recomeça o futuro sem esquecer o passado

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31 de dezembro de 2013

2013/2014

Acabado quase o 2013 e cá estou a tentar fazer planos, alguns inclinados, e balanços, alguns enjoativos. Vou aproveitar para fazer um elogio a mim. Chega de chorar até as pedras da calçada se tornarem escorregadias. 
É que eu não sou único. Eu sou milhares de mim, alguns isolados, abandonados, desesperados e outros cheios desde alegria a bom humor até ser o maior da minha rua onde moro isolado.
Sou um mapa de corpo inteiro onde o GPS não tem voz nem sentido único.
Acabado quase o 2013 diria que a sorte esteve do meu lado porque desse lado houve quem estivesse a ler, diria que tive azar porque houve gente que leu o que não escrevi nas palavras que utilizei.
Acabado o quase 2013 diria que fui um felizardo porque encontrei uma luz que ainda se mantém acesa.
Adeus, pá. 2013 foste um gajo porreiro, sentirei saudade ao mesmo tempo que estou nas tintas de ti.
Quanto a ti, ó 2014 vamos lá ver como vais ser. Tenho desafios, objectivos e muitos sonhos. Tudo escrito no quadriculado da memória. Ah! também tenho uma Sebenta Vermelha nova pronta a estrear.Veremos se serei capaz de a levar até ao fim e entregar a quem de direito.
Mas isso ficará para daqui a 365 dias dizer.
Este blog lá se vai arrastando penosamente num dia a dia quase incerto, ultrapassado ou publicitado pelo Facebook. Sei lá. Parti a bola de cristal mas faço votos que eu tenha direito ao que desejo de coração: sentir-me feliz!





Sanzalando

han han

han han han, HAN HAN. 2014 han han. 2013 han han han han han.
Tás a ver como é facil dizer as coisas. É pela musicalidade. Lembras-te da música da tabuada? É parecido. Depois a letra muda conforme é a do 2, do 5 ou outra qualquer.
Um han diz tanto como um beijo inesperado desde como tal seja interpretado. Han han han han, não é para ti, nem para ti e nem para mim. Eu e apenas quem eu quero sabe para quem é, ou ninguém. 
Han?
Já percebi tudo. O ano acaba e coisas novas aparecem por aqui ou por ali. Mas nada é novo
O ontem é estória e o amanhã é mistério. Hoje te digo para manteres os teus olhos em mim porque não quero perder-te por distracção.
Olha, como não consegui mudar de página, aproveitei e mudei de livro.
Han Han Han.
Bom ano!
Capítulo último desta sebenta.
Prólogo duma próxima.

Sanzalando

30 de dezembro de 2013

procurem

Não me procurem nem aqui nem por ali. Não inventem lugares nem poisos, não contem estórias nem procurem memórias passadas para me localizarem. Eu digo-vos apenas que estou a fazer as pazes com a solidão, a procurar universos paralelos que me completem num equilíbrio.
Se chover eu ouço chuva. Se estiver sol eu verei o seu brilho e se for noite dançarei ao ritmo das constelações. 
Apenas a paz de estar em paz com a solidão e ter o prazer da companhia que me fala ao ouvido palavras que me eram mudas em sons surdos.
Não me procurem. Se tiver que ser, eu apareço.


Sanzalando

29 de dezembro de 2013

tás a ver?

Troco palavras de loucura fugindo da rotina normalizada já que não suporto mais ouvir os meus pensamentos serem pensados dentro das normas e padrões.
Construo frases de sonho porque preciso curar a minha alma, nem que para isso eu tenha de mergulhar num poço sem fundo ou pisar-me em pecados carnais.
Desmonto conceitos e desconstruo medos em que entrem falsidade ou mental castidade.
Desfaço-me em mar do alto das minhas ideias apenas pelo prazer de volta a sorrir e me trafico num labirinto de palavras cruzadas.
Acabado o ano eu, vento, virei brisa, eu, chuva, virei riacho e num xinfrim gargalho gargalhadas de felicidade.
Só pode, tás a ver?


Sanzalando

28 de dezembro de 2013

sinto

Sinto falta de desatar a rir à toa apenas porque apetece.
Sinto falta de ver os sinais de fumo, o piscar de olhos, os tiques, os códigos secretos e as piadas que trocadas num quase silêncio.
Sinto falta do aparato da despedida que demora horas num dizer adeus de quem não vai.
Sinto falta da vontade louca de ouvir o respirar ofegante.
Sinto falta de sentir a ansiedade de esperar.
Sinto falta apenas porque tenho tanto


Sanzalando

27 de dezembro de 2013

deixei

O medo estraga a felicidade e por isso me comprometo a dar valor às coisas, não pelo que valem, mas sim pelo que significam e a dizer que sim ou não quando tiver que os dizer.
Eu sinto falta de coisas pequenas e grandes mas vou deixar a tristeza para outra hora qualquer uma vez que sou feliz agora.
Vou deixar de ter medo, vou adiar a tristeza.
Vou por aí caçando borboletas com o olhar, cocegando a alma e distribuindo sorrisos como se fosse um carteiro de apenas coisas boas.
Morro-me de saudades e sorrio a ver o sol brilhar mesmo em dias de nevoeiro e deixo-me levar pelo sonho para que não acabe a realidade.
Deixei de ter medo e adiei a tristeza e nunca esquecerei que eu também erro, às vezes.


Sanzalando

26 de dezembro de 2013

desculpa se sou

Desculpa só eu não poder calar-me e dizer-te quem sou. Sou uma tragédia, catástrofe, uma resma de dramas e quem sabe ainda um desastre natural não previsível. Desculpa por tudo isso e mais alguma coisa que possas vir a descobrir, que eu possa ter sob a capa de espadachim romântico e sofredor nostálgico. Desculpa eu não poder prometer que vou mudar. Desculpa se estou convencido que penses: - Ele vale a pena sim!


Sanzalando

25 de dezembro de 2013

simplesmente

Tento dizer muito com as poucas palavras que sei. Um dia vou conseguir! Um dia vais entender que simplesmente estou a dizer um gosto assim com a timidez que escondo por trás da minha capa.
Tento calar coisas simples mas outras vou ter que dizer porque não cabem dentro de mim. 

Sanzalando

24 de dezembro de 2013

Modo de Natal (4)

E eis-nos chegado ao dia que dizem nasceu o menino. Também nunca ouvi dizer que alguém tenha nascido grande, já adulto e carregado de milagres. Me disseram, mas ainda não confirmei nas minhas notas e nas minhas mais variadas fontes, que está sentado à direita. Não sei se lá no sítio também existe essa coisa da direita e esquerda. Mas não sei se é nalgum gabinete ou é num open space como agora é moda ou se é num deserto de oliveiras ou simplesmente superfície lunar. Verdade seja dita que desde a data do seu nascimento até ao dia que o pregaram na cruz só sei de um tal Lázaro que era preguiçoso e começou a andar e duma Madalena que dizem as mais variadas coisas e eu não sei qual é a verdade verdadeira das tantas que falam, assim como dum graal que me deixa assim para os lados de não entender mistérios e ministérios sacramentais e tantos livros mais. Ou seja, a estória bem falada é só no Natal e na Páscoa. No intermeio é especulação que agora deve estar reduzida por causa da troika e que aqui entrado eu em modo Natal acabo por sair sem saber se fiz bem ou mal. 
Assim sendo termino o modo Natal e logo se verá se haverá palavras ou se serei castigado pelo artigo Y dos 10 mandamentos que devem ser mais com tantas correcções e aditamentos.
Assim sendo, preparo-me com fato domingueiro para ir ao Galo, à missa do Galo.


