Eu só podia dizer, visto daqui neste agora, eu estava doente de amor. Já não era choro de alguns dias, já não era saudade de uma noite. Era mesmo paixão de caixão a cova. Eu tinha uma enfermidade. Só podia.
Deitava-me a pensar nela e ao acordar eu lhe olhava na minha imaginação espelhada na memória e me sorria feliz. Tinha ganho uma noite para o resto da minha vida. Era assim a minha felicidade matinal. Com rigor me preparava para ir para o liceu e aí sim podia usufruir dela, da imagem dela em tempo real e verdadeira.
A minha vida, caótica e desajeitada estava a dar lugar a uma arrumação até por mim duvidada. Estava com a cabeça em ordem. Tinha encontrado a minha porta para o céu nos teus braços. Minha timidez e o meu medo me impediam de te dizer. Te olhava e te admirava.
Um dia, após tantos de admiração e perseguição de olhares e saberes de onde estavas e por onde passavas, me disseste sorrindo que ias mudar para a casa ao lado da minha.
Nesse dia, tu não sabes, deixou de haver tempestades, infernos ou fantasmas. Eu, acho agora, encontrei a felicidade. O meu corpo sofreu um tremor de interiores que nunca mais teve reparação possível. Eu encontrei a porta para a eternidade, pensava eu.
Quando comecei a ver a movimentação de mudança, a rua que passara a estar deserta em fim de tarde reabriu-se ao publico. Já não havia esplanada ao fim de tarde. Já não havia bilhar nem perde paga. Eu regressei à minha rua. Rejuvenesci a minha rua porque trouxe o Douglas, Fonsecas os Martins todos para a rua outra vez. Qual Fénix qual quê?! Fui eu quem regressou à vida e a minha rua veio comigo.
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