A Minha Sanzala

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25 de setembro de 2023

fim da trilogia

E passados estes anos todos eu me habituei à tua ausência. Melhor, eu me habituei à tua inexistência e me esqueci de todos os planos feitos naquela adolescência, na estória em comum de um esquecido destino. Se eu andava parecia um periscópio a ver se te via em cada rosto cruzado, aos poucos me fui deixando ficar nos presentes, me fui dando aos reais e o imaginário foi-se tornando um vazio, um buraco de agenda, um espaço em branco de um álbum de fotografias.
E, ao longo destes anos todos, quando termino esta trilogia de vida e recomeço uma nova, em que desato os nós que me amarravam ao antanho da memória, ao fruto da ilusão, aos alicerces duma vida desenhada num sonho, baseado num desejo e traçado num querer, vivido nuns acasos que deram certo, olho para tudo e não encontro os papeis que escrevemos, os desenhos desenhados, os quereres imaginados. E dá para me perguntar se alguma vez tudo isto não foi uma ilusão, um delírio ou simplesmente um sonho? Eu tive essa vida? Eu te conheci e te vivi? Não é tudo isto fruto dum romance dum qualquer escritor que eu estudei nos meus tempos de criança, em que me desenhou? Se eu sou apenas personagem dum romance o que realmente resta da minha real vida? Eu tive passado? Eu existo neste presente? Eu terei tempo de me reescrever em futuro?
Se tu não existes, se tu não tens voz, se nós os dois é coisa de ilusão, página de romance, como eu posso dizer que existi? Como posso eu afirmar que o meu peito teve inúmeros incêndios por tua causa? Como posso dizer que o meu agora é fruto desses momentos todos que afinal não existiram a não ser nas páginas dum livro?
A tua ausência apagou de vez a minha existência. Vou-me nascer outro como outro me nasci tantas vezes nesta vida em que não me apaguei na corrente de um ar que se lhe deu.



Sanzalando

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