Sanzalando

23 de dezembro de 2013

Modo de Natal (3)

E lá estava a família reunida, aquecida pelos animalescos bafos respiratórios, porque segundo me dizem nesse dia está sempre a nevar, mesmo em terras onde nunca caiu neve, preparando-se para comer o bacalhau cosido com todos, importa salientar que não faço a mínima ideia o que sejam todos e outros a comerem o perú recheado, que deve ser um animal muito raro que só há nesse dia, pois nos outros é mais bife do dito que se vê.
Mas dizia eu que estavam todos reunidos e decidiram que a partir daquela data todos os anos haviam de trocar presentes, mesmo que fossem repetidos e já não houvesse espaço em casa para mais.
Também ficou decido que naquele dia, assim como nos antecedentes e posteriordentes se poderiam comer muitos doces que não faziam mal, bem como os fritos. E para não haver confusão com natalidade até meteram um acento num dos doces e ficou filhós.
Nada de confusões que o espírito da quadra não é beligerante nem confusionante e por isso se enrolam estas palavras em lacinhos, sininhos e cintilantes luzes a imitar as estrelas da lua cheia num luar sem poluição.


Sanzalando

22 de dezembro de 2013

Sanzalacine - impressive animation

Sanzalando

Modo Natal 2

Poderia contar aqui a estória de Três Reis Magros, que um dia foram atrás duma estrela cadente, ainda não tinham inventado as estrelas de Hollywood, e que lá chegados foram apresentados sem pombas e nem circunstâncias. Um, por ser muito feio e rangia ao andar, se diz chamar Belo Chior, outro porque se arrastava por causa do reumático lhe chamaram o Raspar e ainda um outro que era mau e não tinha sorte nenhuma, por isso, era conhecido por Malta Azar. Lá chegados encontraram um burro, um boi e talvez mais animais a protestar porque a sua, deles mangedora, estava ocupada por uma criança que dormia.
O resto da estória está contada em muitos livros e qualquer semelhança desta com as estórias que por aí circulam deve ser mero copianço ou prenda de Natal não embrulhada em palavras coloridas e enfeitadas com luzes de muitas cores e picantes ou piscantes conforme a dislexia de quem vos conta esta coisa só porque foi possuído pelo tal de espírito de Natal.


Sanzalando

21 de dezembro de 2013

Modo Natal

Sanzalando

poder podia

Podia ter arriscado mais, amado mais e chorado menos. Podia ter até errado mais. Podia ter pedido ajuda a anjos e Arcanjos. Mas fiquei a olhar o pôr do sol e a ver o dia cair. Podia ter aceitado a vida como é, a alegria e a tristeza em quanto baste.
Podia ter complicado menos. 
Podia...
Mas caminhando na estrada reparei numa pedra da calçada que estava solta e com jeito a atirei para canto. Era só uma pedra, pensei. Esqueci-a como se ela fosse uma desimportância total da minha vida. Esqueci-a.
Um dia, passando no mesmo sítio, reparei que ali estava uma verdadeira caratera. Afinal de contas, a esquecida pedra da calçada que atirei para canto, não era só uma pedra.
Agarrei em palavras e vi que se tivesse construído frases de sujeito, verbo e complementos a eternidade teria durado mais e não pediria mais do que eu poderia ter dado.
Podia ter arrumado a pedra na calçada e hoje não teria de me desviar da caratera que ficou no meu caminho.

Sanzalando

20 de dezembro de 2013

vivendo e aprendendo

Viver e aprender, foi o que me ensinaram e por isso eu esqueço o passado sem apagá-lo. Complicado, né? Mas juro que pensei com palavras simples este descomplexar de sentimentos. 
As mudanças são necessárias. Não é que eu consiga aqui e agora dizer que depois do dia tal eu vou mudar, vou ser assim e assado e depois me esqueço de acender o forno e saio frito da coisa.
Certo certinho é que eu vou fazer os possíveis para mudar. Certo é que vou tentar, tantas vezes as que forem preciso e numa delas eu vou conseguir mudar. Aponta aí nesse bloco de gelo e não o ponhas ao sol.
É que eu sinto que a minha futilidade está a tomar conta, a abusar da minha personalidade.
Escusas de imaginar que eu vou arranjar uma personagem e encarnar nela. Não. Vou mudar mesmo, procurando vincar os meus lados positivos, descorar os defeitos, aprimorar o lado bonito e alimentar o meu ego. Com palavras simples disse sem gaguejar.
Vou mudar sem ser levado pelo vento, sem tropeçar num pôr de sol e sem atropelar a minha sombra.
Uma coisa é certa, daqui a dias mudo de ano!


Sanzalando

19 de dezembro de 2013

simplesmente simples

Às vezes parece sou tolo e penso que a vida é um conto de fadas e acredito que os dias caminham para o fim de semana. 
Outras vezes penso sou um sonâmbulo que necessita limpar a sua áurea e a meio da noite acordo a pesar a responsabilidade de ser dia seguinte amanhã.
Às vezes sinto necessidade de gritar e me pergunto porquê, se alguém me quiser ouvir que faça um esforço.
Outras vezes penso sou um plural da minha singularidade.
Às vezes sopra vento, outras vezes cai chuva.
Porque é que a vida não é simplesmente simples?
Malditas oportunidades perdidas, tantas palavras complexas, tantos parágrafos gastos.
Afinal que faço por aqui?
Simples. Simplesmente simples!


Sanzalando

18 de dezembro de 2013

acordei com palavras

Acordei em alvoroço, ainda era madrugada. Sentia um misto de solidão que se misturou com a habitual matinal confusão e fiquei a saber que se remeto palavras soltas ao deus dará é porque consigo viver e morrer ao mesmo tempo, assim num misto de castigo e recompensa, assim num desejo incerto de ficar para sempre. 
Porque isto é o escrever, falar sozinho, desenhar textos. Sei lá mesmo o que faço. 
Estou a ver assim um rio de palavras, onde pego uma a uma como se fossem gotas até encher o copo sem entornar para não ter desperdício e conseguir traduzir o tanto amor com indiferença, a saudade com nostalgia e pé ante pé manter a mágoa com lembranças agradáveis. 
Nas minhas palavras encontro o saber mesclado na ignorância, a simplicidade de versos que nunca declamei e me chamo escritor, com pavor e se calhar por humor em falta.
Agarro palavras que se misturaram nos chinelos e tento com elas desenhar  o tempo incomum, a vida feita morte numa eternidade caracterizada por imortais caracteres.
Escrever é um tentar descobrir ao mesmo tempo que tenho a certeza que não sei.
Acordei em alvoroço e com as letras me visto, esperando não ter de almoçar uma só sopa de letras.


Sanzalando

17 de dezembro de 2013

procuro tempestades

Atiro palavras contra o vento a ver se colho tempestades. Talvez apenas porque esteja cansado de ser assim um meio sal, sentir um frio na barriga ou mesmo a dor instantânea dum tiro e não reagir sem ser explosão que no segundo seguinte apagou.
Atiro palavras cada vez mais fortes contra o vento. Procuro estrelas num céu de meio dia. Procuro fogo numa lenha molhada.
Eu sei que me acabas de chamar idiota, palhaço e quem sabe otário. Mas insisto até que o teu vento me despenteie. Persistente ou teimoso, pouco me importa, talvez porque procuro palavras para tudo e para nada sem mesmo saber que as uso.
Atiro palavras, procuro tempestades sabendo que vou sentir dor e que o sofrimento seria opcional. Insisto e ainda não descobri porque não desisto e sigo em frente como toda a gente.
Atiro palavras sem métrica, sem pontuação e nem cadência até que o cansaço me vença.
Atiro palavras contra o vento a ver se colho tempestades.


