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5 de abril de 2021

primaverou-se o cérebro 15

Eu só podia dizer, visto daqui neste agora, eu estava doente de amor. Já não era choro de alguns dias, já não era saudade de uma noite. Era mesmo paixão de caixão a cova. Eu tinha uma enfermidade. Só podia. 
Deitava-me a pensar nela e ao acordar eu lhe olhava na minha imaginação espelhada na memória e me sorria feliz. Tinha ganho uma noite para o resto da minha vida. Era assim a minha felicidade matinal. Com rigor me preparava para ir para o liceu e aí sim podia usufruir dela, da imagem dela em tempo real e verdadeira.
A minha vida, caótica e desajeitada estava a dar lugar a uma arrumação até por mim duvidada. Estava com a cabeça em ordem. Tinha encontrado a minha porta para o céu nos teus braços. Minha timidez e o meu medo me impediam de te dizer. Te olhava e te admirava. 
Um dia, após tantos de admiração e perseguição de olhares e saberes de onde estavas e por onde passavas, me disseste sorrindo que ias mudar para a casa ao lado da minha.
Nesse dia, tu não sabes, deixou de haver tempestades, infernos ou fantasmas. Eu, acho agora, encontrei a felicidade. O meu corpo sofreu um tremor de interiores que nunca mais teve reparação possível. Eu encontrei a porta para a eternidade, pensava eu.
Quando comecei a ver a movimentação de mudança, a rua que passara a estar deserta em fim de tarde reabriu-se ao publico. Já não havia esplanada ao fim de tarde. Já não havia bilhar nem perde paga. Eu regressei à minha rua. Rejuvenesci a minha rua porque trouxe o Douglas, Fonsecas os Martins todos para a rua outra vez. Qual Fénix qual quê?! Fui eu quem regressou à vida e a minha rua veio comigo.


Sanzalando

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