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17 de setembro de 2023

PAZ

Curiosamente a noite fez-se estrelada depois dum diluvio. Entristecido como prisioneiro da chuva declarei refúgio para o meu corpo em noite amena. Espreitei na janela e vi o céu. Olhei admirado. Vi estrelas como faz tempo não tinha tempo para lhes olhar. O tempo passou e eu vi as constelações que ainda tenho memória. Outras já nem lembro o nome e a forma. Mas as que eu sei estavam lá, cintilantes como a que eu desejasse fosse uma noite estrelada para ti. Nas noites adolescentes perdíamos tempo a rever as estrelas no céu. Conversávamos e até discutíamos no bom modo de fazer uma discussão. Os nossos olhos se entrecruzavam mesmo que os nossos corpos ou mãos não se tocassem. As nossas palavras eram dirigidas com a suavidade duma carícia mesmo quando discordávamos. Era uma noite estrela como essas, com a diferença que só estava eu à janela e já muitas das estrelas não me lembro o nome que lhe demos.
Era noite perfeita para te dedicar. Estrelada e silenciosa num quase mistério. O mesmo mistério que fez que nossos corações nunca mais se tivessem cruzado, o mesmo silêncio que mantivemos neste meio século, a mesma noite como tantas noites que não nos calávamos.
De ti restam-me as memórias e estes silêncios sagrados num quase divinos momentos de paz.



Sanzalando

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