Sanzalando

16 de dezembro de 2013

gostar eu gosto

Eu gosto e quase sempre é do meu lado errado. Assim uma espécie de avesso, um reverso contudo não inverso. Acho mesmo que o meu maior problema é gostar do lado errado. Se eu gosto dela ela nem olha para mim. Se me atiro a ela, nesse preciso instante ela saltou e eu fico com o chão espalmado na cara. Deve ser por isso que sempre me apaixonei como a lua. Tenho fases. Quando estou em quarto crescente elas estão na fase da irritação, do descontrolo hormonal e só conseguem ver os defeitos. Se estou de lua nova ela só tem ciúme do meu brilho e cai chuva a noite inteira que nem dá para ver a lua e assim não se nota essa fase. Se calha estar em quarto minguante sou motivo de galhofa e até se calhar me medem de alto abaixo, no peso da idade, na medida da tensão arterial e quem sabe do colesterol. Se estou na fase de lua nova me vão logo dizer é tudo próteses, fogo de vista, fogo de artifício, fogo fátuo.
Mas eu continuo a gostar e um dia eu vou gostar do lado certo porque ninguém é capaz de errar sempre, e aí viverei linda história de amor, mesmo que me roubem a lua, mesmo que soprem a ajudar o vento, mesmo que abram as torneiras para ajudar a chuva.
Eu só gosto. Não quero saber é do lado, desde que seja um dia o do lado certo.


Sanzalando

15 de dezembro de 2013

Sanzalacine - two dogs dining

Sanzalando

vento que fala

Se não fosse o lusco fusco duma tarde qualquer eu ia dizer que por tua causa estava a ver o meu mundo invertido. O vento me soprou, em modo de brisa segredada no ouvido assim uma coisa que percebi que é mais ou menos como que o amor não morre. Como que em pensamento perguntei ao vento e quando a gente não o sente mais é o quê? Parou o vento. Uns segundos e o meu cabelo estava no lugar, o frio parece tinha ido passear para outros lugares, até que num repente ele voltou e me queria deitar assim no chão parecia era zangado. Ouvi perfeitamente no meu ouvido: ele se cansou e se refugiou assim numa esquina do tédio que lhe fizeste.
Acho esse vento é doido. Confundiu mesmo fadiga com amor.

Sanzalando

14 de dezembro de 2013

sopra vento

Sopra vento forte de raios te partam. Enquanto sopras dou comigo a velejar ideias, dunar pesadelos em campos vastos de solidão e a sorrir areias de sonhos desfeitos. Pareço-te triste? Mas não. Caiem folhas, despenteio-me, outono, inverno e inferno num dia só, mas a minha capacidade de transformar toda a tristeza em alegria é tão grande que até o subterrâneo da consciência é enganado. Às vezes acordo triste só porque me espera mais um dia feliz. Contradigo-me? Conhece-me e verás. Sopra vento! Derruba-me! Assobia!
Às vezes até apetece dar-me uma morridazinha, assim um pouco tempo de morto só para ver a qualidade da minha vida desde o outro lado. Compreendes? Claro que não, se és vento e apenas ar em movimento. Irracional!
Sopra vento de rios te partam, não fosse este meu desmesurado ego e eu perdia toda a minha força motriz numa avaria do sistema integrado de inteligência artificial.
Sopra vento de raios te partam que a mim só me obrigas a abrigar para não me despentear.


Sanzalando

13 de dezembro de 2013

faz conta

Faz de conta todas as estórias têm um final feliz como as histórias infantis, os filmes do cinema do fim da tarde, as estórias contadas na mesa do café entredois amigos do peito. Olha só as estórias secretas que se contam desse sentimento meio louco de chamado amor. Tudo lhe parece irreal como se tivesse nascido no pincel dum artista, na caneta dum poeta ou num desenho duma ficção.
Não fosse o vento e eu ia dizer que quem inventou o amor fui eu. Mas o vento não me deixa mentir e ele afinal não é assim tão simples e não sei mais se algum dia ele vai fazer parte de mim.
Tem gente nasce com facilidade para amar e eu acho ele é para poucos. Mas como não sou perfeito só o podia criar com defeito.
Mas todas as estórias têm um final feliz e eu um dia lhe vou aprender e me entregar de alma e corpo nesse sentimento que eu ia mentir e dizer fui eu quem o inventou. Mas só pelos defeitos, mas o vento não me deixa dizer essas mentiras.
A bem de toda a verdade, o amor destrói e até torce a capacidade de ser racional, cria o medo, tangencia a dor e bordejam os olhos com lágrimas. Tudo defeito que faz pensar fui eu lhe inventei.
Faz de conta todas as estórias de amor têm um final feliz e nesta eu fujo a cavalo como nos filmes de cóbois porque a solidão do deserto é o meu esconderijo.
Faz de conta eu fiquei em silêncio e não confessei que quem criou o amor fui eu, por defeito.



Sanzalando

12 de dezembro de 2013

preciso

Espairecendo ao vento como quem veleja por desencantos, descubro que mais importante que ter alguém é ter paz.
O vento sopra forte, oscilando-me e eu seguro-me porque sei lidar comigo, sei suportar-me e sei ter calma para esperar um dia de amanhã em que eu esteja em paz e consiga arranjar alguém. 
Arranjar, ter alguém. Forma bruta de gastar palavras simples que querem dizer ternurentamente que gosto de ti, sento tu um ainda não sei quem.
Posso sentir-me feliz? Vou fazer por isso!
É evidente que não vou esquecer que a vida segue, tenha eu paz ou não. O que foi bonito continuará a sê-lo na memória mesmo que a gente apague tantas coisas para mais não lembrar. Tem momentos que olhado o passado os olhos brilham. Finjas ou não, eles te denunciam. Por isso sigo o caminho do vento, de encanto e desencanto, da paz interior à calma exterior. Preciso percorrer novos caminhos, reinventar futuro e deixar no correr das horas os dias perdidos, abandonar os pesadelos e criar sonhos que são o combustível da alma.
Espairecendo ao vento o meu corpo e a minha alma tentam acompanhar-me, com esforço.


Sanzalando

11 de dezembro de 2013

apetece soltar-me e correr

Soltei os cabelos, deixei crescer a barba, desalinhei a roupa e de forma abrupta deixei de engordar os meus silêncios, desmentir os meus segredos, agarrei um punhado de sorrisos e com eles arranquei a correr pelo mundo fora.
Não quero parar porque não gostei do sabor da tristeza nem de ver a vida derreter como manteiga ao sol e eu parado a gastar o que é quase nada.
Não quero saber de notícias sofredoras nem de ter que encher o peito e erguer a voz para dizer palavras sem sabor.
Não quero saber de novos pormenores, desde que saiba a detalhe as minhas velhas cóleras, me lembre minuciosamente das faltas de ar porque parei de respirar com sustos e outras razões desconhecidas e tenha presente a realidade desenhada num papel de rascunho como se fosse um mapa de vida mal elaborado.
Soltei-me sem saber de nódoas, de pessoais acidentes ou outros esquecimentos.
Desalinhado, grisalho, seco de rancor, esqueci demónios internos, arranquei flores que não floresceram, suspirei alívios que não desistiam de me atormentar e parti a correr pelo mundo fora.
Parti mundo fora sendo racional, descruzei os braços e numa folha de papel namorei sonhos com palavras.
Mudei-me. Mudo-me. Mudar-me-ei, sempre. 
Apetece-me|

Sanzalando

10 de dezembro de 2013

eu folha aos ventos imaginados

Imagina só eu sou uma folha dum árvore que não caiu no outono mas não aguenta o inverno e que o vento me leva a quilómetros de mim. Mesmo que as minhas raízes tenham ficado lá no tronco, mesmo que a minha alma esteja presa num ramo esquelético da despida minha árvore donde caí eu vou continuar a ser a velha folha da árvore.
Poderei já não saber com toda a certeza qual a minha árvore, mas terei um vagamente bem definido e vincado saber que sou a folha da árvore que não caiu no outono mas não aguentou o inverno. Assim, como se eu já esperasse, toda a minha vida seria um estonteante fruto do acaso ou surto de circunstâncias aglomeradas num rótulo imaginário das minhas veias que um dia se desprenderiam da árvore e seriam soprados pelo vento frio em direcção ao ponto mais difícil da vida que é o esquecimento.
Imagina só, eu folha, perdidamente vagabundeando pelo mundo ao sabor de ventos sem ter a noção que a noite é uma hora longa da curta vida.
Imagina só, eu folha, ser beijado constantemente pelo vento que me leva ao colo até cair numa parte nenhuma.



