recomeça o futuro sem esquecer o passado

Podcasts no Spotify

30 de abril de 2021

primaverou-se o cérebro 38

Apesar de todos os azares ainda continuo a falar-te mais do mesmo. 
Fixação, chatice, embirração ou falta de saber mais, porque não? Mas é sempre um falar de nós, das lágrimas que te chorei, das palavras que não te disse, das vidas que não te tive e das que gastei. 
Bater sempre na mesma tecla como se fosse uma música monocórdica, uma ferida crónica por sarar. Queria aprender a falar-me de outras coisas, dizer coisas ao mundo, em forma de estória, caderno ou sei lá, mas mal começo e tu estás ali, entrelinhas, nas linhas ou na página branca da minha memória desarrumando qualquer pensamento mais lógico ou frio que eu queira ter.
Fiz-me tantas promessas que não passaram de palavras atiradas a abismos de memória, tal como se eu ainda atirasse pedras da falésia a ver se chegavam ao mar e nem à estrada alguma chegou. Sem+pre fui um azelha na forma de atirar ou de me atirar às coisas.
Juro que eu tento não falar de ti nem de nós. Juro que pedi vezes sem conta a minha independência, mas as estâncias superiores da minha fixação não me a deram. Quis ser tantas coisas diferentes de ti mas o mais longe que consegui estar foi estares dentro do meu pensamento. Como seria se eu tivesse alguma vez entrado no teu pensamento?
Ando para a frente e para trás, o meu quarto tornou-se pequeno porque a minha inquietude engrandeceu. Todos sabem o que quero falar e eu não sei nem como começar nem como acabar. Tu, sempre!
Da janela vejo os pássaros, alguns sei são beija-flôr e outros lhes baptizei de pardal porque nomes não sei, mas nem eles me conseguem distrair as palavras que falam de ti. O meu mundo pelos vistos não tem opção. Talvez no futuro, que eu ainda desconheço.
Monocordicamente escrevo uma canção e ouço um piano nostálgico vezes sem conta nas palavras que te falo.
Não é um drama, é somente uma vontade de gritar que quero ser eu, mais nada.
Queria apenas um abraço. Dos infindáveis, entenda-se. Adia-se.
Onde deixei o cigarro?
Já não fumo, é verdade. Mas as palavras continuam a ser as mesmas.

Sanzalando

Sem comentários:

Enviar um comentário