acasos. Perdemos uma amizade que era linda, uma estória colorida de felicidade desvanecida no nevoeiro do tempo, um carinho de miragens apagadas nos calores de verão.
Olho o zulmarinho e imagino a felicidade paralela que vivemos na distância duma amizade não alimentada e nunca esquecida. Pelo menos da minha parte.
Olho o zulmarinho e me lembro que tu és o meu jogo de palavras, a minha adolescência rica e feliz, o meu canto de versos cantados nos entardeceres de agora.
És as minha palavras, mesmo que não escritas.
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