Sanzalando

9 de dezembro de 2013

tem dias a dedo

Tem dias acho sou inverno, frio, chuva, neve, tempestade, todas essas coisas que precisam da tua primavera para sentir ser gente. Tem outros dias acho sou gente, mesmo que perdendo tempo e gente à volta, ganhando experiência e sabedoria da paciência.
Tem dias que apetece o silêncio e tem outros apetece sair daqui a gritar ao vento coisas sobre tudo e nada.
Tem dias tenho cara escondida atrás duma carranca e tem outros que até os olhos brilham de luz nenhuma.
Tem dias que não mexo mais que o respirar e outros que brinco numa festa alegre de ser dia mesmo que noite seja.
Tem dias em que me entristece a minha maneira de ser e outros que acho seria impossível de ser doutra maneira.
Tem dias que se seguem a dias que não deviam ter existido e tem outros que nunca deveriam acabar.
Só falta mesmo eu conseguir adivinhar os dias em que seja dia de eu meter o dedo onde não sou chamado, mesmo sabendo que o podia meter em qualquer lado mais apetecível.


Sanzalando

8 de dezembro de 2013

Sanzalacine - Não argumente com idiotas

Sanzalando

sei de esquecimento

Tento de todas as formas aprender a escrever um soletrado bonito, fazer o teu retrato num papel pardo, branco ou canelado, com as palavras que sei para te mandar e depois dizer um adeus até sempre. Sei que dei o máximo de mim. Sei que dou o mais que tenho. Mas esqueço assim nem repente até de como é que foste, quanto mais o pormenor para pôr as palavras que te reconheçam. 
Sei que é inútil, sei que vou recordar o teu nome, os teus males, mas nunca conseguirei apagar tudo o que desenhei em rascunhos com as palavras que eu sabia e mais ninguém conseguiu ver o teu retrato. Sei que nunca conseguirei repescar as lágrimas que chorei e que, a palavras tantas, ainda me farão falta num futuro indefinido por uma nova causa qualquer.
Sei que é torturante, angustiante mesmo, de vez em quando eu lembrar-me que exististe mas não conseguir descrever-te num desenho de palavras nem esboçar-te numa forma de sorriso saudoso.
Por isso, deixei de desenhar-te, de pensar-te e quem sabe um dia, ao ver-te, perguntar-me-ei quem foste, o que fizeste e o que poderias ter feito.
Sei, que mesmo que um dia eu consiga aprender as palavras bonitas, jamais conseguirei tatuar na minha memória um smile para ti.
Sei que as minhas palavras apenas sorriem-me, apenas desenham-me, como criança que não mede os riscos de saltar à corda, de sair estrada fora a brincar ao aro ou de sonhar correr mundo ao sabor do vento da imaginação.
Sei que esqueci que um dia eu existi e só agora renasci, em termos desportivos, diria, intervalei-me e aprendo agora novas palavras que um dia poderão dar novas frases, ou não!



Sanzalando

6 de dezembro de 2013

dança do tempo

Saltito pé ante pé como se estivesse a dançar uma música que só eu estou a ouvir. Ao mesmo tempo que a invento, entenda-se, porque de música eu sou completamente surdo e analfabeto. Mas lá vou, algumas vezes um pé no passeio e outro na estrada, parece eu sou rei duma festa de mim. Quem me vir vai pensar eu estou perdido. Na verdade eu vou perdendo mas não me acho perdido. Mas se alguém pensou eu ia ficar quietinho a ver o tempo gastar-se, que eu me ia render à evidência da provecta idade que ainda não tenho, pode pôr mesmo o cavalinho do carrossel na garagem porque nem ferido eu estou e ainda tenho idade de aproveitar o que acho eu mereço, do melhor ao pior.
Mas saltito ao som da minha música e não preciso destrancar portas nem arrombar memórias para saber que prometi amar mil anos e que ainda faltam novecentos e alguns, pelo que posso jogar fora alguns, aproveitar outras chances e continuar sorrindo, porque a vida passa, o tempo diminui e eu continuo saltitando ao deus dará.
Mas saltitas mais porquê?
É que lá no fundo, bem no fundo onde ninguém conseguiu chegar, por falta de paciência ou porque sim, eu encontrei qualidades.


Sanzalando

5 de dezembro de 2013

a falar sozinho

Às vezes dou comigo a falar sozinho num até parece estou a gravar um discurso. Parece mesmo mandei uns copos para baixo e de voz arrastada vou falando como se estivesse a gravar para mais tarde recordar. Mas juro que não estou com os copos, porque não bebo. E apenas por isso. 
Na verdade eu devia estar a ler. Isto é, eu devia escrever primeiro e falar depois. Te confesso que enrolo as palavras apenas para ganhar tempo para não falar num assim à toa parece eu estou louco, já que não estou bêbado porque não bebo.
Bem, não discurso sobre angustia, não guardo para a posterioridade a nostalgia, não retrocesso no querer e não avanço no fazer porque não quero nada de nenhuma destas coisas. Futuro só a ele pertence e mesmo assim tenho dúvidas que o próprio futuro saiba o que lhe resta de futuro.
Mas eu falava e falava num não mais parar era sobre quê?
Já sei. Era a dor. Chata que é a dor. Não, não e não outra vez. Não era sobre dor que eu falava. Ela é chata e sobre isso eu não falo, não rascunho e muito menos escreveria.
Lá estou eu a falar sozinho como que à procura de alma gémea. Pôpilas, aturar um já me dá um trabalhão quanto mais dois iguais. De almas também não falo.
Ciúme? Ciúme é uma paixão diferente, é uma coisa assim a dar para o bravio, para o incivilizado. Foge. Daqui também não sai discurso porque não estou para levar com a minha possessividade toda e ainda sair a rir de cara feita bolacha dalgum chapadão numa qualquer esquina da vida.
Falarei de coração. Do sentimental, não do cardíaco que mata. Também não, que o outro também mata e faz doer e eu perdi as palavras dele num vale de caídos qualquer.
Falei, falei e não disse nada, como tem gente que conheço por aí. 
Às vezes até parece eu estou a gravar uma dialéctica poética sem métrica só para dizer para me deixares estar ao teu colo porque tenho frio.


Sanzalando

4 de dezembro de 2013

ervilhas com entrecosto

Leio com toda a atenção o rótulo da lata de ervilhas. Não, não estou minimamente interessado na sua composição. Estou mesmo só a esconder-me dum olhar que se pode cruzar com o meu. Parece num faz de conta eu estou escondido atrás duma lâmpada fluorescente. Quero mesmo só é não ser visto e por isso estou a ler com toda a atenção que a maior parte do conteúdo da lata é agua. Água cara, diga-se. 
Relanço os olhos por cima da lata e vejo que não há perigo. Posso continuar com as minhas compras. 
- Que susto! gritei no meio do supermercado que até os bonecos que estavam a umas prateleiras de mim caíram com o susto, ao mesmo tempo que uma mão me tocou suavemente no ombro e me disse:
- Por aqui?
Fui apanhado à traição e por trás. Já não tinha lata para me meter dentro doutra qualquer lata que estivesse por ali.
Conversa de circunstância. Quero lá saber se está bem, como vai a família e coisas e tal. Cara de enfado.
- Tás mesmo porreiro como pareces? Nunca mais disseste nada. Ainda estás por cá? 
Sei fui bombardeado por mil perguntas. Respondi? Não me lembro.
Afinal de contas eu estava ali para fazer compras e não para responder a um inquérito.
- Hum hum... dizia eu a ver se a porta estava longe.
Ao mesmo tempo que decorre esta cena deste meu imaginário filme escuto o Roberto Carlos a cantar o Calhambeque. 
É por isso que não gosto de ervilhas. Elas só atrapalham. Gosto mesmo é do entrecosto.

Sanzalando

3 de dezembro de 2013

60 - Estórias no Sofá - ressuscitar amores mortos

Jotajota, amigo de longa data, daqueles que basta a gente pensar ele aparece, lhe encontrei de olhar falecido quase morto, de voz calada quase abandonado dele mesmo. Quase eu ia chorar de lhe ver assim. Eu sabia a vida lhe estava a ser madrasta má como nos contos de fadas da minha infância.
- Mermão, a vida não acabou e o que é que está a acabar contigo? lhe perguntei sem mesmo saber se eu queria saber a resposta que ele me ia dar.
Me olhou sem brilho, sem face e quase parecia era fantasma dele mesmo.
- Lhe vi numa fotografia! me afirmou seco como se isso fosse o fim do mundo dele e devia ser do meu.
- Mermão, fotografias há muitas como tem gente bué por aqui e por ali. Acorda que isso é só pesadelo. disse como que a tentar limpar o pó da alma dele.
- Lhe vi e ela não estava a sorrir. Ela tinha desânimo na cara, misturado com saudade e morte nos olhos. me disse ele com todas as certezas mais certas deste mundo e do outro se é que há.
- Lá estás tu a ver fantasmas. Lá estás tu a matar a torto e a direito e a matar-te em simultâneo. até parecia eu era doutorado na matéria de ajuda. - Ela já te esqueceu como esqueceu todo o mundo que te rodeava. Faz tempo isso acabou. Não me obrigues a fingir que eu acredito que tu consigas ver por uma fotografia que ela tem saudades tuas quando eu sei faz tempo ela não pergunta tu és vivo ou falecido, como parece que estás agora. rematei tudo num fôlego não me fosse faltar zanga para juntas nas palavras.
- Não se pode dizer-te as coisas. Eu vi que ela está triste ou pelo menos não está bem! afincou-me como se estivesse a dar-me um murro.
- Mermão...  eu acho tu não consegues deixar de pensar nela nem um segundo faz anos. Tenho vontade louca de esmurrar-te até sangrares do nariz e veres o que é a realidade e a tua fantasia imaginária. Não entro no teu filme. Não entro nessa piada porque lhe sinto ódio do que te fez e te faz sem saber.
- Não... eu tenho é ódio de mim porque eu devia lhe ajudar agora ela parece precisa e eu eu estou aqui a gastar o tempo a te contar e tu ainda refilas parece tens razão. acho lhe ia começar a sair fogo dos olhos.
- Jota, intervala desse pesadelo e me ouve. É bom que sintas ódio porque antes ódio que indiferença. Tu tens cada recaída que até parece cais do abismo.
- Não, não. Eu vivo bem sem ela. Me custa é lhe ver sofrer.
- Numa fotografia que nem sabes quando foi tirada consegues saber que ela está a sofrer agora? Vai-te catar! disse eu já sem a paciência que me caracteriza na matéria de ajudar e ouvir os amigos.
- Eu não voltei atrás. Eu estou bem. Mas na foto ela não está. Lhe conheço bem. 
- Te mete num avião e vai lá e lhe diz tudo.
- Tás doido? Nunca! O que ela me fez?
- Tás a ver. Agora estás a dar-me razão! disse eu no meu jeitinho de lhe criar uma nova explosão.
- Ela sofre e eu tenho de lhe ajudar. Me ajuda a arranjar uma maneira de ajudar sem parecer que eu estou a ajudar. me disse ele como se eu fosse o rei do problema.
Olhei em redor, procurei migalhas de carinho pelo chão, procurei bolas de amor, sorrisos de simpatia e arranjei qualquer coisa que lhe atirei na cara:
- Ela é a actriz principal dum filme que nunca foi filmado e que só existe na tua cabeça, ela é o bicho que te consome devagar, o fado triste que vives. filosofei do alto da minha cátedra, como ouvi à dias um mais velho falar.
Ele me atirou outro olhar de raiva, momento em que pensei é agora que vou levar porrada que nunca mais me endireito.
- Mermão Jotajota, leva com calma, ela te destruiu, ela é a dona das tuas curvas inclinadas, do teu olhar pesado, da tua boca sem sorriso e tu agora te viras contra mim?
- Camba, desculpa mesmo, é que às vezes a vontade de ressuscitar às vezes é maior que a verdade real.
Me calei, demos um abraço, e fomos beber umas e outras.
- Mermão, estávamos a falar mesmo de quê?
- Deixa para lá que já nem me lembro.
- Mas te pergunto então agora o que é que tu tens?
- Nada. resposta pronta, rápida que até parecia estava a pedir para sair.
- Desculpa há alguma coisa de errado. Para a gente vir para os copos é porque tinha qualquer coisa.
- Não tenho nada e é isso que está errado. O nada que eu tenho me machuca mais que qualquer coisa
Foi então que eu decidi ir para casa, tomar uns sais de frutos, ouvir um semba e quem sabe à noite eu ia ser rei



Sanzalando

2 de dezembro de 2013

tempo médico

Me disseram assim num tipo é segredo e eu só estou a contar aos meus mil melhores amigos: o tempo cura tudo!
Mas não tem quem foi que me disse que o tempo não cura o tempo que perdi a ver o tempo passar para curar seja o que é que é.
Vou esperar haja tempo para recuperar o tempo.

Sanzalando

1 de dezembro de 2013

Sanzalacine -

Sanzalando

pinto palavras em branco

Olho para a página em branco e digo-me é hoje que vou escrever como é que deve ser. Escrever sério e que tenha gente que vai entender o meu engatilhar de palavras sem imaginar eu enlouquei ou me perdi no labirinto da imaginação. Vou escrever palavras como quem vai desenhar um quadro. 
Penso na ideia. Rebusco sonhos. E a mona continua lisa, sem saber qual a primeira palavra que devo escrever. 
Sai-me um grito. Desespero. Não há anunciação de estória, tema ou coisa que o valha. 
Abstraio-me. Abstracto. Substrato. Nada.
Flores. Girassois. 
Ficam apenas palavras simples na folha de papel em branco.
Ainda não é hoje que vou escrever sério, assim num modo de dizer coisas que valham a pena. Infância. Nada. Branco continuo.
Perdi as palavras, apaguei os sonhos e fica a ideia com a intenção. 



Sanzalando

30 de novembro de 2013

palavras cruzadas

Porque penso? Porque teimo em deixar palavras dispersas por aí? Porque insisto em buscar sentimentos, idolatrar nostalgias ou choramingar saudades? Porque me perto em letras, silabas e palavras?
Não há charme que resista à inconveniência das palavras simples, mal escritas, mal desenhadas, mal colocadas. Insisto na busca da perfeição, na frase filosofal da minha vida, na pedra charneira dum rumo desenhado ao acaso na anarquia dum destino. Tudo palavras! Às vezes imperceptíveis e outras tantas loucamente desvairadas.
Porque penso?
Sou um erro ortográfico duma cópia da primária. Uma redacção por escrever ou uma fórmula matemática por resolver.
Palavra puxa palavra e me perco no desejo de ter um gosto que goste e consiga dizer. 
Gosto de ti. Simples e directo. Gaguejo no pensamento e corei na alma. Simples e verdadeiro.
Palavras. Apenas palavras das paginas simples dum dicionário não ilustrado.
Porque penso? Insisto! Porque o amor é para sempre até ao momento em que deixa de o ser? 
Desenho palavras porque não sei desenhar desenhos de verdade. E palavras sei? Tento. Chorar sei? Choro. 
Palavra que só estou a tentar aprender a escrever uma alma penada, panada ou peneirada na rede fina da vida, como um destino fatal abraçado a um instinto final.


Sanzalando

29 de novembro de 2013

Palavra as palavras

Troco palavras como quem troca cromos. Tenho tantas frases repetidas, tantas ideias sonhadas, tantos sonhos apagados, tantas coisas que as palavras não sabem nem dizer. Devem ser palavras com letras mudas ou mesmo mortas. Se eu soubesse mais palavras que as palavras simples talvez eu não as trocasse, talvez eu as coleccionasse numa grande caixa de sapatos, bem catalogadas, com fitinhas a separar que podiam, ser virgulas ou uma ou outra interrogação.
Troco palavras como se fosse disléxico, de ideias e conceitos, formas e preconceitos. Eu podia arranjar palavras para dizer que já vi muito amor virtual mais verdadeiro que o real. E segurava as palavras mais como? Em base em quê? Na forma de quê?
Palavras que me confundem na fusão de frases, parágrafos e outras formas que tais. 
Eu olhei-a e tive um ataque no coração. Ela só pode ser coisas ruim pois coisa boa não faz nem metade disso. Faz só assim um corar e ter risinho de parvo. Junto palavras para tentar dizer coisas, para ver se consigo descrever sentires. Mas as palavras são tão poucas e ainda por cima as troco.


Sanzalando

28 de novembro de 2013

FLOAT down

Sanzalando

sentimento, palavra

Olhei para todas as palavras que um dia eu possa ter escrito. Contei uma a uma e desisti às tantas porque a palavra que mais devo ter escrito era a que se lê: sentimentos. Assim mesmo, sentimento! Foi aí nesse instante que eu dei comigo a dizer que o humano não pode ter saudade do que nunca teve. Olhei em frente e fiz a cara de maior espanto e deduzi que deve ser loucura sentir alguma coisa do que não se teve. Se não teve não perdeu, portanto esse tal de sentimento saudade e absurdo. Maior espanto ainda acabei por fazer depois ao pensar que eu tinha pensado tanto.
Voltei às palavras mas o pensamento ficou a esmurrar no dilema e a dizer que à noite ia ficar sem sono a tentar perceber essa minha descoberta. Como posso sentir alguma coisa que não sendo minha eu nunca posso saber quando a perdi porque não a perdi de facto? Compliquei-me, disse em voz alta já saturado de mim. É o mesmo que eu sentir falta do futuro. Como posso sentir falta dessa coisa que eu não sei se existe ainda?
Acho que nunca pensei tanto como penso agora por causa da palavra sentimento.
Eu não tenho sentimentos, eu quero dormir à noite.
Eu posso ter saudade do que nunca tive, porque essa coisa que nunca tive ao certo já me teve a mim.
Virei para o lado e adormeci.


Sanzalando

27 de novembro de 2013

As plavras da vida

Vou alinhando as palavras tentando descobrir o sentido da vida. Alinho-as por fases como se eu fosse a lua estando agora num talvez quarto crescente. Eu sei que elas não têm a cor do luar nem são enfeitadas por cintilantes estrelas. Mas são as minhas palavras, com as que quero um dia, depois de aprender, escrever a vida, sabendo que esta é feita por momentos, os que passamos a rir ou a chorar e que fazem parte de todo o nosso crescimento, amadurecimento e se calhar endurecimento.
Alinho as palavras simples, as que uso no dia a dia, sem canteiros de flor ou outros floreados, porque o que eu não quero 'e esquecer que nesta vida nada é por acaso. Absolutamente nada.
Eu sei que nem sempre ela segue o caminho que eu tinha vontade de seguir. Por isso ela não é perfeita ou eu ainda não encontrei as palavras certas para a escrever

Sanzalando

26 de novembro de 2013

tentar eu tento

Tento ler cada palavra que penso, num modo de não dar erros de imaginação ou ter interpretações rasuradas. Custa apagar a primeira impressão, mesmo que as tintas não sejam à base de chumbo ou coisa que lhes valha, quando gravadas na memória. É só mesmo necessário abrir os olhos e perceber que dentro de nós estão armazenadas também coisas boas, existem prateleiras cujos arquivos sentimentais não precisam de motivo nem os desejos de razão.
Tento ver onde pára a felicidade, se em palavras, se em acções ou qualquer outra estação onde o bilhete me possa levar lendo nas linhas que o descarrilamento seria mero acidente e coisa rara nos tempos de hoje.
Tento ver em cada palavra se não há rancor, dor ou outra coisa pior que não amor. Tento seguir em frente porque sou fraco, fraco o bastante para não conseguir ter ódio dentro de mim.
Tento ler as palavras que não escrevi com medo de chorar amores perfeitos que murcharam num jardim de primavera.
Tento ver as letras de cada palavra e ver se existe uma estação que se chame AMOR. 
Paixão, ódio, saudade, sexo, ajuntamento, casamento, desejo, ganância, são afinal comboios que param na mesma estação.
Tento ver se existe um apeadeiro que não tenha mapa, nem linha, nem erros de imaginação, nem leve a interpretações rasuradas ou mesmo apagadas por uma borracha de má qualidade.
Tento apagar da memória as palavras tatuadas por agulhas imperfeitas de mau feitio.



Sanzalando

25 de novembro de 2013

Reflexões facebookianas (29)

A saudade é tanta que ela não bate, espanca. JCCarranca reflectindo enquanto arruma a roupa de verão

Ansiar por amanhã é uma forma de nostalgia. JCCarranca reflectindo enquanto acende a lareira

Entre o pensamento e a responsabilidade escolhi ambos. JCCarranca reflectindo enquanto sonha com bruxas

Tenho alturas que me apetece fazer o tempo voltar para trás e apagar tanta tristeza, mas tenho medo de apagar também muita alegria. JCCarranca reflectindo enquanto olha para o mapa das constelações

Tudo acontece no tempo certo. JCCarranca reflectindo em que dia está

Sintro o trinar da guitarra enquanto lacrimejo saudade de amor. JCCarranca reflectindo enquanto revê o ar dos pneus da bicicleta

A leveza do pensamento deixa-me tranquilo. JCCarranca reflectindo enquanto saboreia um leitão assado no forno

Eu devia ter nascido do avesso. São tão bom no intímo. JCCarranca reflectindo enquanto faz o almoço

Sempre ouvi que devemos amar o próximo. JCCarranca refectindo porque o anterior não deu certo

  • Sanzalando

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24 de novembro de 2013

Sanzalacine - the pig

Sanzalando

um dia, sozinho

Um dia, sozinho, fecharei os olhos e não conseguirei ver nada, nem passado nem futuro. Tentarei lembrar-me de números de telefone, mas as memórias electrónicas apagaram-me a memória física e eu não terei nenhum número para marcar. Usarei boca para chamar, mas os solidários, nem esses estarão por perto. Ficarei por ali sem um abraço, sem uma voz doce, sem uma carícia nos grisalhos cabelos, mesmo que o mundo me continue a girar.
Um dia, sozinho, tentarei lembrar-me do sorriso infantil, da minha capa exterior, do mau feitio que me saiu na rifa, na gargalhada que não dei apenas para não dar ideias e nessa fracção de segundo verei que desabou o chão por de baixo dos meus pés.
Um dia, sozinho, olharei e verei tudo embrulhado em saudade, ouvirei o som de telefone impedido, sentirei a fome chamada tristeza e ensoparei a mágoa nas lágrimas que me ardem ao escorrer na cara.
Um dia, sozinho, lembrar-me-ei do tempo em que falava.


Sanzalando

23 de novembro de 2013

Recado para ninguém que vale menos que um vintém

Eu não sei se me preocupava muito com o que queria ser quando fosse grande, quando crescesse. Não sei se queria ser importante. As coisas acontecem. As que eu não esperava aconteceram e muitas outras irão acontecer ou não. Não sei hoje, que sou crescido, se me importo com isso. Sei mesmo é que o que sempre me preocupou foi o eu ser eu mesmo. Mudei de feições, mudei de peso, vou mudando de altura e largura mas ainda assim continuo a ser euzinho, que espero para sempre.
Tem gente, mal formada de nascença mas sem culpa dos pais, que já não pode nem falar o mesmo. Tem gente pensa a vida é o esconde esconde e bate e foge. Mas a vida lhes marca e não lhes deixa dormir tranquilamente. Tem gente que apenasmente é feia, por dentro e por fora, se é que tem alguma coisa dentro. Deve ser do eixo da terra, inclinado, que lhes inclinou a inteligência para o vazio de lado nenhum.
Euzinho, frontal, continuo vertical sem andar de quatro nem com orelhas que não são de humano.
Deixei o recado, em papel pardo e sem cara de parvo apenas de espanto por ter demorado tanto.
Tem gente que nem merece um olhar quanto mais o tempo de perder tempo a olhar.
Para sempre, João Carlos Carranca, euzinho de corpo inteiro e alma tranquila.



Sanzalando

22 de novembro de 2013

soletramente

Soletro palavras que choro, porque as quero tanto e as não tenho. Quando me faltam as palavras eu morro e se as sinto faltar, sinto que morro a seguir. Como eu conseguiria viver tantos anos quantos os que quero ainda se não tiver palavras para soletrar?
Só as palavras me entendem, só as palavras sabem a saudade que eu transporto, só elas sabem o que é a nostalgia do tédio e a maratona sob sol escaldante dum desamor errante.
A palavra é a sombra que me refresca, a água que me mata a sede, o primeiro passo da manhã da vida.
Sem palavras sou uma estátua, bronze esculpido no desentendimento, partida asa dum anjo de luz apagada.
Soletro palavras com medo de as acabar e entrar nas valetas escuras da vida, na angúistia particular de não ser quem sou, de perder o estômago pelos olhos.
Soletro palavras com medo de deixar de ser quem sou.

Sanzalando

21 de novembro de 2013

soletrar palavras

Deixei arrefecer o café. Não acendi um cigarro porque faz tempo deixei de o fazer. Mas continuo aqui nesta incontrolável vontade de soletrar palavras até que um dia eu as consiga escrever na forma e no jeito que devem ser escritas. Saberão a saudade, nostalgia, dor ou alegria? Não sei, ainda aqui estou insuportavelmente a lembrar-me de fechar a sete chaves a minha memória e talvez assim deixar de soletrar as palavras que não me dão de comer mas muitas vezes de chorar.
Pego noutro café, bebo dum trago como se ele fosse a alegria que não quero deixar arrefecer outra vez. Me sinto em paz mesmo que sinta que que vou apagando aos poucos o brilho dos meus olhos. Não quero virar oposto nem ter o desgosto de te dar um gosto que goste. Não quero esbarrar na rua com memórias sombrias feitas possas de nadas, calcetadas de mentiras e pintadas de falsas alegrias.
Se eu tivesse um cigarro desfazia-o na ponta dos dedos como se ele fosse uma mentira de verão, uma máscara de ilusão ou um truque de magia.
Aqui estou eu a soletrar palavras num solilóquio de desgraça, num mar de lágrimas como se estivesse tentado a vender-me por troca duma compaixão.
Não, estou mesmo só a treinar palavras, frases, virgulas e reticências para me esquecer doutras incontinências verbais.
Esquecer não é de facto tarefa fácil. 


Sanzalando

20 de novembro de 2013

silêncio meu

Me gritam lá de longe: acordaaaaaaaaaaa!
É óbvio que quem o faz me gosta, de contrário me ia deixar para ali a dormir, não importa que horas são ou vão ser. Importante que essa voz me deu espaço. Gritou de longe, comecei eu. Já sei que essa voz me irrita, já sei que lhe faço zangar e por vezes chega mesmo  no chorar. Mas eu sei que essa voz vai estar sempre comigo. Umas vezes encostadinha no meu ouvido, outras nem lhe ouço se não de imaginação. Essa voz não é obsessiva, é mesmo só preocupação. 
Essa voz é minha. A minha voz me irrita mesmo quando me grito em silêncio, converso calado ou soletro palavras mudas.
Me gritam outra vez: acordaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Olho para todos os lados para ver se vejo quem me imita num escondido recanto da memória. Não. Estou só no raio da minha visão e não me sinto olhado nem de longe.
É a minha voz que me quer acordar deste silêncio, que me quer arrancar palavras e me ouvir dizer que amor de verdade não é solidão de caminhar mas pode ser de complementar.
Como me irrita a minha voz, a voz bonita de estar calado.


Sanzalando

19 de novembro de 2013

silêncio do paradoxo

Apetece-me ficar sentado em silêncio. Não no silêncio dos inocentes, apenas no meu interiorizado silêncio porque quero contemplar o que me rodeia.
Acho que a vida inteira andam a tentar-me ensinar isso e eu desaprendo como que a não dar importância  neste agora, terei tempo mais logo. Pensava eu que só os velhos o conseguem. Afinal de contas eu já consigo ficar nesse sentado, num sem dizer nada mesmo que sorria de contentamento.
Achei sempre que ser jovem seria ser irrequieto e impaciente e ter coragem de combater o silêncio.
Hoje acho-o sagrado. Aproxima-me das pessoas. Sorriem-me pessoas, gente de olhar alegre e voz doce.
Que paradoxo.
Eu e o silêncio. Eu e a idade. Eu e eu mesmo.


Sanzalando

18 de novembro de 2013

Rosa palavra simples

Um nome chamado Rosa.  A rosa nunca é só uma rosa, porque ela pode ser decoração, pode ser flor de jardim, delicadeza ou mesmo declaração de amor.  Rosa pode ser Mulher e como todas as mulheres pode ser chata, carinhosa, amorosa, espinhosa e tantas dores apenas porque é Rosa. Rosa se for linda poderia ser Rosalinda dos meus amores. Um nome que é Rosa a rainha das flores. Hoje me apeteceu brincar com a Rosa, amanhã quem sabe estarei num canto livremente a chorar porque não tenho uma Rosa. Mas hoje a Rosa que não me leve a mal.

Sanzalando

17 de novembro de 2013

afinal quem não sente saudade?

Afinal de contas quem não sente saudade? Deitado no sofá, lá fora está frio, aquele ar e luz de inverno que ainda não chegou, a memória ferve com memórias que vêm à cabeça. A infância, aproveitando aqueles dias raros de chuva quente, de calções brincando ao foge do pingo até que todo o corpo era um pingo autentico. Aquela água entrando até aos ossos, chapinhar nas esquinas que tinham autênticos lagos citadinos. Ou lembrar aquele vizinha ou os amigos que já foram. A adolescência, os profs, as brincadeiras de bom e mau gosto. Tanta coisa fervilhando. Depois nasceu o amor. Amores imperfeitos. O primeiro beijo. A primeira euforia que deu insónia. Depois a idade mais madura em que coisas são deixadas de lado para ocupar com outras coisas e aí começa a haver passado e sonhos de futuro.
Afinal quem não sente saudade?
Amanhã, num qualquer amanhã, vos direi se não sinto saudade do hoje que soletro estas letras sentido saudade de saber que o presente é apenas o elo entre o passado e o futuro


Sanzalando

Sanzalacine - FMX 2013

Sanzalando

Bordemareando ao domingo a 10 graus

Sanzalando









































16 de novembro de 2013

Recordar outros escritos (6)

faz tempo 03-11-2003 18:48 Forum: Liceu Américo Tomás

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Hoje é Sabado e estamos em Março. Passei mesmo o dia na praia. Também não foi o dia todo, porque de manhã tive que dormir o que não dormi de noite. Um homem não é de ferro.
Ontem á noite, depois do jantar fui beber uma bica na Oásis. Quem tava lá? Os mesmos de sempre. Na mesa da esquina estavam os cotas: Trintade da Alfândega, o pai do Mané, o Figueira das Amêijoas. Parece mesmo que só estavam esses. Na nossa mesa além de eu próprio, estava o Moreira, o Fisga, o Vitor, o Figueira da Farmácia, o Grilo e o Reis, filho do dono. Despude de estar ali. Às 21 tinha que ir trabalhar no RCM. Sai na hora da Cinderela e ainda fui na Feira. Tá mesmo calor...Mapundeiras de mini-saia tá bué. Passa para lá, passa para cá. Fui no Cardin ver a música. Tá assi de gente não dá para ver nada. Cabeças de Peixe e mapundeiros tem não como ver diferença. Num dá ficar aqui. Fui comer um cachorro-quente na barraca do Ferrão. Hummmmm que delícia.
Puto Gimba, onde vais? Vou pro Cardin, tá lá a malta toda. Esse tá no Tchivinguiro desconsegue ficar comigo. Tem outra tribo. Fico mesmo aqui sentado no palco do cinema da praia ver quem passa. Apareceu Amorim e Vitória Pereira. Vamos tocar música na areia. Vamos é forte, porque se abro a boca para cantar me dão porrada, e tocar na viola só mesmo para mudar de lugar. Eu diz que música eles tocam e cantam. Sai Francisco Fanhais que Vitória Pereira canta. Sai Adriano Correia de Oliveira para o Amorim. Boa música mesmo. Vou buscar cervejas. Ali ficamos na musica e cucando. Umas atrás das outras. Hoje não tou virado para as mapundeiras. Elas nunca olham para mim, mesmo. Pessoal não vou suplicar.
Isto foi ontem que era sexta-feira, porque hoje que é Sábado eu estou na frente do Clube Nautico. Tém baile. Já vi passar o Walter Frota, o Calinhas, o Pardal, Alexandre Miranda, sei lá mais. Sei que passaram bué de pré-kotas e muitos outros que são kotas e levam as filhas a tiracolo. Todos vestindo roupa de Domingo. Lá dentro está o Bonvalot tocando bateria, Nelson que tocava acordeão agora está moderno porque toca orgão, na viola-baixo desqueci o nome, e a cantar está o Ricardo Costa. Acho que são os Tropical. Com estas noitadas de Março a cabeça já vai dando fraqueza. Hoje não tocam os ferroviários com o Matos ao saxofene - é ele que com o instrumento diz quando começa a música e quando acaba - e o Minas a cantar - Deixa o meu cabelo em Paz, o Sousa Santos no baixo. Hoje são os velhotes. Entrou agora o Dr. Brandão e família, o Júlio Santos, mulher e filha. Eu também queria entrar. Me dizem que putos de calção não entram não e eu não tenho roupa de domingo para vestir no sábado à noite. Távam a pensar que este mundo é justo? Não é não. Meu coração bate que nem cabe no peito e estes gajos não vão deixar entrar? Espera aí que já vais ver como é...
Olha o Osório também vai na farra. Vem com a irmã. Olha a Aura e a Jusa. Todos estão a entrar e o filho da lavadeira fica aqui fora? o Tchifufa e o Cláudio Frota também tão a entar. Este mundo não está justo, não.
Tanta geração lá dentro que não me interessa se foi tudo no mesmo Sábado ou no mesmo Março. Me interssa sim, que aconteceu e eles se lembram, mesmo que eu não me lembre já se entrei ou desconsegui. Mas isso era outra estória num outro março da vida.


Sanzalando

15 de novembro de 2013

59 - Estórias no Sofá - filósofo de trazer por casa

Hoje me sentei na mesa do café com um amigo que é daqueles que desde que acorda até na hora de dormir que nem máquina de vapor, tem paleio para dar e vender. Lhe conheço desde os tempos dos calções do dia a dia, dos nonkacos e dos cigarros fumados às escondidas para parece é homem de barba que ainda não nasceu. Lhe comecei a ouvir.
Eu me sento na vida e desconsigo saber quando é que a minha estória vai passar de esquecível para inesquecível. Eu sei só que tem pedaços dela que são. Pelo menos para mim. Mais não importa. Não sou bonito e também não sou feio e acho estudos científicos já mostraram que isso é relativo, subjectivo e se eu fosse filósofo de verdade eu acho que até acrescentaria que era uma desnecessidade pensar nisso. Não sou rico no dinheiro contado, mas sou rico noutras áreas que não interessa aqui mandar a despacho. Simples sou e se perguntassem o que eu acho mais importante, mais valioso, mais fundamental etc e tal, eu diria assim num quase sem pensar que era a mulher dos meus sonhos, a mulher da minha vida. Mas na verdade acho eu não ia ser honesto a esse ponto e se calhar dizia outra coisa qualquer que nascesse num sem pensar mesmo.
Fosse eu filósofo e justificava a minha primeira afirmação, num perentóriamente errado porque, sendo triste, porém verdade, o amor tem dias que se perde a fé nele. Os humanos são ingénuos porque acreditam no amor que querem acreditar e isso num espaço temporal limitado até que é bonito, cheio de florinhas e luzes cintilantes. A gente mistura fantasia no amor e dá uma salada de filmes, livros e realidades, temperados com gargalhadas, sais de raiva e ervas de morte.
Eu, Joaquim Felício das Naves, filósofo de trazer por casa e até aos anexos, não acredito na estória daqueles que se encontram num deserto da vida, se olham e logo ali tem uma seta atirado pelo tal de esculpido e afirma é o amor da minha vida. Não estou a dizer que é impossível. Eu só estou a filosofar se eu fosse filósofo de verdade. Não sei em qual olhar é que acontece o tal de amor. Ao décimo oitavo? Sei lá. Eu acho que ele aparece quando se pensa que ele não vai aparecer. O amor é como aquele convidado da festa, aquele especial. Chega atrasado. Mas dizem que vem sempre. Outra verdade absoluta que eu desconsigo de aceitar assim numa primeira e também segunda impressão.
Aqui o Joaquim das Naves, Felício para os amigos, só sabe que ninguém é de ferro e tem conhecimentos para dizer que dói cair na ilusão e se levantar duma qualquer fantasia. Por isso sei, de saber lido, que solidão se escreve ao acordar sozinho na rotina. Mas também sei que amor não é bóia de salvação nem opção de sobrevivência. Eu posso dizer, agarrado nos conhecimentos adquiridos nos livros lidos nas estantes da imaginação, que quem pensa que o amor é eterno e depois chora lágrimas vai passar uns tempos em que a sua vida não é vivida mas apenas um passar tempo. Acho estou no cinema a ver a vida a passar e apetece gritar à garina ou ao galã que lhe faz falta alguém para brigar, alguém que pinte o cenário de cores diferentes em cada dia que passa.
Eu reafirmo que felicidade não é apenas uma palavra e amor não é só dor e decepção. Atenção que eu estou a falar-vos com conhecimentos adquiridos nas mais importantes bibliotecas do mundo e arredores. 
Eu, Joaquim Felício das Naves reafirmo com toda a propriedade que a solidão deve ser vivida pelo menos em duas partes iguais.
Cansado me levantei do café e tinha esquecido porque é que eu tinha nascido. Quim das Naves Espaciais, homem maduro agora era igual ao kandengue, falava que nem letras comia. Com o tempo se lhe gastou o cabelo que os que sobraram eram raros muito brancos que nem neve, as rugas marcadas pelo sol dos dias passados nos bancos vadios dos jardins publicos e reforçadas pelos desencontros de amor nascidos nos esquecimentos.



Sanzalando

14 de novembro de 2013

Reflexões facebookianas (28)

Tudo não é mais que um instante. JCCarranca reflectindo enquanto olha para um sinal de trânsito que diz stop

Todos os caminhos vão dar a lado nenhum se não te mexeres. JCCarranca reflectindo enquanto saboreia uma bica

Posso gostar mais ou menos, viver mais ou menos mas não quero ser um mais ou menos. JCCarranca reflectindo num banco de jardim numa noite mais ou menos

Nenhum projecto está acabado até que alguém o use. JCCarranca reflectindo enquanto programa a volta ao mundo dos sonhos

Sou um projecto inacabado. JCCarranca reflectindo enquanto espera boleia

Sinto necessidade absurda de ir para um lugar que eu nem imagino qual seja. JCCarranca reflectindo enquanto olha de lado para o sofá

Quando te conto um sonho te escondo milhares deles. JCCarranca reflectindo em silêncio


Sanzalando